O resultado do congresso do SPD alemão e do Partido Comunista da China, e das eleições na Argentina, Colômbia, Guatemala, Cuba, Suiça, Polônia e Ucrânia. A mudança das fronteiras de Honduras, o lançamento do Banco do Sul, a relação dos EUA com o Irã e da Turquia com o Iraque e EUA, mais um golpe no Paquistão, a questão do Haiti e o prêmio Nobel da Paz de 2007 são os destaques no boletim número 19.

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Cristina Kirchner venceu as eleições presidenciais na Argentina
Resultado das eleições estaduais e municipais na Colômbia
Colom será o novo presidente da Guatemala
Honduras recebe soberania de ilhas no Caribe e muda suas fronteiras
Realizadas eleições municipais em Cuba
Lançamento do Banco do Sul
Haiti – ONU renova permanência da MINUSTAH no país
EUA versus Irã
Congresso do SPD alemão reelege direção e se distancia do CDU
Direita xenófoba avança na Suiça
Mudança de governo na Polônia
Eleitores ucranianos fortalecem aproximação com a União Européia
Turquia – Pioram as relações com o Iraque e o mal-estar com os EUA
Paquistão – o retorno de Benazir Bhutto e mais um golpe
Congresso do Partido Comunista da China aprova a estratégia de desenvolvimento para os próximos anos
Al Gore e o IPCC da ONU recebem o prêmio Nobel da Paz de 2007

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Cristina Kirchner venceu as eleições presidenciais na Argentina

Tendo alcançado 45% dos votos no dia 28 de outubro, Cristina Kirchner foi consagrada vencedora no primeiro turno das eleições presidenciais argentinas em representação de uma das três sublegendas do Partido Justicialista (Peronista). A segunda colocada foi Elisa Carrió pelo partido ARI (Alianza por uma República de Iguais) que alcançou 23% dos votos.

O ARI é uma dissidência progressista da União Cívica Radical (UCR) ocorrida durante a crise argentina de 2001, quando o presidente Fernando de la Rua eleito pela UCR, acabou renunciando.

O terceiro colocado foi Roberto Lavagna, ex-ministro da economia do governo de Eduardo Duhalde, bem como durante uma parte do mandato de Nestor Kirchner. Ele compôs uma chapa com a UCR, apesar de um grupo dissidente deste mesmo partido ter indicado o candidato a vice – presidente de Cristina Kircner. Obteve 17% dos votos.

Tudo indica que quando terminar o mandato presidencial de Nestor Kirchner, ele dedicará seu tempo para organizar um partido político que reúna a esquerda e a centro esquerda do peronismo sob sua liderança.

Além da vitória da candidata presidencial que apoiou, conta para isto, também com um resultado positivo nas eleições parlamentares. A nova presidente contará com maioria confortável no senado, 44 das 72 cadeiras, e na câmara, 153 do total de 257 cadeiras. O ARI terá a maior bancada de oposição 35 deputados. A maioria dos governadores e prefeitos eleitos ao longo de 2007 também serão seus aliados.

Duhalde será o provável articulador da direita do justicialismo. Nas eleições presidenciais se aliou a Macri, recém eleito prefeito de Buenos Aires e apoiaram o candidato presidencial Jose Lopez Murphy, que, no entanto, recebeu apenas 1,5% dos votos.

Independentemente das especulações sobre o futuro da política argentina, o resultado destas eleições fortaleceu a tendência progressista no continente e mais uma vez desmontou as tentativas da grande imprensa de influenciar o resultado a favor da direita. Leia mais em: http://www.pagina12.com.ar e http://www.ipsnoticias.net.

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Resultado das eleições estaduais e municipais na Colômbia

Na mesma data das eleições presidenciais argentinas ocorreram também eleições na Colômbia para escolher 1.097 prefeitos, 32 governadores de departamentos – equivalentes aos estados brasileiros – e 418 deputados departamentais.

O resultado para a esquerda foi importante. Em primeiro lugar por que por intermédio do Pólo Democrático Alternativo (PDA) ampliou seu índice de votação em geral. Segundo por que seu candidato a prefeito de Bogotá, Samuel Moreno obteve o melhor resultado eleitoral da história do partido, 43,5% dos votos, e sucederá a Lucho Garzón que também é do Pólo e que fez um mandato considerado positivo.

No governo do Departamento de Nariño, o PDA emplacou o ex-líder do grupo guerrilheiro M – 19 e atual senador Antonio Navarro Wolf que foi um dos pré-candidatos internos do partido para a eleição presidencial da Colômbia, mas que acabou cedendo lugar a Carlos Gaviria que, por sua vez, é o atual presidente do partido. Nos departamentos de Atlântico e Santander compôs com candidatos vitoriosos do Partido Liberal que também faz oposição ao governo Uribe.

