Reexistir: apontamentos da articulação entre cultura e política de periferias
A Fundação Perseu Abramo apresenta o primeiro número do Dossiê Temático Periferias com o título Reexistir: apontamentos da articulação entre cultura e política de periferias. O Dossiê é parte do Projeto Reconexão Periferias, que tem por objetivo desenvolver atividades conjuntas entre a Fundação e o Partido dos Trabalhadores com os movimentos sociais atuantes nas periferias, através de ações de comunicação, debates, produção de conhecimentos etc.
O Dossiê Periferias compõe uma das estratégias de difusão do projeto que visa alinhar o estado da arte da temática considerando as narrativas dos atores, dos movimentos sociais e grupos afetados pela campo discutido e a produção bibliográfica existente sobre o tema, considerando pontos de convergência, pontos de divergência, vácuos e desafios a serem trabalhados. Sua elaboração será feita a partir de discussões coletivas e diálogo com as pesquisas do projeto Reconexão Periferias. Além disso, a partir dos conteúdos apresentados, busca trazer três cenários possíveis:
- Cenário vigente, onde apresenta-se o percurso do tema e os resultados esperados se continuarmos no mesmo caminho;
- Cenário projetado com o avanço do conservadorismo e as problemáticas decorrentes;
- Cenário ideal, que deveria orientar as políticas públicas conforme perspectivas progressistas. Esta última explora teses vigentes e uma projeção com a implementação das mesmas.
Este número de abertura estabelece as bases teóricas e políticas para o debate sobre cultura política frente a dois desafios centrais para as esquerdas: um processo de democratização interrompido pelo golpe e uma nova configuração de classes sociais sobre a qual o conservadorismo parece encontrar cada vez mais espaço. As autoras fazem uma ampla discussão sobre o que já foi dito sobre o assunto e analisam as mais recentes movimentações ativistas nas periferias. O que se revela é um conjunto de sínteses que derrubam falsos dilemas: a luta contra o machismo, contra o racismo e contra o capitalismo é feito de modo articulado com noções de raça, classe e gênero a partir da vivência cotidiana nos territórios. A articulação por meio dos coletivos culturais agrega inúmeras pautas – cultura, mobilidade, educação, habitação, direitos humanos – e esta articulação é que permite o enfrentamento às estruturas de poder e opressão. Assim, se há avanço do conservadorismo, o apelo pela retomada e nova radicalização da democracia é feito nas periferias – assim, no plural, como o texto grafa. O variado conjunto de formas de ativismo puxa para si a centralidade dos conflitos mais contemporâneos, seja a luta de classes, seja o enfrentamento ao patriarcado ou o antirracismo, as periferias, como síntese de resistência, potência e anunciação, é o centro da força que resiste ao avanço do conservadorismo.