FPA Nota de Conjuntura

 
Grupo de Conjuntura Fundação Perseu Abramo
04 de agosto de 2014
 

I. Indicadores e tendências da conjuntura

Opinião pública. Pesquisas eleitorais antes e depois da Copa mostram pouca variação. O resultado foi neutro.

A última medição do Ibope sobre eleições, realizada entre 18 e 21 de julho, mostra que espontaneamente 39% do eleitorado ainda não definiu em quem votar. Na mesma pesquisa Dilma obteve 26% das intenções de voto, Aécio 12% e Campos 4%, enquanto que 2% optam por outros candidatos. Dado importante é que 17% dos pesquisados
pretende anular o voto ou votar em branco, o que,caso se concretize, favorece a candidatura de Dilmana soma dos votos válidos.

Quando comparamos os índices atuais com a eleição de 2010,observamos que a candidatura de Dilma tem a mesma intenção de voto estimulada: 38% agora comparados a 39% em julho 2010. Seus adversários estão muito mais fracos hoje do que estavam em 2010,considerando que Aécio tem 22% hoje, quando Serra tinha 34% há quatro anos, sendo que Campos tem 8% e Marina teve 7% em igual intervalo de comparação. O resto
da história de 2010 é conhecido: Serra não decolou e chegou às vésperas do 1º turno com 29% de intenção de voto, e quem levou o pleito ao segundo turno foi a Marina que tinha então 16% das intenções de voto.

As oposições centram agora seus esforços em uma campanha contra os votos brancos e nulos para tentar levar a disputa ao segundo turno, já que se considera que os indecisos estão proporcionalmente distribuídos entre as candidaturas.

Mesmo em um segundo turno as projeções atuais mostram vitória da Presidenta Dilma. Porém, há um dado que chama a atenção: ambos candidatos oposicionistas seriam os principais receptores dos votos das outras candidaturas que ficarem fora do segundo turno, o que inclusive acontece entre eleitores das ditas esquerdas (PSOL, PCO, PSTU), tal como revelou a pesquisa do Datafolha (15-16 de julho):

Esse resultado provavelmente repercute a campanha “qualquer um menos o PT” que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso enunciou meses atrás, e se apoia no trabalho de desgaste que a mídia empresarial fez contra o PT, o governo e a Presidenta Dilma.

A rejeição de Dilma é bastante superior a de seus adversários, 36%, contra 16% de Aécio e 8% de Campos. As maiores resistências à candidatura Dilma estão entre os eleitores na faixa de 25 a 34 anos (42%), os que possuem curso superior (54%), os com renda entre 5 e 10 ou acima de 10 salários mínimos (48% e 53%, respectivamente) e os residentes nas regiões Sudeste e Centro-Oeste (42% e 44%, na ordem); as menores taxas de rejeição
foram as registradas entre as camadas menos privilegiadas: eleitores acima de 60 anos (29%), os que cursaram até ensino fundamental (27%), os da região nordeste (21%), os que recebem até 2 salários mínimos (30%), os que residem em município do interior (34%) e os que não participam da População Economicamente Ativa (28%).

A juventude, por ser um setor disputado por Campos e os candidatos que tentam se colocar “à esquerda do PT”, deveria ser um dos alvos prioritários da campanha da reeleição.

Economia. Em julho a boa notícia foi a queda nos principais índices de inflação e a deflação de preços no atacado. Para tal resultado contribuíram os índices de atividade econômica, que em junho e julho apresentaram variação negativa, particularmente na indústria. Esse desempenho deveu-se aos feriados ocorridos ao longo da Copa do Mundo, mas é também reflexo de um processo de deterioração das expectativas dos empresários e do aprofundamento da crise de alguns parceiros comerciais importantes, como é o caso exemplar da Argentina. Contribuiu também para uma desaceleração das importações, com reflexo na melhora nas contas externas.

Porém, menor atividade econômica tem um impacto negativo na arrecadação fiscal, e gera pressão sobre a meta de superávit de 1,6% (para o governo central). Apesar dos resultados negativos dos dois últimos meses, no acumulado de 12 meses o superávit é de 1,36% do PIB (Produto Interno Bruto) o que autoriza ao Tesouro a afirmar que vai cumprir a meta.

IDH. O Relatório de Desenvolvimento Humano de 2013, intitulado Sustentar o Progresso Humano: Reduzir as Vulnerabilidades e Reforçar a Resiliência, mostra que a melhoria de vida dos brasileiros, medida através do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), temaumentado de forma mais acelerada sob os governos do PT.

O Brasil alcançou o índice de 0,744, em uma escala que vai de zero a um, onde quanto mais alta a nota, melhor colocado o país. O IDH é utilizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e analisa a expectativa de vida, anos médios de estudo e anos esperados de escolaridade, bem como o PIB per capita.