Os partidos que apóiam explicitamente o presidente Uribe, elegeram 363 prefeitos e 12 governadores. O Partido Liberal que ficou em terceiro lugar na última eleição presidencial elegeu 206 prefeitos e seis governadores.

Os demais foram eleitos por partidos menores ou por meio de candidaturas independentes (sem partido).

O presidente Álvaro Uribe acusou o golpe e começou a falar em modificar novamente a Constituição para candidatar-se a um terceiro mandato, o que seria “justificável diante de uma hecatombe”, segundo suas declarações. Leia mais em: Vote Bien – site com resultado das eleições de 28 de outubro e artigos relacionados, Colombia’s left wins in capital, but right holds sway elsewhere in nationwide votes, Paramilitares colombianos lanzan partido político, Colombia’s Uribe considers seeking a 3rd term to avert catastrophe, Página Oficial do Polo Democratico Alternativo e Página Oficial do Consejo Nacional Electoral de Colombia.

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Colom será o novo presidente da Guatemala

No segundo turno das eleições presidenciais realizadas na Guatemala em 4 de novembro, sagrou-se vencedor o social – democrata da “Unidad Nacional de la Esperanza” (UNE) “Alvaro Colom por 53% dos votos contra o candidato da extrema direita do “Partido Patriota”, o general reformado Otto Perez Molina.

A abstenção eleitoral no segundo turno foi, no entanto, alta, de quase 50% dos inscritos, enquanto no primeiro turno havia sido menor, em torno de 40%.

Enquanto Molina fazia sua campanha defendendo “punho firme” no enfrentamento dos altos índices de criminalidade e violência no país, Colom argumentava que a Guatemala não necessitava mais de militares no governo.

Colom terá uma grande bancada parlamentar que o apoiará no geral, mas não terá votos suficientes para aprovar qualquer tipo de proposta e terá que negociar para obter a maioria absoluta dos votos, por exemplo, se quiser alterar a Constituição.

Resta saber se terá vontade política e a habilidade necessária para aprovar as medidas para elevar o nível de vida, pelo menos da população mais pobre, como prometeu, bem como reduzir a criminalidade e a violência sem abrir mão do devido respeito aos direitos humanos. Leia mais em: Final cerrado para la segunda vuelta en Guatemala.

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Honduras recebe soberania de ilhas no Caribe e muda suas fronteiras

A Corte Internacional de Justiça de Haia entregou a Honduras, no início de outubro, a soberania de quatro ilhas do Mar do Caribe (Bobel, South, Savanna e Port Royal), reclamadas pela Nicarágua.

Além disso, a CIJ estabeleceu uma mova linha fronteiriça entre os dois países desconhecendo os apelos de ambos os países em redefinir as linhas marítimas. De acordo com Honduras a fronteira estava no paralelo 15 e segundo Nicarágua no paralelo 17. A linha está localizada, no julgamento da Corte, na linha bissetriz entre os dois litorais.

Os presidentes de Honduras, Manuel Zelaya, e Nicarágua, Daniel Ortega, prometeram acatar a decisão de Haia.

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Realizadas eleições municipais em Cuba

O sistema eleitoral cubano começa nos bairros, onde os cidadãos propõem os candidatos a delegados do Poder Popular e estes nomes são submetidos à votação. E a partir desta base constituem-se os Conselhos Municipais de Cuba.

Em 21 de outubro, mais de oito milhões de cubanos foram às urnas eleger, por meio de voto secreto e direto, os 15.326 membros das 169 assembléias do Poder Popular. Para a votação foram apresentados 37.328 candidatos, que não necessitam pertencer a qualquer organização e nem partido. O único requisito é haverem sido indicados por algum cidadão cubano.

Ao terminar o horário de votação, qualquer cidadão pode observar a contagem dos votos recolhidos nas urnas. Os candidatos que não conseguiram a maioria absoluta dos votos participaram de um segundo turno entre os mais votados, realizado no dia 28 de outubro.

Os eleitos têm um mandato de 30 meses. Os delegados eleitos em âmbito municipal não recebem remuneração alguma e podem ter seus mandatos anulados em qualquer momento, se os cidadãos considerarem que não estão sendo corretamente representados.

O direito ao voto e à nomeação de acordo com a legislação cubana corresponde a todos os cidadãos maiores de 16 anos, “capacitados mentalmente” e sem sanção penal.

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Lançamento do Banco do Sul

Reunidos em Brasília no início de outubro, os ministros de Economia e de Finanças de Argentina, Brasil, Venezuela, Uruguai, Paraguai, Equador e Bolívia chegaram a um acordo quanto à ata de fundação do Banco do Sul.

