As vítimas da guerra no Rio

Governador do Rio nega que tenha havido chacina na Vila Cruzeiro. Ele atribui as 23 mortes na Vila Cruzeiro a ‘efeito colateral’. Supremo  cobra plano de diminuição da letalidade policial. Na quarta-feira, menina de 4 anos levou um tiro na cabeça. Era mais uma “bala perdida”

 

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), negou que tenha ocorrido uma “chacina” no Rio de Janeiro, há duas semanas, quando uma operação policial na Vila Cruzeiro deixou 23 mortos. Para ele, usar o termo reflete apenas uma “opinião pessoal”.

“Não houve chacina alguma. O que houve foi uma operação que a polícia entrou às quatro e poucas da manhã e tem um bonde fortemente armado saindo. Eles tentaram fazer chacina com a polícia. Não há chacina nenhuma”, disse.

“Não há nenhum aspecto de chacina aqui”, comentou Cláudio Castro, que concorre à reeleição. “Infelizmente, tem hora que o efeito colateral da operação é esse. A gente não celebra esse tipo de morte, mas polícia está fazendo o trabalho dela”, afirmou.

A incursão da polícia na semana passada foi a segunda mais letal do estado do Rio, superada apenas pelo massacre do Jacarezinho, quando 28 pessoas morreram em 2021. Ele também era o governador na época.

As declarações de Castro aconteceram após reunião com o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que cobrou que sejam colocadas em prática as medidas determinadas pela Corte, no julgamento da chamada “ADPF das Favelas”, para diminuir a letalidade policial.

No mesmo dia, uma nova tragédia chocou o Rio de Janeiro. Uma menina de 4 anos foi baleada na cabeça na Taquara, na zona oeste do Rio, depois de sair da escola. Ela foi vítima de uma “bala perdida” no confronto entre policiais civis e criminosos. Alice comprava uma pipoca com a mãe quando um tiro lhe atingiu a cabeça. A garota está internada em estado gravíssimo.

Em nota, o STF afirmou que Fachin reconhece que cabe ao governo “definir as metas e as prioridades do plano de redução da letalidade policial”, mas que “as exigências mínimas, constantes da decisão do tribunal, devem ser observadas”.

Um dos pontos que preocupa o ministro é a escolha das unidades que vão receber as câmeras a serem instaladas nos uniformes dos PMs e o sigilo imposto sobre os arquivos de imagens. As gravações precisam ser colocadas à disposição dos órgãos de controle.

Há 15 dias, o STF deu 30 dias para que o governo avalie sugestões de órgãos públicos e da sociedade civil, como o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil, para o plano de diminuição da letalidade policial. •

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