Conforme combinado com o mercado, a diretoria do Banco Central anunciou ontem a redução dos juros básicos em 0,75 pontos percentuais, levando a Selic ao patamar de 7,5% ao ano. Embora na grande mídia o feito tenha sido repercutido com cínico entusiasmo, o fato concreto é que, em meio a uma grave falta de pulso de nossa economia, o Copom (a diretoria do BC) decidiu diminuir o ritmo de queda, visto que na reunião de 6 de setembro a queda tinha sido de 1 ponto percentual. Com isso, a economia permanece sem pulso e a taxa de juro real extremamente elevada – ainda a terceira mais alta do planeta (veja ranking aqui).

Na verdade, como a inflação acumulada nos últimos doze meses se mantém abaixo dos 3% ao ano (o IPCA-15 medido em 20 de outubro registrou alta de 2,56% a.a.), a taxa de juro real ex-post (isto é, a que considera a inflação passada e não a projetada) deve encerrar 2017 ainda acima dos 4%. Um patamar muitíssimo elevado que dificulta sobremaneira a necessária retomada do crescimento econômico (para saber mais sobre a evolução recente da nossa taxa básica de juros em suas diferentes medidas, leia aqui).

Mais grave do que isso, entretanto, são as justificativas apresentadas pelo Banco Central em seu comunicado pós reunião:

1º) diz que “o conjunto dos indicadores de atividade econômica divulgados desde a última reunião do Copom mostra sinais compatíveis com a recuperação gradual da economia brasileira”. Uai? Mas todos os indicadores de atividade apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registraram retração em sua última medida, e o próprio IBC-Br, indicador antecedente elaborado pelo BC, registrou queda de 0,38% do Produto Interno Bruto (PIB) em setembro.

2º) diz também que “as expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus recuaram para em torno de 3,1% para 2017”. Uai? Então não seria o caso de o BC agir no sentido inverso, ampliando o ritmo de redução dos juros?

3º) por último, quando trata de analisar os cenários de risco que justificam a cautela, a canja de galinha e o dinheiro curto, o comunicado do BC no informa que “uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária”.

Pronto. Com esse terceiro esclarecimento fica tudo muito mais inteligível. Se antes, para baixar os juros, diziam ser necessário aprovar o teto dos gastos públicos e depois a reforma trabalhista, agora sacam do portfólio a “continuidade das reformas”, isto é, o rapa na Previdência. De chantagem a chantagem, seguem mantendo a taxa de juro real no rentável patamar do gogó da ema, enquanto o redivivo centrão cuida de fazer o desmonte do nosso tímido Estado Social.

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