A repressão em Brasília durou aproximadamente cinco horas. Cinco longas horas em que trabalhadores de todo Brasil engoliram o choro, respiraram gás de pimenta, e todo tipo de gás lançado pelo PM, borrachadas, helicópteros em voos rasantes disparando todo tipo de coisa dos céus e foram surpreendidos por estrondos e explosões. Jovens com mãos e olhos dilacerados por balas delinquentes. Mas quem é a pessoa que se sujeita a tudo isso? E resiste por tantas horas?

Por toda a tarde, a polícia tentou dispersar o ato, mas quem são as pessoas que teimaram em permanecer na Esplanada? Em gritar de raiva, chorar de medo, se emocionar em abraços partidos e ao mesmo tempo resistir? Defender, cada qual do seu jeito e a seu modo, o Brasil dos seus sonhos? O país que mora em cada um de nós e que queremos deixar de herança aos que nos sucederão nessa terra?

O que pensam essas pessoas que carregam em si essa fé na vida? Que abandonam o conforto de seu lar, dos seus amados filhos, pais, amigos, da vida pacata, sonho de todos nós, para se arriscar frente a um cão raivoso, treinado para morder, como é a força policial e o aparato repressor colocado em movimento pelo governo Temer.

Quem são as pessoas que viajaram horas, dias, tomando banho na estrada, parando em postos para comer o básico, para chegar na capital do Brasil e  se ver reprimido, de forma tão brutal, e fazer o mesmo caminho de volta? Dias longe de casa.

Quem são essas pessoas? O que as mantém em pé por tanto tempo?

Darci Ribeiro em seu clássico “ O povo Brasileiro”, diz que “A distância social mais espantosa do Brasil é a que separa e opõe os pobres aos ricos. A ela se soma a discriminação que pesa sobre índios, mulatos e negros.”

A distância entre Brasília e o resto do Brasil ficou menor hoje. Dia de resistência e luta. Dia em que Brasília foi a síntese do Brasil que, todos os dias, engole o choro e segue em frente.

No dia de hoje, outros milhares de trabalhadores e trabalhadoras cuidaram de prover sustento para os seus. Passaram horas no trânsito antes do descanso merecido, horas no campo debaixo de sol, nas cidades e seu frenesi, sempre gerando riquezas para o Brasil e ouvindo a canalha ladainha do patrão de que as reformas, que desmantelam a Previdência e os direitos trabalhistas arduamente conquistados, são para o bem do povo. Em Brasília, ouvia-se milhares de pessoas tomando bomba, tiro, cheirando gás lacrimogênio, e protestando. A resistência.

Desde cada canto do Brasil ouvia-se a resistência. Que não arrefeceu com a fúria do estado policialesco e da barbárie. Nem com o fascismo. Brasília foi o Brasil em estado bruto. Que resiste, como só o povo trabalhador é capaz de fazer.  A sessão em Brasília durou aproximadamente cinco horas. Cinco longas horas em que trabalhadores de todo Brasil engoliram o choro, respiraram gás de pimenta, e todo tipo de gás lançado pelo PM, borrachadas, helicópteros em voos rasantes disparando todo tipo de coisa dos céus e foram surpreendidos por estrondos e explosões. Jovens com mãos e olhos dilacerados por balas delinquentes. Mas quem é a pessoa que se sujeita a tudo isso? E resiste por tantas horas?

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