A política de preços da Petrobrás começou a fazer novas vítimas: os caminhoneiros e os motoristas de aplicativos. Com o preço do litro da gasolina atingindo R$ 7 em várias capitais brasileiro e o do óleo diesel custando quase R$ 5, muitos dos trabalhadores de aplicativos, sejam motoristas ou motociclistas, estão sendo obrigados a desistir da profissão, enquanto caminhoneiros presenciam o preço do frete derreter.

 

Dados da Associação de Motoristas de Aplicativos de São Paulo (Amasp) revelam que 25% dos motoristas de aplicativo desistiram da profissão na capital paulistana. Esse dado é baseado em números da própria prefeitura, que tinha 120 mil motoristas cadastrados no início de 2020 e, agora, tem 90 mil.

Já os caminhoneiros estão pagando no diesel um preço maior do que aquele praticado antes da greve de 2018. Para piorar, os constantes aumentos do combustível estão achatando o preço do frete. Levantamento da FreteBras revela que o preço do transporte por quilômetro rodado por eixo subiu 0,24% entre maio de 2020 e maio de 2021, enquanto o valor do diesel S500 aumentou 47,18%, no mesmo período.

Para o economista William Nozaki, do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep) os constantes aumentos no preço dos combustíveis são resultado da política de preços da Petrobras e impactam toda a economia.

“A inflação de combustíveis está encarecendo e inviabilizando a vida da população. Os motoristas de aplicativo e motoboys, já precarizados, estão desistindo de aceitar viagens e estão abandonando o trabalho. Os entregadores estão substituindo as motos pelas bicicletas, os caminhoneiros autônomos estão com os rendimentos em queda, enforcados pelo diesel e pelo frete”, descreve.

Entre janeiro de 2019 e agosto de 2021, já foram 94 alterações no preço do diesel e 107 mudanças no preço da gasolina. A inflação acumulada nos últimos 12 meses para a gasolina foi de 39,52%, a do óleo diesel, de 36,27%, e do etanol, 52,77%.

A alta do preço tem como componente decisivo a política de preços da Petrobrás, segundo a qual os reajustes são baseados na paridade com o mercado internacional de forma quase que contínua. Essa opção privilegia a geração de lucros para os acionistas e, portanto, onera o consumidor por definir preços dolarizados e baseados em padrões externos e não nos custos de extração, refino e distribuição internos.

Dados da própria Petrobrás desmentem o discurso oficial de Jair Bolsonaro de que a alta do preço dos combustíveis se deve ao impacto dos impostos estaduais na gasolina e no diesel. Segundo dados da própria estatal, no período de 8 a 14 de agosto, os preços praticados pela Petrobrás representaram 33,3% do preço final da gasolina e 52,4% do preço final do diesel ao consumidor.

O governo federal é acionista controlador da Petrobras e poderia alterar a política de preços da empresa, reduzindo o valor dos combustíveis no país. Entretanto, Bolsonaro já deu mostras de que seguirá aprofundando a política neoliberal do governo e declarou publicamente que não irá mexer na política de preço dos combustíveis da empresa.

Caminhoneiros e motoristas de aplicativos, categorias que votaram majoritariamente em Bolsonaro nas últimas eleições presidenciais, começam a sentir no bolso o preço dessa escolha. Dois anos e meio depois do início do governo, essas categorias não têm nada a comemorar. •

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