Foi marcada para 3 de novembro, na capital venezuelana Caracas, a assinatura do documento oficial de fundação. Lá também deve funcionar a sede da instituição, que terá sub-sedes em Buenos Aires e Rio de Janeiro.

Ainda não estão definidos o capital e as cotas de participação de cada país na nova instituição, mas o que já está acertado é que, num primeiro momento só poderão ter acesso aos financiamentos os 12 países que formarão a Unasul, antiga Comunidade Sul-Americana de Nações: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Uruguai, Suriname e Venezuela.

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Haiti – ONU renova permanência da MINUSTAH no país

O Conselho de Segurança da ONU renovou em 15 de outubro o mandato da MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti) por mais um ano, ampliando suas atividades também para o combate ao tráfico de armas e drogas.

A extensão da missão, liderada militarmente pelo Brasil, foi concedida a partir de um pedido do primeiro-ministro haitiano, Jacques Edouard Alexis.

Em setembro passado, o ministro Nelson Jobim (Defesa) esteve no Haiti e chegou a discutir a possibilidade de aumentar o efetivo, atualmente em 1.200 homens, para atuar na reconstrução da infra-estrutura do país, o mais pobre da região.

Embora a resolução aprovada cite “melhora significativa” na segurança, ela justifica que “o tráfico internacional de drogas e de armas continua a afetar a estabilidade” haitiana.

Esta é a primeira vez que o mandado da Minustah é renovado por um ano. Até então ele vinha sendo renovado a cada seis ou oito meses, apesar dos pedidos do Brasil por uma renovação mais longa. A China, dona de poder de veto no CS, se opunha à missão porque o Haiti reconhece a independência de Taiwan, que Pequim tem como uma Província rebelde.

O texto aprovado ontem adotou a recomendação do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para reduzir o contingente da Minustah em 140 homens para 7.060 soldados.

A infantaria será reduzida, e a força policial da missão, aumentada para 2.091 homens. A ênfase é a fronteira: segundo a resolução, a extensa costa haitiana, com seus desprotegidos portos e pistas clandestinas de pouso.

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EUA versus Irã

O Irã configura-se como um grande desafio para a política externa dos EUA. As políticas desenhadas pela administração Bush e desenvolvidas ao redor do presidente Mahmoud Ahmadinejad colocaram os dois países em rota de colisão. Talvez nem mesmo a possível aposentadoria dos neo-cons de George W. Bush após as próximas eleições seja o suficiente para evitar uma guerra.

Há um debate composto por informações equivocadas nos EUA sobre o Irã que contribui para o desentendimento entre os dois países estimulando os EUA ao confronto.

O Irã não promoverá mudanças no seu sistema político tão cedo. Sua política externa é coerente e aponta para a busca de sua liderança na região, o programa de enriquecimento de urânio não quer necessariamente dizer que uma bomba nuclear esteja em construção. A pressão exercida sobre o país e a busca por estabilidade no Oriente Médio por isolá-lo tem justamente o efeito contrário, de fazer com que o Irã tente minar os esforços norte-americanos na região.

No entanto, apesar das diferenças, houve momentos em que os dois países cooperaram com sucesso, como em 2001 na derrota do Taleban e criação do novo governo do Afeganistão. De acordo com os diplomatas dos EUA envolvidos, a constituição afegã só foi possível devido ao ativo papel do Irã. Ou em 2003, antes da invasão do Iraque pelas forças norte-americanas, quando o Irã apresentou aos EUA um pacote de negociações que foi esnobado pela administração de Bush.

Os neo-cons da administração republicana continuam batendo na tecla de que é impossível lidar com o Irã em termos diplomáticos, até porque os EUA hoje estão enfraquecidos devido aos impasses gerados pelas ações no território iraquiano.

Até o final de 2005, o vice-presidente Dick Cheney e seus aliados acreditavam que haveria mudança de regime no Irã, mas após verificar que isso não aconteceria, iniciaram a campanha por ações militares contra o país a fim de levar adiante seus planos de redesenhar o mapa geopolítico do Oriente Médio.

De acordo com o que imaginavam os assessores de Bush, a retirada de Saddam Hussein do poder, faria com que um Iraque sob regime de democracia formal influenciasse a região trazendo outros países para a órbita americana. A partir dos ataques de 11 de setembro, alguns aliados de Cheney no Pentágono definiram como objetivo remover todos os regimes da região que fossem hostis aos EUA ou a Israel.

O plano, segundo o general Wesley Clark – que recentemente se aposentou do seu posto no comando de uma das divisões do exército dos EUA – ouviu de um colega que o Pentágono tinha um plano para desestabilizar sete regimes em cinco anos. O plano se iniciaria com a invasão do Iraque e depois seguiria afetando Síria, Líbano, Líbia, Somália e Sudão, e voltaria ao final para lidar com o Irã, segundo o relato de Clark em seu livro “Winning Modern Wars”, publicado nos EUA em 2003.

