Por ocasião do lançamento da pré-candidatura de Manuela D’ávila à presidência da República, pelo PCdoB, deu-se um debate interessante sobre as músicas escolhidas para ornar a ocasião. Como bem notou o blogueiro Paulo Sampaio (leia aqui), as referências musicais eram todas quinquagenárias, com “hinos” da velha guarda da MPB que no passado animava a esquerda na luta pelo fim da ditadura militar.

De fato, temos que convir que entre nós da esquerda brasileira – pelo menos aqueles que já passaram dos 40 – há um saudosismo um tanto melancólico em relação ao nosso repertório musical. Não raro, companheiros e camaradas se lamentam da falta de novos talentos e da ausência de renovação de nossa acalantada MPB. Será?

Não resta dúvida que não há na cena atual estrelas com o brilho do Chico Buarque, da Gal Gosta ou do Milton Nascimento. Entretanto, como muitos já disseram, isso não é necessariamente uma questão de carestia de talentos, mas talvez apenas o resultado da pulverização dos meios e das infinitas possibilidades musicais que foram abertas com as novas tecnologias digitais.

Entretanto, mesmo nesse quadro de névoa pixelada, onde os lampejos esparsos não duram o suficiente para reluzir como estrela, muita coisa boa tem fervido o coração da gente. Entre tantos, o álbum “Tropix”, da cantora e compositora Céu é um notável exemplo – sim, eu sei, o álbum é de 2016, mas convenhamos que, em se tratando de música, é recomendável que se viva enroscado nela por um tempo antes de opinar a respeito.

Pois bem, depois de uns tantos meses convivendo com suas faixas doces, concisas e rebitadas por sons eletrônicos, confesso que me enamorei – pelo álbum e pela voz da Céu. Como bem alertou o crítico Silvio Essinger (leia aqui) “Tropix”, o quarto álbum da cantora de voz rouca e suave é aliciante, vai te capturando sem fazer força. Misturando uns riffs que poderiam sair de uma balada de Jerry Adriani a sintetizadores que fazem lembrar os timbres “new wave” de Garry Newman ou da banda Devo o disco é uma pequena joia. Despretensioso, leve, mas arrebatador.

Entre suas doze faixas, difícil dizer quais seduzem mais. Perfume do Invisível sem dúvida estaria entre as mais perigosas. Numa tacada só, faz o pulso da gente oscilar entre uma melancolia gostosa e uma contida batida dançante. Já em Amor Pixelado, outra viagem romântica polvilhada de efeitos sintetizados que soam como os twins dos lança-perfumes. E para quem alguma vez já se largou pelas praias do litoral paulista, Varanda Suspensa é especialmente recomendada. Com uma toada maneira e imprescindíveis acordes bregas, perambula-se em um fim de tarde “neon” por algum meandro do canal de São Sebastião.

E assim vai…. Muita música boa, em um disco com características muito próprias e de excelente qualidade. Ironicamente, uma única música destoa das demais: Chico Buarque Song. Justamente uma das poucas que não foi composta pela Céu e que faz homenagem ao compositor que marcou aquela grande geração da MPB que cinquenta anos atrás fazia dos festivais da canção uma vigorosa arena de resistência democrática.

O álbum pode ser ouvido neste link.

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