O ministro da Justiça e ex-juiz Sérgio Moro esteve no dia 2 de julho na Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos aos parlamentares sobre as denúncias publicadas pelo site The Intercept Brasil sobre sua atuação na Operação Lava Jato. Tentou se explicar durante mais de sete horas para um colegiado composto por três Comissões da Câmara dos Deputados: a de Constituição e Justiça e de Cidadania; a de Trabalho, de Administração e Serviço Público; e a de Direitos Humanos e Minorias.

Moro foi evasivo em suas respostas fugiu da pergunta sobre o pedido de abertura de sigilo do jornalista investigativo Glenn Greenwald, ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A nova denúncia que pesa sobre ele foi publicada na imprensa na mesma data e retrata a perseguição do ex-juiz ao jornalista, violando a liberdade de imprensa prevista na Constituição, além de prova inequívoca de abuso de poder.

Embora não tenha negado as conversas, Moro contestou a legitimidade das fontes e a possibilidade de que os dados tenham sido adulterados e disse que não se recorda das mensagens trocadas por ter deletado o aplicativo. No entanto, se negou abrir o sigilo de suas conversas telefônicas para esclarecer as denúncias.

O principal crime cometido pelo ex-juiz foi a troca de informações com os procuradores da Lava Jato sobre o processo que envolvia o ex-presidente Lula, o que foi admitido pelo ex-juiz, que também afirmou que o fato de passar informações para uma das partes não significa que foi parcial ou infringiu alguma lei em sua atuação como magistrado, reconhecendo como um procedimento normal, o que contradiz a justiça brasileira.

Diante da naturalidade do fato admitida pelo ex-juiz, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) perguntou se Moro também manteve algum diálogo com o advogado Cristiano Zanin, da defesa de Lula. A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que nos diálogos apresentados de Moro com a acusação “há violação da Constituição, do Código de Processo Penal e do Código de Ética da Magistratura. Há uma violação imensa na legalidade da tradição jurídica brasileira”. Também, contestou o fato de Moro não lembrar de uma indicação de testemunha para os procuradores da Lava Jato. “Uma conduta dessa não pode não estar na sua memória”, disse a deputada.

O deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ) disse que Moro segue determinada conduta a depender o réu e que, de acordo com a justiça brasileira, Moro, como chefe da política federal, deveria se afastar do cargo para não interferir nas investigações. Já o deputado Jorge Solla (PT-BA) afirmou que Moro atuou de forma ilegal e criminosa enquanto juiz para colocar o ex-presidente Lula na prisão e, assim, impedi-lo de disputar a eleição, visando como recompensa o cargo de ministro. Aproveitou para cobrar do ex-juiz uma resposta sobre onde está o Queiroz, miliciano ligado à família Bolsonaro.

O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) se referiu à publicação do The Intercept Brasil e da Folha de S. Paulo, no dia 30 de junho, que explicita a adulteração da delação do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, e da sequência de fatos relacionadas a mudança de seu depoimento para incriminar Lula e ter sua pena reduzida.

Em defesa, Moro disse que respeita a liberdade de imprensa e por isso não processou o The Intercept pela divulgação das mensagens, e que a abertura de um inquérito pode apurar se houve ou não ataque hacker aos seus celulares. Afirmou que as denúncias até agora não passam de “um balão vazio no meio do nada” e não respondeu a maioria das questões, sendo cínico e evasivo, mesmo diante de questões objetivas.

Por fim, o deputado Glauber Braga (Psol-RJ), protagonizou término da sessão ao dizer que “a população brasileira não vai aceitar como fato consumado um juiz ladrão e corrompido, que ganhou uma recompensa para fazer com que a democracia brasileira fosse atingida” e que Moro será reconhecido pela história “como um juiz que se corrompeu, como um juiz ladrão”. A sessão foi encerrada após tumulto entre parlamentares e o ex-juiz Sérgio Moro saiu da audiência por uma porta lateral sob gritos de “ladrão” e “fujão”.

A fragilidade da defesa de Moro perante o peso das acusações, respondida na maior parte das vezes vagamente, com cinismo e deboche, se refletem na imagem do ex-juiz. Moro gozava de grande popularidade, no entanto esse apoio já não se demonstrou tão forte na manifestação a favor do ex-juiz e da Lava Jato, que ocorreu em 30 de junho. Com a perda de apoio popular e a sequência de denúncias que não se esgotou, Moro sai de sua posição privilegiada de superministro e se tornam cada dia mais dependente de Bolsonaro e de um círculo de apoio do governo para se manter no cargo.

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