Em setembro de 2003, Cheney trouxe para seu gabinete David Wurmser, como assessor para assuntos do Oriente Médio. Este costumava expor idéias bem articuladas de como a queda de Saddam ajudaria a desestabilizar o regime iraniano. Wurmser foi um dos co-autores do paper “Clean Break” mencionado no periscópio 17, de agosto passado.

De 2003 a 2005, Wurmser e os neo-cons continuaram negando que as operações dos EUA no Iraque somente fortaleceram o regime iraniano. O fim da crença de que a guerra pudesse influenciar o Irã negativamente foi a vitória eleitoral de Mahmoud Ahmadinejad em 2005. Leia mais.

No interior da administração Bush, a firme reação do Hezbollah ao ataque israelense ao Líbano em 2006 foi usada para explicar a “má” influência do Irã na região e sua ameaça real aos interesses dos EUA. Embora o discurso apresentado fosse para pressionar o Irã a desistir de seu programa nuclear, a questão original de mudança do regime poderia também poderia ter sido utilizada para justificar ações militares. George W. Bush inclusive andou declarando que se o Irã adquirisse armas nucleares, a 3ª Guerra Mundial seria iniciada. Leia mais.

Enquanto os componentes do atual governo continuam apresentando um leque de argumentos pelos quais os EUA não deveriam buscar uma solução diplomática para seus desentendimentos com o Irã, o que também preocupa é a posição dos candidatos melhor colocados na disputa pré-eleitorais.

Ao delinear a política externa que adotará caso vença a disputa pela Casa Branca em 2008, a senadora e pré-candidata democrata Hillary Clinton deixou uma mensagem clara: “todas as opções estão na mesa” para lidar com o Irã.

A frase, que abre as portas para a ação militar, é a mesma usada pelo atual presidente, apesar de toda a retórica crítica de Hillary à atuação republicana. O artigo que desenha as políticas da ex-primeira-dama foi publicado na edição de novembro da revista “Foreign Affairs”. Leia mais.

Aproveitando-se da repercussão deste artigo, Barack Obama, segundo colocado nas pesquisas das internas para a escolha da candidatura democrata e que tem procurado se diferenciar das posições de Hillary concedeu uma longa entrevista ao jornal New York Times.

Nela, o senador declarou que caso seja eleito, se dedicará a “uma agressiva diplomacia pessoal” com o Irã e oferecerá benefícios econômicos e uma promessa de não buscar “mudança de regime” desde que Teerã deixe de municiar grupos rebeldes xiitas no Iraque e coopere em temas como o da não-proliferação nuclear. Leia mais.

Com mais de 45% de intenções de voto entre os candidatos democratas e alcançando recordes de arrecadação para sua campanha, mais de 90 milhões de dólares até agora, Hillary deve ser a candidata democrata à Casa Branca.

Segundo a última pesquisa realizada pelo Pew Research Center, não só dentro do próprio partido, Hillary Clinton lideraria a corrida presidencial. Se a votação fosse hoje, ela receberia 51% dos votos contra 43% do principal concorrente no partido Republicano Rudolph Giuliani. Leia mais em: Pesquisa de intenção de votos para a eleição presidencial de 2008, 31/10/07, pesquisa de intenção de votos nas internas do Partido Democrata, 02/11/07 e dados sobre a arrecadação financeira das campanhas eleitorais.

Apesar do tom diplomático usado no artigo da Foreign Affairs, as posições de Hillary não escondem que ela é a mais beligerante entre os pré-candidatos democratas. Portanto, a questão iraniana poderá permanecer na agenda política mesmo com a saída dos neo-cons da Casa Branca.

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Congresso do SPD alemão reelege direção e se distancia do CDU

Ocorrido entre 26 e 28 de outubro, o congresso do SPD (Partido Social Democrata) da Alemanha terminou com a reeleição do presidente do partido, Kurt Beck, e de seu secretário-geral Hubertus Heil por 95,5% dos votos.

Os 525 delegados oficiais receberam mais de 200 convidados, entre as 70 delegações estrangeiras de organizações provenientes de 55 países, que assistiram a aprovação de teses que propõem uma reversão das reformas liberais no país, levando o partido mais à esquerda.

A reeleição de Beck teve um gosto amargo para Franz Müntefering, ex-presidente do partido e atual componente do governo de coalizão da democrata-cristã Ângela Merkel, pois fortaleceu a posição da maioria do partido de abandonar as tendências mais centristas adotadas desde o governo social-democrata de Gerhard Schröder.

