Economia dificulta reeleição
Piora do cenário prejudica o presidente, que aposta em PEC do Desespero no esforço para conseguir ao menos o segundo turno. Mas Lula segue na dianteira, segundo Quaest e PoderData
Duas pesquisas lançadas na última semana dos institutos Quaest e PoderData mantém acesso o sinal vermelho no Palácio do Planalto, apontando as dificuldades do presidente Jair Bolsonaro em busca da reeleição em outubro. Os dados mostram que não houve variação acima da margem de erro nos números totais divulgados sobre os cenários de intenção de voto.
Segundo a pesquisa Quaest, realizada em parceria com a Genial Investimentos entre 29 de junho e 3 de julho, com 2 mil entrevistas presenciais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém a liderança folgada na corrida eleitoral, alcançando 45%, seguido por Bolsonaro com 31%, Ciro Gomes (PDT) com 6%, André Janones (Avante) e Simone Tebet (MDB), com 2% cada, e Pablo Marçal (PROS) com 1%. Outros candidatos não atingiram 1% das intenções de voto.
Em meio ao quadro de agravamento da crise social, a pesquisa Quaest indica que a agenda do eleitorado permanece a mesma. Somando os que mencionam que o principal problema do Brasil é econômico com os que apontam questões sociais, são 61% dos brasileiros listando temas como a inflação, desemprego, fome, miséria e desigualdade como os grandes vilões para o país no momento.
Para 64% a economia brasileira está no rumo errado, número que permanece estável desde janeiro deste ano. São 54% os que relatam dificuldade em pagar contas nos últimos três meses. Faltando cerca de 90 dias para o primeiro turno das eleições, é nebuloso se haverá tempo dos arroubos eleitoreiros do presidente da República surtirem efeito.
Em comparação com a última pesquisa, realizada no começo de junho, Lula caiu 1 ponto percentual, Bolsonaro subiu 1 ponto, Ciro também caiu 1 ponto, Janones manteve seu patamar e Simone Tebet cresceu 1 ponto. Como a margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais, a situação é de estabilidade.
No entanto, comparando com a primeira pesquisa do ano, realizada em janeiro, Lula manteve seus 45% e Bolsonaro subiu de 23% para 31% – um movimento de recuperação de parcela de seu eleitorado de 2018, já apontado pelo Noppe em artigos anteriores.
O levantamento do PoderData, realizado entre 3 e 5 de julho, por coleta telefônica de 3 mil entrevistas, aponta que Lula tem 44% em primeiro turno, seguido por Bolsonaro, com 36%. Ciro tem 5%, Janones e Tebet, 3%, cada. Outros candidatos não chegaram a 1% das intenções de voto.
Em comparação com a última pesquisa, realizada entre os dias 19 e 21 de junho, Lula manteve 44%, Bolsonaro subiu 2 pontos, Ciro caiu 1 ponto, Janones subiu 1 e Tebet, 2 pontos. Em relação a um mês atrás, no entanto, tanto Lula quanto Bolsonaro oscilaram um ponto percentual para cima — 43% e 35%, respectivamente. O instituto captou, desde janeiro deste ano, um crescimento de Lula dentro dos limites da margem de erro, de 42% para 44%, e acima da margem para Bolsonaro, de 28% para 36%.
Nos cenários de segundo turno, a Quaest traz uma vantagem de 19 pontos para o petista, que tem 53% contra 34% de Bolsonaro. Ambos os candidatos se aproximam na segunda volta de seus “tetos eleitorais”, ou seja, o potencial máximo de votos de cada candidato – a soma de quem com certeza votaria com os que podem votar em cada nome apresentado pela pesquisa.
Lula tem um potencial de votos de 56% do eleitorado, número que tem se mantido estável — considerando as margens de erro —, enquanto o potencial de Bolsonaro é de 37%. O petista não seria votado de jeito nenhum por 41% do eleitorado, enquanto o atual presidente conta com 59% de rejeição. O levantamento PoderData traz um quadro mais equilibrado na disputa de segundo turno: Lula teria 50% contra 38% de Bolsonaro – número não tão distante do potencial apontado pela Quaest.
A recuperação de antigos apoiadores e o crescimento em diversos segmentos da sociedade ainda não possibilitaram ao atual presidente alterar de forma significativa um quadro que até o momento praticamente inviabiliza sua reeleição – visto que muito mais da metade do eleitorado ainda descarta votar em Bolsonaro. Desde janeiro, sua rejeição caiu de 66% para 59%, um patamar ainda majoritário.
Não à toa, o governo tem mobilizado esforços junto ao Centrão e sua base de apoio parlamentar para aprovar medidas que têm sido chamadas de “PEC do Desespero”. O pacote mobiliza recursos na ordem de R$ 42 bilhões para empenho em medidas de auxílio às vésperas do início da campanha presidencial, uma tentativa do presidente em recuperar apoio na base da pirâmide social e em categorias laborais específicas, como os caminhoneiros autônomos. •