Montadoras de veículos instaladas no Grande ABC planejam suspender as atividades a partir da próxima semana, como forma de deter a proliferação do coronavírus entre seus trabalhadores e trabalhadoras e entre a população em geral.

GM, Mercedes-Benz e Volkswagen já anunciaram ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC a decisão de parar. O sindicato, que defende a medida para proteger os trabalhadores, reivindicou à Anfavea, associação representativa das empresas do setor, que essa parada seja feita de forma negociada e conjunta, por todas as demais montadoras da região, para garantir o planejamento dos efeitos em toda a cadeia produtiva.

“Uma paralisação aqui impacta em toda a cadeia não só no ABC, mas em regiões como Campinas e São José dos Campos. Então, o que conversamos com a Anfavea? Que ela programasse uma parada no mesmo período, por que aí o setor de autopeças, toda a cadeia de fornecedores, também pode se programar”, conta o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana.

Créditos: Roberto Parizotti/CUT

Wagner em assembleia de trabalhadores

A reivindicação do sindicato, que mantém negociação permanente com as empresas por intermédio das comissões de fábrica, está sendo debatida pela Anfavea. A suspensão da produção da GM, Mercedes e Volks ocorre entre os dias 25 e 30.

Na forma de férias coletivas, a paralisação deve durar ao menos 15 dias, e pode ser estendida conforme a evolução da pandemia. No ABC, são aproximadamente 78 mil os trabalhadores do setor.

Governo acéfalo

“A interrupção tem de ser feita de forma organizada, para evitar o caos. Num país que não tem governo federal, os empresários ficam sem sinalização clara”, informou o presidente da CUT, o metalúrgico Sérgio Nobre. Numa situação dessa, de governo acéfalo, torna-se ainda mais importante o processo de diálogo e negociação entre sindicatos e as empresas, completa o dirigente.

Outra condição para a parada, em conformidade com documento entregue pelas centrais sindicais ao Congresso no último dia 17, é de que interrupções motivadas pelo combate ao coronavírus devem garantir os salários dos trabalhadores, na forma, por exemplo, de férias coletivas.

Na Europa, a Volkswagen anunciou ontem a suspensão das atividades de todas as suas fábricas no continente. Essa paralisação foi reivindicada pelos sindicatos dos metalúrgicos locais, e a decisão tomada após negociação. “Na Europa, as empresas não tomam uma decisão desse porte sem falar com os sindicatos”, informa Maicon Michel, secretário de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT e representante brasileiro na IndustriAll, confederação internacional da categoria.

Pressão sindical na Europa

Maicon conta que houve casos, na Europa, em que os sindicatos tiveram de pressionar as empresas para interromper a produção e assim proteger a saúde e a vida dos trabalhadores e trabalhadoras. “Na Mercedes da Espanha houve paralisação parcial das atividades para convencer a direção da companhia, antes mesmo da decisão governamental”, conta.

Casos semelhantes ocorreram também na Itália, nas plantas industriais de empresas como a Fiat Chrysler, em Turim. “Trabalhadores da indústria não são cidadãos 24 horas menos oito. Não é aceitável que tenham garantias de proteção e, após cruzarem os portões da fábrica, entrem em uma terra de ninguém”, declarou Francesca Re David, representante da central CGIL naquela empresa, ao jornal La Reppubblica, no último dia 13. A empresa decidiu por uma suspensão da produção por tempo indeterminado.

A interrupção das atividades do setor metalúrgico na região vem acompanhada de decisão do Consórcio Intermunicipal do ABC, integrado pelos sete prefeitos, de suspender por completo a circulação de trens municipais nas cidades a partir do próximo dia 29, por tempo indeterminado.

 

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