A expectativa de Beck é que a proposta de aumento dos benefícios aos idosos e aposentados possa ajudar o partido a recuperar terreno nas eleições regionais de 2008. A fim de afastar-se das reformas previstas pela “Agenda de Reformas 2010” iniciadas pelo governo Schröder, o partido também quer diminuir os requisitos para a aposentadoria e apóia a criação de um salário mínimo para os trabalhadores com contrato temporário.

O Congresso também discutiu a adoção de limites para a participação de grandes investidores na privatização da Deutsche Bahn, a empresa estatal de transportes ferroviários, embora o partido continue a favor de que algumas reformas sigam seu curso, desde que sejam feitos ajustes na Agenda 2010.

De acordo com os analistas, o principal resultado do Congresso foi tentar devolver ao partido sua imagem tradicional de luta pela proteção do bem-estar e solidariedade social, contrapondo-se ao posicionamento adotado nos últimos anos, de um “partido modernizador” a la “Terceira Via” inaugurada pelo Partido Trabalhista do Reino Unido.

As mudanças no SPD representam também uma tentativa de recuperar eleitores perdidos para o recém-criado Die Linke, que tem sido apontado atualmente como o principal partido de oposição da Alemanha.

Com esta definição de objetivos mais voltados para o social, o congresso do SPD aponta para uma separação gradual da CDU, o parceiro na coalizão de governo, com vistas às eleições regionais de 2008 e gerais de 2009. Leia mais em: Página Oficial do SPD em inglês.

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Direita xenófoba avança na Suiça

Nas eleições parlamentares ocorridas na Suíça em 21 de outubro passado, a União Democrática de Centro (UDC), o partido de extrema direita do país aumentou seu número de cadeiras no parlamento de 55 para 62 do total de 200 assentos no Parlamento Suiço.

Este dado é ainda mais grave porque o comparecimento às urnas foi um dos maiores dos últimos tempos, aproximadamente, 49% dos aptos a votar, e a campanha da UDC se deu praticamente em torno do tema da imigração por intermédio de uma ilustração aonde algumas “ovelhas brancas” expulsavam uma “ovelha negra” de cima da bandeira suíça.

Durante a campanha eleitoral, a extrema direita conseguiu coletar 200 mil assinaturas numa petição que propõe realizar um referendo para alterar a legislação de modo a permitir a expulsão, pura e simples, dos estrangeiros que cometerem qualquer crime no país.

Um dos deputados recém eleitos da UDC já anunciou que proporá uma nova lei que exigirá teste de DNA para comprovar parentesco entre estrangeiros já residentes na Suíça e “supostos familiares” que eles queiram reagrupar no país.

Os “Verdes” também cresceram de 13 para 20 cadeiras e quem perdeu na eleição foram, principalmente, o Partido Socialista (PS) que baixou de 52 para 43 cadeiras, e o Partido Radical Democrático (PRD) que caiu de 36 para 31 assentos.

A definição sobre a composição do novo governo deverá ocorrer na sessão ministerial prevista para ocorrer de 3 a 21 de dezembro. Leia mais.

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Mudança de governo na Polônia

Ao contrário do ocorrido na Suíça, quem perdeu as eleições na Polônia foi a extrema direita que estava no poder. A coalizão do partido da Lei e da Justiça (PiS) com o partido da Autodefesa e com a Liga das Famílias Polonesas havia se rompido e novas eleições parlamentares foram realizadas em 21 de outubro passado e estes dois últimos, agora, não superaram a cláusula de barreira de no mínimo 5% dos votos nacionais.

Os vitoriosos foram os liberais liderados por Donald Tusk da Plataforma dos Cidadãos (PO) que poderá se compor com o Partido Camponês (PSL), tradicionalmente ligado à igreja católica, e alcançar até 75% dos votos no parlamento.

A derrota do primeiro ministro Jaroslaw Kaczynski, irmão gêmeo do atual presidente do país, Leck Kaczynski foi um alívio para muitos, pois a eleição passada dos dois com base em uma plataforma de lei e ordem diante do aumento da criminalidade no país, na prática se transformou num processo de perseguição a seus adversários políticos, em particular, os membros do Partido Comunista Polonês.

Com este resultado, espera-se que o novo governo encaminhe a retirada dos 900 soldados que atuam na ocupação do Iraque, assine a Carta de Direitos Humanos da União Européia e renegocie a proposta de instalação de mísseis americanos em seu território, objeto de profunda contrariedade da Rússia. Leia mais.

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Eleitores ucranianos fortalecem aproximação com a União Européia

O interesse de um setor da sociedade ucraniana de substituir suas relações preferenciais com a Rússia por uma aproximação com os países do Ocidente, em particular a União Européia e os EUA sempre provocou fortes sensibilidades.

