Há 41 anos, em 13 de março de 1979, metalúrgicos de São Bernardo, Diadema, Santo André e São Caetano deflagraram a primeira greve geral de uma categoria no país desde a paralisação de Contagem (MG), em 1968. A medida foi aprovada pelas assembleias dos três sindicatos do ABC, com o objetivo de obter um reajuste salarial de 78,1%. Mesmo enfrentando forte repressão e a intervenção do governo nos sindicatos, a greve durou duas semanas. Foi suspensa por 45 dias para que fossem reabertas negociações com as empresas, que acabaram concedendo um reajuste de 63%. Foi a maior conquista salarial daquele período.

A greve geral de 1979 mostrou o rápido avanço da organização dos trabalhadores, que mais uma vez desafiaram a ditadura e dobraram os patrões. Cerca de duzentos mil trabalhadores participaram do movimento, que paralisou a produção das indústrias automobilísticas (adesão total na Volks, Ford, Mercedes-Benz e Scania) e de autopeças e de outras grandes empresas da região. Pela primeira fez foi organizado um fundo de greve. Os trabalhadores receberam apoio da igreja católica, de entidades civis, do MDB e de artistas famosos. São Bernardo do Campo tornou-se o centro político do país.

Com adesão maciça dos trabalhadores, a sede do Sindicato dos Metalúrgicos ficou pequena para o movimento. A primeira assembleia dos grevistas foi transferida para o estádio municipal da Vila Euclides, cedido pelo prefeito Tito Costa (MDB). Cerca de sessenta mil trabalhadores ocuparam o gramado e as arquibancadas. Na falta de palanque e sistema de som, o presidente do sindicato, Luiz Inácio da Silva, o Lula, falou de cima de uma mesa de escritório usando um megafone. Suas palavras eram repetidas em coro pelos trabalhadores mais próximos e repassadas pelos que estavam atrás.

No primeiro dia de greve, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) informou que não concederia nada além do reajuste de 44% negociado na véspera com a Federação dos Metalúrgicos de SP, controlada por pelegos. A pedido da Fiesp, o Tribunal Regional do Trabalho decidiu que o movimento era ilegal e determinou o retorno ao trabalho. No dia seguinte, os trabalhadores criaram o fundo de greve para receber doações e alimentos, preparando-se para uma paralisação prolongada.

No domingo, dia 18, oitenta mil metalúrgicos decidiram manter-se parados até que os patrões aceitassem negociar o reajuste salarial. Muitos levaram as famílias ao estádio de Vila Euclides naquele domingo. O bispo de São Bernardo, dom Claudio Hummes, participou da assembleia e rezou o “Pai Nosso” em coro com os trabalhadores. A greve do ABC já havia se alastrado para outras cidades industriais, como São José dos Campos (SP).

A repressão tornou-se feroz na segunda-feira, quando milhares de policiais militares ocuparam as ruas do centro e dos bairros operários de São Bernardo. A PM levou a tropa de choque, a cavalaria e cães policiais para intimidar os operários. No dia 23, o ministro do Trabalho, Murilo Macedo, determinou intervenção federal nos três sindicatos de metalúrgicos do ABC. Lula e os diretores depostos do sindicato de São Bernardo passaram a se reunir na casa paroquial da igreja matriz de São Bernardo, cedida por dom Claudio.

Quatro dias depois da intervenção, Lula propôs à assembleia uma trégua de 45 dias – até maio, quando começariam a ser pagos os salários com o reajuste anual. Nesse dia, Lula pediu a confiança dos metalúrgicos e disse: “Que ninguém, nunca mais, ouse duvidar da capacidade de luta dos trabalhadores”. Ao longo da trégua, a direção destituída do sindicato continuou mobilizando a categoria em reuniões na matriz, nos bairros e nas portas de fábrica. No 1º de Maio, 150 mil pessoas participaram de um ato pelo Dia do Trabalhador no Estádio de Vila Euclides.

Ao final da trégua, em 13 de maio, nova assembleia na Vila Euclides aprovou a proposta dos patrões de um reajuste geral de 63%. A intervenção foi suspensa e a diretoria eleita reassumiu o sindicato em 18 de maio. Mesmo sem alcançar a reivindicação inicial de 78%, a greve de março consolidou a organização e a independência do movimento.

Este texto é um trabalho do Memorial da Democracia, o museu virtual das lutas democráticas do povo brasileiro, que é mantido pela Fundação Perseu Abramo e pelo Instituto Lula.

Há 41 anos: a grande greve dos trabalhadores do ABC