Lula em Chapecó: “Fascistas, aprendam a viver em democracia”
O primeiro passo de Lula ao deixar o palco em Chapecó (SC), neste sábado (24), se inscreveu na história da democracia brasileira no instante mesmo em que se iniciou. Foram dias de muita caminhada se deparando em diversos pontos com a violência daqueles que insistem em disseminar ódio.
Os muitos ataques e ameaças que Lula pelo Brasil vem sofrendo em sua jornada pelo Sul do país não intimidam quem dedica a vida a lutar por um ideal de democracia e justiça. Foi munida desse sentimento que uma multidão de homens e mulheres de todas as idades e classes sociais se colocaram em fila para conduzir o ex presidente Lula em segurança pelas ruas da cidade catarinense após um ato histórico na praça Coronel Bertaso.
Passaram o dia resistindo à chuva e aos ataques de um pequeno grupo organizado de direita que insistia em tentar impedir a realização de um encontro entre o povo e uma das maiores lideranças da história do Brasil. Bombas, gás lacrimogêneo, ovos, pedras e ofensas não têm força suficiente para barrar a força de um sonho. E, assim, uma tarde de confrontos e tensão se encerrou numa noite de exaltação.
De seu lado, Lula dirigiu-se de forma descontraída e firme a milhares de pessoas denunciando a hipocrisia dos que o acusam e atacam seu nome e o dos que o apoiam, bem como a escalada de violência que tem tomado o lugar da discussão política. Enfrentou o clima hostil caminhando com a grandeza e a tranquilidade de quem caminha entre os seus.
Após encerrar o ato, Lula desceu do palco e seguiu, entre a multidão aberta em fila indiana, ao lado do povo, como sempre fez em toda a sua trajetória. Não há resposta mais retumbante a quem tenta impedi-lo de seu direito de ir e vir, de olhar dos olhos do povo, de manter-se em liberdade, do que ser guiado e abraçado por aqueles que sabem de seu caráter e vivem na pele os efeitos de seu legado de luta.
Lula afirmou que não se pode ser raivoso, mas não se pode aceitar os ataques da direita fascista. “Somos paz e amor, mas não pensem quem vamos dar a outra face, vamos dar porrada se não tratarem a gente com respeito”.
O ex-presidente ainda ironizou os adversários que tentaram soltar rojões na cabeceira da pista de pouso por onde cegou na cidade e que continuavam a fazer barulho durante o ato.
“Eu nunca tive direito de ter um rojão na minha campanha, agora estou percebendo que a oposição está soltando rojão em minha homenagem. Eu to feliz porque nunca tive tanto rojão na minha vida. Acho bom guardarem rojão para soltarem na minha vitória”.
“De todas as campanhas que participei e dos anos de PT, nunca viram o PT atrapalhar um comício de um partido adversário. A lei estabelece que um partido para fazer atividade, tem que requisitar o local e uma vez concedido se outro partido quiser fazer que busque outro local”.
Esses herdeiros políticos do fascismo não conseguem juntar gente para fazer comício e querem impedir que as pessoas façam debate. E o que é mais grave, se tivessem passado fome uma vez na vida, estariam comendo ovo ao invés de tacar ovo”.
“Nunca fui proibido de sair do hotel e hoje fui proibido. é como se quisessem impedir o melhor da seleção jogar, se querem ganhar, disputem as eleições”, reclamou Lula, que se colocou em solidariedade ao povo argentino que se manifestou em memória às vítimas da ditadura.
“Eu as vezes fico pensando qual o ódio que eles têm de nós. Um bando de moleques que nunca trabalharam. Certamente nunca passaram no Enem e estão incomodados porque filho de camponês passou. Essa gente me desculpe, mas se tivesse o mínimo de decência, estaria beijando o meu pé. Estariam limpando a calçada onde passei porque nunca teve um presidente que investiu em Santa Catarina como nós investimos em 12 anos de mandato de PT”.
“Eu tenho a cara de desafiar o Moro, a Polícia Federal e os juízes do TRF4 a provar se são mais honestos que eu nesse país. Desafio a provar uma única coisa criminosa que fiz nesse país. A perseguição não é ao Lula, mas ao que o PT fez nesse país”.
“Se pegar todos os presidentes desde 1889, desde quando foi proclamada a república, todos eles não fizeram a ascensão social que o PT fez em 12 anos”.
“Tenho um profundo orgulho de ser o primeiro presidente a não ter diploma universitário e ser o primeiro a fazer mais universidades e escolas técnicas, e colocar mais gente na universidade. Eles não se conformam na gente colocar gente na universidade”.
“Eles não se conformam com uma filha de empregada domestica fazer curso de medicina. Eles não se conformam e começaram a acusar o aeroporto de rodoviária porque os pobre começaram a andar de avião. Começaram a me xingar porque teve muito pobre na estrada andando de carro”.
“Não se conformam da gente ter levado luz elétrica para 15 milhões de pessoas nesse país. Não se conformam da gente ter criado crédito consignado para trabalhador. Não se conformam que todo ano o trabalhador teve aumento acima da inflação. Não se conformam que enquanto a Europa desempregou 62 milhões de seres humanos, esse país criou mais de 20 mi de empregos com carteira assinada”.
“Não se conformam que em 2014 o Brasil tinha 4% de desemprego, é padrão nórdico, e eles falavam como esse analfabeto fez isso. O que eles não sabem é que não tenho curso teórico de economia, mas tenho o curso prático do que o povo precisa”.