A tentativa de impedir a vitória eleitoral do atual presidente Viktor Yuschenko em 2004 provocou uma onda de protestos no país que a imprensa ocidental chamou de “Revolução Laranja” devido à cor dos símbolos de seu partido e ele acabou tomando posse.

No dia 30 de setembro passado, houve eleições parlamentares, mas seu resultado oficial somente foi anunciado no final de outubro devido a um questionamento judicial provocado pelo Partido Comunista da Ucrânia (PCU).

De acordo com o resultado oficial, o partido de Yuschenko, Nossa Ucrânia – Autodefesa Popular conquistou 72 cadeiras, o que somados com os votos de sua aliada Yulia Tymoshenco, cujo partido Bloco Y.T. obteve 156 cadeiras, dão aos dois a maioria no parlamento e o provável é que ela se torne primeira ministra.

O partido do atual primeiro – ministro, Viktor Yanukovich, alcançou 175 cadeiras, o PCU 27 e o partido do ex-presidente Vladimir Litvin, apenas 20.

Este resultado deverá provocar medidas que aproxime a Ucrânia ainda mais da União Européia, dos EUA e da OTAN, considerado inaceitável para o governo Putin na Rússia. Em função do ocorrido em 2004, já havia determinado medidas de pressão sobre o governo ucraniano, como a interrupção do suprimento de gás natural. Resta ver como reagirá agora. Leia mais em: Ukraine leader: accord needed for a stable assembly.

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Turquia – Pioram as relações com o Iraque e o mal-estar com os EUA

Em 17 de outubro, o Parlamento turco aprovou, por 507 votos a 19, uma moção que autoriza o governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan a lançar uma ofensiva militar contra autonomistas curdos que recebem apoio no Iraque. A justificativa para a medida seriam os ataques perpetrados pelo PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) que no início do mês causaram 47 mortes, entre os quais 35 soldados turcos, além de fazer vários prisioneiros.

Em Washington, o presidente George W. Bush de imediato iniciou as presões para que o ataque não ocorresse, pois uma eventual invasão turca do norte do Iraque colocaria em confronto as tropas de Ancara e as norte-americanas, que ocupam o país desde 2003.

Há o precedente de três operações militares turcas no Iraque. A maior delas, em 1997, envolveu 200 mil homens sem, no entanto, neutralizar os autonomistas do PKK engajados em operações de guerrilha no Curdistão turco.

Em 28 de outubro, cerca de 8.000 soldados das forças de segurança da Turquia, protegidos por helicópteros fortemente armados, cercaram áreas rurais nos distritos de Oulumur e Nazimiye em Tunceli. Tunceli está situada a 650 km a nordeste de Hakkari, região fronteiriça entre Turquia e Iraque e refúgio de separatistas, local dos recentes ataques executados pelo PKK.

Segundo o governo turco, o PKK planejava ações em Oulumur que coincidiriam com o 84º aniversário de proclamação da república da Turquia em 29 de outubro.

O exército turco (TSK) deslocou para a região entre 100 e 150 mil homens na área de fronteira, além de tanques e artilharia pesada preparando-se para uma grande ofensiva a posições do PKK em território iraquiano. Em uma entrevista à BBC, no dia 28 de outubro, o ministro de relações exteriores do Iraque, Hoshyar Zebari, declarou que considera a atual crise muito séria e acusou a Turquia de não buscar uma solução pacifica para a situação.

Uma delegação iraquiana encontrou-se com o governo turco em Ancara, na ultima semana de outubro, a fim de propor uma solução que preveniria o PKK de usar suas bases no norte do Iraque para atacar vilarejos e postos militares na Turquia. A proposta incluía esforços coordenados com as forças de defesa do Iraque, os Peshmerga (Forças curdas ligadas ao governo iraquiano) e unidades norte-americanas. A Turquia declinou as ofertas.

A imprensa turca mostrou reportagens onde Zebari revelava a oficias em Ancara que o PKK havia ameaçado explodir oleodutos no norte do Iraque caso Badgá concordasse com as incursões das tropas turcas.

O governo iraquiano suspeita que o exército turco possa não frear sua ofensiva apenas com as ações contra o PKK, mas podem inserir tropas fora da região fronteiriça e decidir permanecer na região por tempo indeterminado para impedir que os curdos estabeleçam um território independente em Kirkusk no norte do Iraque.

Apesar das desconfianças no lado iraquiano, o TSK continua preparando-se para operações de larga escala na fronteira. Contudo, o general turco Yasar Buyukanit sugeriu que nada seria feito antes do encontro do primeiro-ministro Erdogan com George W. Bush em Washington, no dia 5 de novembro. Para os EUA, a Turquia deveria abster-se de lutar contra o PKK em solo iraquiano e encontrar uma alternativa através de arranjos tripartites envolvendo Washington e Bagdá.

