Caravana: Lula diz que ricos não se acostumam com a democracia
Em uma parada de Lula pelo Brasil nesta quinta-feira (22), na cidade de Panambi, entre Cruz Alta e palmeira das Missões, no Rio Grande do Sul, o ex-presidente Lula conversou com a população que queria compartilhar com ele e com a presidenta eleita Dilma Rousseff um pouco de carinho e gratidão pelos avanços do Brasil durante os governos do PT.
Lula agradeceu a presença de lideranças locais e do povo e lembrou que disputou quatro eleições antes de ser eleito presidente, sem nunca questionar a democracia e a via eleitoral quando saiu derrotado. “Em nenhuma eleição que perdi vocês me ouviram protestar, em nenhum momento vocês me viram fazendo biquinho.”
“Isso é porque eu aprendi a gostar da democracia”, destacou o ex-presidente. “Na democracia é assim, tem eleições, quem se torna vitorioso vai governar. O PT sempre se comportou assim. Depois conseguimos nos eleger quatro vezes. Duas vezes eu e duas vezes a Dilma.”
Para Lula, “esse pessoal mais rico do Brasil não está acostumado a conviver com a democracia. Para eles a democracia é apenas eles governando. Quando os de baixo começam a subir um degrau no avanço social, eles começam a se incomodar.”
“Eu vi uma declaração de um representante do Banco Mundial falando que o salário mínimo do Brasil é muito alto, eu queria ver ele viver um mês no Brasil com um salário mínimo”.
“E o jornal ‘O Globo’ fez outra insanidade. Disse que a classe média estava mais feliz porque as empregadas começaram a perder direitos e ia sobrar mais dinheiro para o consumo da classe média. Não acredito como alguém pode ser mais feliz com a perda de direitos de uma pessoa que era tratada como escrava.”
Lula explicou o simbolismo de iniciar a caravana pelo Rio Grande do Sul, homenageando o legado de Getúlio Vargas. “Em São Borja, a gente foi visitar o túmulo de Getúlio porque em março de 1932 o Getúlio fez um decreto criando a carteira profissional, até então trabalhador não tinha carteira, nem aposentadoria. Eles consideravam aposentadoria um ócio.”
“Em 1932, eles imaginavam que não podiam dar férias para o trabalhador porque o trabalhador ia beber e brigar para a mulher. Para eles não é férias, é viajar para a Europa, passar um mês com a mulher e os filhos. São um bando de cretinos que não sabe como vive o povo trabalhador desse país.”
Lula relembrou que, quando venceu as eleições de 2002, os jornais falavam que o país estava quebrado, que um metalúrgico com diploma primário e de curso técnico não conseguiria governar o país “que nem o professor Fernando Henrique nem os militares deram jeito”.
“Eles não sabiam que eu tinha outra fé. Eu dizia que não podia errar porque, se eu errasse, nunca mais um trabalhador teria direito de governar o Brasil. Quantas vezes não achei que podia dar errado, mas a minha fé e meu compromisso com o povo era de tamanha magnitude que eu falei que não ia errar.”
“Eles falavam que não podia aumentar o salário mínimo porque teria inflação, mas por 12 anos eu aumentei o mínimo e não teve inflação. Durante 12 anos os trabalhadores desse país tiveram aumento acima da inflação. O povo pobre passou a comprar carne boa, comprar casa, passou a viajar de avião”.
Lula relembrou que “o Brasil devia três bilhões de reais para o FMI. O Brasil não tinha dinheiro para pagar suas importações. Eu chamei o presidente do FMI, na época era um tal de [Rodrigo] Rato, e falei que queria pagar a divida com o FMI. Minha mãe sempre dizia que se a gente não dever é melhor, porque quando a gente deve, está sempre com medo de não dormir direito”.
“Quando vem a crise de 2008, descobrimos que o FMI estava quebrado e emprestamos 10 bilhões. Saímos de devedor para credor do FMI.”
“Descobrimos uma coisa sagrada. Para fazer a economia brasileira crescer, incluímos o pobre na economia, criamos crédito, financiamento para o aposentado.”
“Aí a economia começou a crescer, o salário mínimo aumentou, o Bolsa Família ajudou, as pessoas passaram a ganhar, a comprar, as fábricas contrataram, o comércio pagava mais gente, cada salário gerava mais um consumidor, a economia foi crescendo e esse pais começou a sorir, todo mundo estava feliz e contente”.
