Prisioneiros de si e de seu próprio ódio
Em artigo que escrevi semana passada, intitulado ‘Marielle’, condeno a opressão e os atos de violência de todo tipo, principalmente a violência física, tão farta no Brasil, presente no cotidiano e exposta dia e noite nas TVs e rádios.
Locutores, “animadores” e os autodenominados repórteres policiais, através de suas posições nos meios de comunicação, incentivam a violência. Incentivam a lei do “olho por olho” (Código de Hamurabi), ou seja, incentivam mais violência.
No artigo “Marielle”, escrevo que a burguesia brasileira e parte da classe média, imaginando-se elite, construíram-se “como superiores e, na sua ‘superioridade’, olham para os de baixo com desprezo e gana de destruição”. Olham para os “de baixo” e os afrontam, oprimem ou ignoram. Até recentemente eles eram invisíveis. Tornaram-se visíveis com as políticas sociais do PT (Lula e Dilma). Portanto, agora devem ser destruídos ou voltarem a ser invisíveis.
Dia desses fui visitar um conhecido artista curitibano. Durante a visita, entrou na sua galeria, ou local de trabalho, uma senhora. Assim que ela entrou, senti que poderia ser uma amiga dele. Não afirmo que é amiga porque cada qual tem seu próprio conceito de amigo(a).
Entrou, esticou a mão e o cumprimentou. A mim, sequer um olhar. Eu me senti invisível. Não era a primeira vez. Outras vezes já fui invisível, como muitos já o foram.
Educado, constrangido e alegre por eu estar ali, o artista me apresentou: disse quem fui e quem sou. Mesmo assim, ela não me cumprimentou e disse mais ou menos o seguinte: “Sou polaca, tenho muita roupa vermelha e não uso mais nenhuma delas. Já votei no Lula e o quero preso, principalmente depois do que ele disse hoje na rádio de Foz do Iguaçu”.
Não sabia o que o Lula tinha dito e tampouco perguntei. Não a contestei porque entendi que não valeria a pena. E outra, é impossível um ser invisível contestar. Quando ela entrou, imagino, já sabia quem eu era. Razão para não me cumprimentar.
A pessoa que odeia uma ideia reage agredindo o portador da ideia. São várias as maneiras de agredir: física, com palavras, descaso, opressão, etc. Como ela parecia ser uma senhora inteligente e me pareceu ser uma psicóloga, ficava feio uma agressão física, então procurou me tratar com descaso, ou seja, agressão psicológica. Ela chegou dizendo que estava com pressa e que só tinha três minutos, e queria comprar o livro que ele acabara de lançar. Ela tinha mais do que três minutos. Minha presença é que era o limitador do tempo, mas, para desgosto dela, acabou ficando, não cronometrei, cerca de 20 minutos.
Éramos três nesta galeria, mas ela só via um, seu interlocutor. Subjugada ao ódio às ideias que discorda, era prisioneira de si mesma. Não importa por onde caminhe, mesmo que não veja, está prisioneira de seu ódio e de si própria.
Ao contrário dela, procurei ser educado. Entendo que esta é uma maneira de derrotar o ódio e a intolerância, até mesmo para não ser a caça dele. Assim como entrou, saiu: despediu-se do artista, e como eu estava invisível, não havia razão para se despedir de mim.
Continuei mais um tempo com ele. Comprei o seu livro “Como Ver” ou “Comover”, com os óculos em 3D para ver melhor e, ao mesmo tempo, ver mais de um livro. Comovido, saí. Comovido, ele notou o comportamento da senhora em relação a mim e, ao nos despedirmos, reagiu com o abraço apertado e gestos em solidariedade a mim. Nós (eu e ele) continuamos ali, livres, e ela, prisioneira de seu próprio ódio, saiu.
O assassinato de Marielle parece que não serviu de lição para os construtores da violência. Querem mais violência, e isto está sendo demonstrado pela truculência com que a Caravana de Lula tem sido recebida.
A Caravana tem servido para demonstrar que são muitos os prisioneiros de si e de seu próprio ódio.
Juntos com Lula, caminhamos em busca da liberdade e, apesar de vítimas da violência dos fascistas, pregamos a não violência.
Publicado no site Congresso em Foco
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