Não está clara qual será a posição final da Casa Branca com relação a esta questão, uma vez que os EUA necessitam manter uma aliança próxima com a Turquia a fim de assegurar o apoio nos seus esforços de guerra no Iraque. Já o governo turco tem procurado a aprovação de Irã e Síria para sua incursão no norte do Iraque, contando com o fato de que ambos os governos gostariam de ver o movimento independentista curdo controlado, devido ao fato de que eles também contam com minorias curdas que totalizam nove milhões de pessoas.

Para dificultar ainda mais, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes (deputados) dos EUA havia aprovado, no dia 10 de outubro, uma medida classificando a morte de 1,5 milhões de armênios por turcos otomanos antes e durante a Primeira Guerra Mundial como genocídio. Com 27 votos a favor e 21 contra, a comissão aprovou a medida apesar da oposição da Casa Branca, para a qual a classificação feriria os interesses do país no Oriente Médio.

Com a crise na Turquia e o possível embate no Iraque, a possibilidade de votação desta moção em plenário foi dissipada. Muitos dos deputados democratas e republicanos que pretendiam apoiar o texto já retiraram seu suporte e aguardam em silêncio as diretrizes da Casa Branca. Leia mais.

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Paquistão – o retorno de Benazir Bhutto e mais um golpe

Após a reeleição do general Pervez Musharraf em 6 de outubro, mantendo o acordo mediado pelos EUA, foi permitido o retorno do exílio de Benazir Bhutto, ex-primeira ministra do país.

Musharraf reelegeu-se para um segundo mandato recebendo a maioria dos votos – 671 dos 684 congressistas do parlamento nacional e das assembléias regionais, mas o resultado oficial não foi ainda proclamado, pois a corte suprema ainda pretendia julgar se sua candidatura foi legal uma vez que acumulava o posto presidencial com a chefia das forças armadas. Por meio do Estado de Exceção que decretou no dia 3 de novembro, destituiu pela segunda vez, o presidente da Corte Suprema, seu adversário declarado.

O general chegou ao poder em 12 de outubro de 1999 com um golpe que depôs o primeiro-ministro Nawaz Sharif, acumulando a nova função ao comando do exercito paquistanês. O então presidente Rafiq Tarar pôde permanecer no cargo até 2001, quando Musharraf o substituiu como chefe de governo. Sua presidência foi formalizada nas eleições gerais de 2002.

A ex-premiê Benazir Bhutto, que esteve auto-exilada por oito anos, retornou ao Paquistão no dia 18 de outubro para liderar o partido de oposição PPP (Partido do Povo Paquistanês) nas eleições parlamentares que estavam originalmente previstas para janeiro, mas que agora poderão ser adiadas por dois anos, pois a previsão era que Musharraf perderia sua atual maioria parlamentar.

Num esforço de conciliação, Musharraf anistiou a rival histórica, processada por corrupção. A validade do decreto, porém, também está sob análise da Suprema Corte.

Antes da chegada de Bhutto ao Paquistão, três planos de atentados, organizados, provavelmente, por grupos ligados à Al Quaeda e ao Taleban, foram descobertos, segundo o governo da Província de Sindh, principal base da ex-premiê. Por isso, cerca de 20.000 agentes foram destacados para realizar a segurança do caminho entre o aeroporto de Karachi e o local onde seria realizada a manifestação.

Contudo, a enorme caravana que a acompanhava no trajeto foi alvo de dois ataques que mataram mais de 120 pessoas e deixaram mais de 200 feridos. Com os atentados, os festejos e manifestações que estavam programados para celebrar o retorno da ex-primeira ministra pelos partidários do PPP foram canceladas.

Bem vista pela Casa Branca, Benazir já declarou apoio a uma ação militar dos EUA na conturbada região da fronteira afegã, base de radicais islâmicos. Para desgosto dos fundamentalistas, Benazir – ela própria muçulmana como 97% dos paquistaneses – lidera um partido laico. O recente flerte com o ditador também contribuiu para as ameaças à ex-premiê.

Uma morte trágica de Bhutto poderia complicar a vida de Musharraf,
figura-chave na guerra ao terrorismo empreendida pelos EUA e aliado americanos na tensa região. Aos olhos de Washington, o Paquistão precisa estar sob controle já que possui armas atômicas e é considerado vital no apoio às ações americanas no vizinho Afeganistão. Assim sendo, a volta de Benazir é acompanhada com certo entusiasmo pelos EUA, que apóia uma aliança entre o aliado em crise e a líder pró-ocidental.