“O Brasil passou a ser o país mais otimista do mundo, com o povo mais feliz do mundo”, relembra o ex-presidente. “O Brasil passou a ser respeitado pelos Estados Unidos, pela China, pela África, pela Rússia, pela Alemanha. Andar no exterior com passaporte brasileiro era motivo de orgulho porque jogamos fora o complexo de vira lata e passamos a defender a nossa soberania”.
“Quando descobrimos o pré-sal foi mais importante ainda. Aí a Petrobras virou a segunda maior empresa de petróleo do mundo. Até que a gente elegeu essa mulher [ Dilma Rousseff] pela segunda vez, ai a direita começou a fica nervosa.”
“Resolveram então fazer a maior sacanagem da historia desse pais. Caçar essa mulher com base em uma mentira deslavada que foi a pedalada. Caçaram ela e mesmo quando ela tentou fazer mudanças no rumo da economia, tinha um cara na Câmara, que era o Cunha, que não deixava aprovar nada que Dilma mandava para o Congresso.”
“Entrou o Temer no lugar dela, e eles começaram a pensar: ‘tiramos a Dilma, mas o Lula está aí, esse cara vai querer voltar e se o povo lembrar do que ele fez pelo país, vai querer voltar nele’.”
“A grande prova que fizemos é aprender que não se tem que governar o pais, tem que aprender a cuidar do povo, governar é cuidar do povo. E no povo você tem o rico, o médio e o mais pobre. Você tem que cuidar de quem mais precisa do governo. Eu quero governar o pais com coração de mãe, porque é a coisa mais justa do mundo.”
Lula fala que os golpistas não podia matá-lo porque pegaria mal, nem poderiam dar um novo golpe militar e nem conseguiram ganhar nas eleições. “Então inventaram uma mentira, contada pela imprensa, que vira um inquérito mentiroso e um julgamento mentiroso.”
“Eles não sabiam que estavam lidando com um cara que tem caráter e tem honra. Meu compromisso é com o povo trabalhador desse pais, com as mulheres desse pais.”
Falando dos desmontes praticados pelo governo golpista, como a venda da Eletrobras e a tentativa de entregar o Banco do Brasil, o ex-presidente afirmou que o governo age “como um cidadão vagabundo que casa com uma mulher que tem uma casa boa, com geladeira, televisão, e o cara esta desempregado e fala para vender a televisão, a geladeira, o armário, e a mulher vai concordando. Aí depois de vender tudo ele vai embora. O que eles estão fazendo é isso”.
“Eles sabem que a gente vai voltar e vai consertar esse país. Nós vamos voltar e recuperar esse país. O salário vai aumentar, o aposentado não será culpado pelas desgraças desse país. Vocês sabem que com a ajuda de vocês que vamos governar esse país. Se vocês acreditarem a gente vai mudar esse país para melhor”, finalizou Lula.
A presidenta Dilma destacou que “começaram a desmontar todas as garantias que colocamos para a população, desmontar a previdência, acaba com a aposentadoria rural”.
“Quando fica claro que os corruptos são eles, percebem que não tem candidatos viáveis. Nós temos candidato, mas nosso problema é que temos um grande candidato, que se chama Lula, é o que eles querem impedir que volte, que seja votado. Porque eles sabem que ele ganha a eleição. Nós vivemos um tempo de luta e resistência”.
Dilma finalizou sua fala afirmando que “Lula de novo, com a força do povo, é a palavra que temos que deixar aqui”.
Lula pelo Brasil
A viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos estados do Sul do país, em março, é a quarta etapa de um projeto que deve alcançar todas as regiões do país nos meses seguintes. No segundo semestre de 2017, Lula percorreu todos os estados do nordeste, o norte de Minas Gerais, o Espírito Santo e o Rio de Janeiro.
O projeto Lula Pelo Brasil é uma iniciativa do PT com o objetivo de perscrutar a realidade brasileira, no contexto das grandes transformações pelas quais o país passou nos governos do PT e o deliberado desmonte dos programas e políticas públicas de desenvolvimento e inclusão social, que vem sendo operado pelo governo golpista.
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