“Aprendi a fazer a fazer ajuste fiscal para sobreviver com minha mãe. O ajuste fiscal deles é cortar orçamento, e não é de banqueiro ou empresário, mas das coisas que beneficiam o povo brasileiro. De 2004 a 2014 a aposentadoria foi superavitária nesse país. A gente pode fazer mudanças na previdência, o que a gente não pode é jogar as custas das desgraças desse país nas costas das pessoas mais pobres. Isso que me deixa inconformado. Essa gente tão estudada não sabe cuidar desse país. Deixe o torneiro mecânico mostrar como a gente vai cuidar desse país”.
“Pergunte se eles querem sabem como o Brasil pode ser protagonista internacional. Eu fui o único presidente da república que participou de todas as reuniões do G8 nesse país”.
Lula lembrou do ex-presidente dos Estados Unidos, George Bush, defendendo a guerra no Iraque, quando ele disse que no Brasil sua guerra era contra a fome.
“Me dei conta que eram todos iguais e o diferente era o Lulinha, porque trabalhei 27 anos em uma fábrica. O único que tinha acordado com enchente, com rato boiando e merda na minha cama. No dia seguinte tinha que limpar com lesma e sanguessuga no pé da gente”.
“Eu falei que eles nunca passaram por isso, nunca comeram de marmita, não sabem o que é um ovo frito amanhecido. Resolvi falar mais grosso do que eles porque represento milhões de seres humanos e eles representam a elite”.
“Por isso terminei meu mandato sendo o presidente mais popular de uma democracia. Por isso o Obama teve que falar que eu era o cara”.
“Nem queria ser candidato mais, mas apareceram umas mentiras conta mim, uma parte da Polícia Federal, da Lava Jato, a imprensa, o Ministério Público através do Dellagnol, um cara que aprendeu a empinar pipa no ventilador, a jogar bola de gude no carpete”.
“A imprensa conta mentira, o Ministério Público repete a mentira e o Moro aceita a mentira e me condenou. Essa gente não sabe que fui criado por uma mulher analfabeta, que me ensinou que caráter e honra não se aprende na universidade e não se compra no mercado nem na feira. Por isso resolvi comprar a briga. Por isso desafio todos eles a provar qualquer crime que cometi”.
“Eles não têm como sair dessa porque quem conta a primeira mentira passa o resto da vida justificando essa mentira”.
“Eu não estou acima da lei, mas também não estou abaixo de nada. Quero defender o meu direito, quero que os juízes julguem o mérito da acusação, leiam a defesa e que se eu cometi um crime eu tenho que pagar, mas se eu não tiver cometido, por favor, a palavra desculpa não é feia, só pode falar quem tem honra”.
“Poderiam ter me matado, poderiam ter dado um golpe militar, mas militar não sabe governar, aí resolveram usar o judiciário, desgastar o Lula, dizer que ele é corrupto, fazer todo tipo de acusação. Como deus escreve certo por linhas tortas, depois de 60 horas de Jornal Nacional contra mim, mais milhares de páginas de jornal, quando faz uma pesquisa o povo diz que o Lula não é. Isso que incomoda eles”.
“Quando eu era presidente do sindicato em 1968, eu ia para a porta da fábrica e perguntavam se eu tinha medo, e eu dizia que meu único medo era mentir para os trabalhadores que eu represento. Eu queria dizer para vocês de Santa Catarina que eu to olhando para a cara de cada um e olhem para a minha cara. Se eu tivesse cometido um crime, teria que vir aqui pedir desculpas. Eu ofereço minha inocência em troca da confiança que vocês tem em mim”.
“Eu falo todo dia que tenho 72 anos, energia de 30 e tesão de 20. Eles sabem que se eu for candidato eu ganho as eleições no primeiro turno e eles sabem que vou recuperar esse país”.
“Nós vamos fazer referendo revogatório ou constituinte para desfazer toda a desgraceira que a direita fascista fez depois de derrotar a Dilma. O povo vai viver melhor”.
“Eles tem medo de mim porque valorizo muito a profissão. Primeiro porque um homem que tem profissão garante melhor a tranquilidade da família. Segundo, porque a mulher, além do salário, conquista uma coisa fantástica com a profissão, que é sua independência. Ela não vai viver com alguém a troco de feijão. Isso que eles não querem”.
“Não querem que a gente valorize o povo LGBT. Nós vamos construir uma nação de homens e mulheres livres, cada um com sua opção sexual, o que importa é que aprendemos a gostar das pessoas como elas são e não como queríamos que fossem. É esse Brasil que vamos criar”.
“Vamos recuperar esse país para o povo brasileiro”, finalizou Lula.
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Com mediação do deputado federal Pedro Uczai, no início da tarde, os ânimos foram contidos e a situação organizada já no início da tarde. Excessos cometidos foram prontamente denunciados pelo líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta, no palco, no instante mesmo em que aconteceram. O parlamentar ressaltou que a realização de um ato pacífico é um direito do povo, e sua integridade física é, sim, responsabilidade das autoridades, que têm de garanti-la.
Nas palavras de Lula, os militantes do Partido dos Trabalhadores são paz e amor. Mas não pensem que, ao ter uma face agredida, se oferecerá a outra. Todos as agressões sofridas pelo PT e seus apoiadores serão firmemente denunciadas às autoridades competentes para investigação.
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