Rememória: Entrevistas sobre o Brasil do século XX
Livro que reúne entrevistas publicadas nos últimos dez anos pela revista Teoria e Debate, resgatando importantes testemunhos sobre a história dos movimentos sociais no Brasil. Entrevistas com Antonio Candido, Paulo Freire, Goffredo Telles Júnior, D. Pedro Casaldáliga, Betinho, Fúlvio Abramo, Apolonio de Carvalho, Jacob Gorender, Florestan Fernandes, Lélia Abramo, Vladimir Palmeira, entre outros.
Apresentação
Este livro reúne algumas das entrevistas publicadas na seção Memória da revista Teoria e Debate. O leitor pode ter certeza: nos depoimentos que elas contêm, depoimentos de personagens da luta socialista no Brasil, há alguns capítulos importantes da nossa história. São documentos históricos, portanto, com a vantagem do coloquialismo das boas conversas. Assim, o assunto é às vezes denso e tenso, mas a leitura é leve.
Vale aqui também um pouco da história da própria revista de onde foram tirados os depoimentos. Teoria e Debate nasceu em 1987 como revista trimestral do diretório paulista do Partido dos Trabalhadores, com a missão de ser um veículo para a elaboração, a discussão e a memória da esquerda brasileira. Ao longo dos dez anos que se seguiram, ela prosperou, atingindo em certos períodos a circulação de 20 mil exemplares. Uma surpresa para muita gente. “Revista de esquerda?”, diziam, “não passa do segundo número”. Outros cuidavam de alertar nossos ânimos juvenis: “Ih, eu mesmo já perdi as contas das revistas que ajudei a fundar.” Felizmente, nem todos eram desanimados com projetos editoriais naquele ano de 1987. Perseu Abramo (1929-1996) e Eder Sader (1941 -1988) estavam entre os integrantes do primeiro conselho de redação da revista. Sem a confiança dos dois, Teoria e Debate jamais existiria. O engraçado é que, logo que ela se consolidou, vieram os elogios mais engraçados: “Puxa, nem parece do PT.” E, mais engraçado ainda: não parecia mesmo.
Outra proeza de Teoria e Debate foi o que podemos chamar de realização negativa. Explicando: ao contrário de inúmeros outros setores da esquerda mundial, ela não perdeu o rumo. Agora, olhando para trás, a gente vê que ela quase não se afastou de sua missão. No campo da memória, principalmente. Esta revista contou em primeira mão alguns pedaços da história do Brasil. Por isso, este é um livro útil, justo e bom. Que o exemplo moral dos entrevistados desta Rememória nos ajude a viver de cabeça erguida, e que a biografia deles nos aclare no trato dos problemas contemporâneos. E que todos nos abençoem.
Eugênio Bucci, jornalista