Já os paquistaneses são céticos quanto à capacidade do laico PPP de vencer a insurgência islâmica. Com a deportação em setembro de outro ex-premiê, Nawaz Sharif, faltam nomes de peso para suceder o ditador. Mas até agora não se sabe se Bhutto será aliada ou opositora a Musharraf nas próximas eleições, aliás nem se sabe quando ocorrerão. Leia mais.

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Congresso do Partido Comunista da China aprova a estratégia de desenvolvimento para os próximos anos

O 17º Congresso do Partido Comunista da China, realizado entre 15 e 22 de outubro, com a participação de 2.217 delegados, traçou as prioridades do governo para os próximos cinco anos, quando será realizado o próximo congresso.

A linha definida para a construção das políticas de estado na China foi ao redor do termo “sociedade harmônica”, cunhado pelo presidente Hu Jintao. Isso significa que questões como justiça social e distribuição de renda devem receber maior atenção, além do crescimento econômico. Numa tradição iniciada por Mao em 1945, cada líder deixa na Constituição do Partido o que considera ser seu legado intelectual para a construção do socialismo com características chinesas.

No caso de Hu, o mais provável é que seu pensamento seja condensado na expressão “Quatro Perseveranças”, que conclama os comunistas a se guiarem pelos conceitos de desenvolvimento científico e construção de uma sociedade harmônica, a abrirem suas mentes, a continuarem o processo de reforma econômica e a trabalharem por uma sociedade em que os todos desfrutem de uma vida confortável. Esta contribuição foi incluída no décimo parágrafo da Constituição.

O Partido Comunista da China, o maior movimento político do mundo, com 73,36 milhões de filiados – 6,42 milhões a mais que em 2002 – ano do congresso anterior, definiu ainda a nova composição do Comitê Permanente do Politburo, que é a instância mais importante do partido.

Esta composição incluiu algumas renovações e, como acontece em qualquer situação de composição política no mundo, também contemplaram demandas regionais e as influências de quadros importantes, como o atual presidente, Hu Jintao, o anterior Jiang Zemin e o atual premiê Wen Jiabao.

Entre as renovações destacam-se as eleições de Xi Jinping, secretário do partido em Xangai e Li Keqiang, secretário do partido na província de Liaoning, ex-governador da Província de Hunan, a mais populosa do país, respectivamente com 54 e 52 anos, os mais jovens entre os nove integrantes do novo Comitê Permanente do Politburo. O vice-presidente Zeng Qinghong e outros políticos veteranos, Luo Gan e Wu Guanzheng estão entre os líderes que se retiram do Comitê.

O discurso de Jintao na abertura do congresso não se diferenciou muito do realizado por Zemin quando este abriu o 16º Congresso há cinco anos, defendendo “o império da lei e o aumento ordeiro da participação política popular e elementos da democracia socialista”.

Além disso, Jintao defendeu maior transparência e reformas nas eleições internas do partido, iniciativas de apoio à população rural – que concentra 57% da população chinesa – e o desenvolvimento de um sistema de seguridade social.

A mudança no padrão de desenvolvimento proposta no discurso repete elementos do 11º Plano Qüinqüenal (2006-2010) que prevêem o aumento do peso do consumo interno no crescimento do PIB. Leia mais em:
Página Oficial do 17º Congresso do Partido Comunista da China e série de Reportagens Especiais do New York Times sobre a China – Crescimento e Poluição.

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Al Gore e o IPCC da ONU recebem o prêmio Nobel da Paz de 2007

Em 2007, após receber o Oscar de melhor documentário pelo filme “Uma verdade Inconveniente”, o ex-vice presidente dos EUA, Al Gore, foi agraciado com o prêmio Nobel da Paz por seu esforço em chamar a atenção para a questão do aquecimento global. O prêmio foi dividido com o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) da ONU.

A pressão política para que Gore entre na disputa pela candidatura democrata à presidência dos EUA aumentou significativamente com o prêmio.

Apesar de manter sua posição de que não pretende concorrer a cargos políticos e sim dedicar seu tempo à causa ambiental, já foram iniciadas mobilizações voluntárias para arrecadação de fundos para uma possível campanha presidencial do vice-presidente de Bill Clinton.

Contudo, dificilmente Gore entra na disputa em função do déficit que teria diante das vultosas quantias já arrecadas pelos outros pré-candidatos do partido. Faz mais sentido neste momento aproveitar-se do prestígio alcançado com os dois prêmios, ambos de caráter popular e que fornecem certa blindagem a criticas, e manter-se longe da disputa pela Casa Branca por ora. Leia mais em: Página Oficial do Prêmio Nobel da Paz de 2007, Página Oficial do IPCC e Página Oficial de Al Gore.

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