Velório de Bruno Pereira tem protesto de indígenas e familiares na última homenagem ao indigenista,  que tombou assassinado na Amazônia com Dom Phillips

 

 

A morte do indigenista Bruno Pereira, ocorrida no início de junho, assassinado com o repórter inglês Dom Phillips em uma emboscada nos confins da fronteira do Brasil com o Peru, rendeu uma homenagem dolorosa na sua terra natal. Na sexta-feira, 24, no Recife, membros de grupos indígenas brasileiros, amigos e familiares se reuniram para honrar a memória de Bruno. Houve choro, protestos e muita dor. Seu corpo foi cremado após a cerimônia.

Bruno Pereira, que estava de licença da Funai, e o jornalista britânico, cujo corpo foi velado e cremado no Rio de Janeiro, no   domingo, 26, desapareceram em 5 de janeiro, na região do Vale do Javari, perto da fronteira com Peru e Colômbia. O caso continua sob investigação da Polícia Federal, mas uma nova linha de apuração foi aberta pela Polícia Civil do Amazonas.

Policiais revelaram que passaram a considerar que as mortes foram resultado de um assassinato ordenado. A dupla desapareceu na região remota do vale do Javari, na floresta amazônica. Eles deveriam retornar à cidade ribeirinha de Atalaia do Norte. Seus restos mortais foram descobertos posteriormente por investigadores após a prisão de três homens locais envolvidos em operações de pesca ilegal na região.

O chefe da Polícia Civil de Atalaia do Norte, Alex Perez, disse que os investigadores começaram uma nova linha de investigação para entender se os assassinatos foram cometidos por outra pessoa que não os presos. “Demos o primeiro passo e ouvimos alguns testemunhos muito importantes”, disse Perez a jornalistas do Guardian que acompanham o caso.

No Recife, membros do grupo indígena Xukuru cantaram canções de luto perto do caixão lacrado de Pereira, com sua foto emoldurada em cima. Eles clamaram por “Justiça para Dom e Bruno”. Marcos Xukuru, chefe do grupo Xukuru, disse que ele e outros vieram “para homenagear o guerreiro o Bruno que se torna um mártir por todos nós, pela causa indígena… por aqueles que lutam em defesa da vida”, disse.

Thany Rufino, cunhada de Pereira, agradeceu a quem “orou, buscou, trabalhou, representou Bruno”. “Que Deus em sua grandeza recompense a todos e suas famílias. Agora, nos dedicamos ao amor, ao perdão e à oração”, disse.

Investigadores da polícia disseram na semana passada que os corpos dos dois homens foram encontrados nas profundezas da floresta, para onde foram levados pelo assassino. A polícia prendeu três pessoas suspeitas do crime.

Pereira estava tentando ajudar grupos indígenas do Vale do Javari a criar uma trilha de 350 quilômetros marcando a fronteira sudoeste de seu território para ajudar a protegê-lo da invasão de fazendeiros e outros forasteiros.

Ele estava ajudando Phillips durante uma viagem do repórter à região quando ambos foram atacados. O jornalista, cujo funeral estava marcado para domingo no Rio de Janeiro, escrevia um livro sobre preservação da Amazônia.

Bruno nasceu na cidade do Recife e iniciou sua carreira profissional como jornalista. Mas seu interesse por assuntos e línguas indígenas — ele aprendeu quatro deles — o levou a trabalhar para a Fundação Nacional do Índio.

Rapidamente se tornou um dos maiores especialistas do país no Vale do Javari, onde passava meses trabalhando, com pouco contato com o mundo exterior. Sua esposa Beatriz Matos, antropóloga, incentivou sua missão. Eles tiveram dois filhos.

Bruno disse à Associated Press em novembro que estava esperando o fim do governo Bolsonaro para retornar à Funai e, enquanto isso, trabalharia com uma associação indígena. Seu caixão estava coberto com suas paixões: a bandeira de Pernambuco, onde cresceu, e do time de futebol, o Sport Club. •

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