O Brasil se encontra agora entre os países com desenvolvimento humano alto, na 79ª posição (junto com Geórgia e Granada), numa lista que inclui 187 países, superando o IDH médio da América Latina (0,740), e ficando atrás apenas da Rússia dentre os países que compõe os BRICS, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Os principais avanços brasileiros observados no relatório são os aumentos da renda, que subiu de US$ 14.081 em 2012 para US$ 14.275 em 2013, e da expectativa de vida da população, que alcançava 73,7 anos em 2012 e em 2013 alcançou 73,9 anos.

No ano passado, o país ocupava a 80a posição no ranking do IDH.

A melhora do Brasil no índice ocorre na contramão de diversos países, que, devido à crise internacional, diminuíram o fôlego de seu desenvolvimento social: segundo o Pnud, apenas 18 países ganharam posições no ranking do IDH, entre eles o Brasil.

PED. As informações da Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED, realizada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), mostram que, em junho, o total de desempregados no conjunto das seis regiões metropolitanas onde a pesquisa é realizada foi estimado em 2.253 mil pessoas, 14 mil a menos do que no mês anterior. A taxa de desemprego total manteve-se relativamente estável, ao passar de
10,9%, em maio, para os atuais 10,8%. Segundo suas componentes, a taxa de desemprego aberto variou de 8,8% para 8,7% e a de desemprego oculto manteve-se estável em 2,1%. A taxa de participação praticamente não variou ao passar de 59,6% para 59,5%, no período em análise.

O Dieese prevê poucas variações no emprego e na renda nos próximos meses.

II. Conjuntura eleitoral

“Recessão técnica”? A conjuntura econômica imediata é um dos temas fortes na disputa entre governo federal e a oposição no contexto eleitoral. Provavelmente nas próximas semanas se anuncie que a economia entrou em “recessão técnica” (isto é, dois trimestres seguidos com queda do PIB medidos em comparação com igual período anterior).

Há vários fatores que podem explicar esse comportamento da economia, um dos principais é o atraso do setor privado em fazer investimentos de ampliação da produção, malgrado as medidas de estímulo lançadas pelo governo federal. O quê explicaria esse comportamento dos investidores? Do contato com interlocutores do mercado financeiro foi identificado que os empresários esperam que, com a vitória do candidato Aécio Neves, um receituário de forte aumento dos juros e recessão seja adotado. Nesse cenário os investidores dirigiriam seu dinheiro à aplicação em títulos da dívida do governo, mais rentáveis e seguros, e sem as complicações dos investimentos produtivos. Seria esta a razão da “demora” dos empresários em tomar decisões de investir para ampliar aprodução.

Somente a confirmação da reeleição da Presidenta Dilma poderá tirar o país da rota da volta ao rentismoao qual o empresariado acostumou-se no período neoliberal.

Defesa do emprego e da renda dos trabalhadores. Análise de dados de emprego e renda nas principais capitais do país mostra um cenário de relativa estabilidade destes, que são indicadores da situação socioeconômica da classe trabalhadora.

Não se prevê para os próximos meses nenhuma alteração substantiva nessa trajetória, motivo pelo qual a “recessão técnica” não chegará aos trabalhadores, dando tempo para que novas medidas do governo federal e a confirmação da vitória da reeleição permitam retomar o curso do crescimento.

Embates com o mercado financeiro. O “incidente Santander”, quando a pretexto de análise de conjuntura para investidores os analistas do banco fizeram campanha eleitoral em prol da oposição ao governo, foi muito “pedagógico” para o debate político público. O PT e o governo acertaram ao aproveitar o incidente para mostrar como um banco pode apostar contra o país e buscar interferir no processo democrático para defender interesses
escusos. O recuo do banco mostrou que as margens para a impunidade do mercado financeiro no debate público têm diminuído.

Desgaste político e hipótese de segundo turno. Nas últimas pesquisas realizadas antes do início do período da propaganda eleitoral veiculada em rádio e televisão não está descartada a hipótese de a Presidenta Dilma ganhar no primeiro turno. A oposição tenta reverter esse quadro chamando os que declaram voto nulo ou branco a votar em um dos candidatos contra o governo. Estes altos níveis de rejeição à política são resultado do gigantesco trabalho sistemático e massivo da mídia empresarial em desgastar o governo federal na opinião pública. Com isso buscava, e conseguiu,impingir altos níveis de opinião negativa sobre o governo e a Presidenta. Há condições de trabalhar para reduzir esses níveis de rejeição, algo fundamental em um eventual o segundo turno.

Problema de comunicação do governo. Há uma percepção generalizada de que “o governo não fala”, não comunica suas conquistas, não defende suas opções. Provavelmente a chegada do horário eleitoral obrigatório mude essa situação. Entretanto, apenas esses horários na televisão e rádio podem não ser suficientes. A avalanche de pessimismo trabalhada durante meses pela mídia empresarial tem tido impacto na percepção das pessoas, induzindo inclusive a largas parcelas beneficiadas pelas políticas públicas. Somente uma ação das estruturas militantes dos partidos e movimentos sociais aliados pode compensar tal desvantagem.

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