artigo pelos 27 anos do PTA raça é forte. Ao longo de vinte e sete anos fincou raízes profundas no imaginário e na consciência popular do Brasil. Derrubou um após outro os vaticínios ditados pelos oráculos, desde que saiu do estádio de Vila Euclides e ganhou as ruas do país transportado por esse imperceptível, mas poderoso veículo: o sonho humano. Esse é daqueles sonhos que só nos abandona quando dormimos.

artigo pelos 27 anos do PTA raça é forte. Ao longo de vinte e sete anos fincou raízes profundas no imaginário e na consciência popular do Brasil. Derrubou um após outro os vaticínios ditados pelos oráculos, desde que saiu do estádio de Vila Euclides e ganhou as ruas do país transportado por esse imperceptível, mas poderoso veículo: o sonho humano. Esse é daqueles sonhos que só nos abandona quando dormimos.

O Partido dos Trabalhadores foi submetido, como nenhuma instituição política na história do Brasil, à humilhação, à desmoralização, ao achincalhe pela mídia liberal-conservadora que nutria até pouco tempo a ilusão de que formava opinião no país. Já não forma. A opinião pública deixou de ser apenas a opinião publicada. No preciso momento em que milhões de eleitores, ao depositar seu voto nas urnas de 2006, realizaram um gesto que significa a recusa da condição de consumidores de serviços e afirma o exercício de um direito – e um dever – como cidadãos. O Partido dos Trabalhadores venceu a direita. Venceu aqueles setores sociais que há vinte e sete anos esgrimem argumentos aparentemente racionais para exprimir seu desejo mais íntimo: aniquilar o PT como força política legítima dos setores populares, no espectro político partidário do país.

O PT venceu a direita. Política e eleitoralmente. Mas, cabe perguntar, o combate que o partido vem travando desde que nasceu, numa situação de cerco permanente, contra um adversário experiente e poderoso, não produz certa indiferenciação? Não aproxima o perfil do PT daquele perfil dos partidos conservadores com os quais ele disputa, a exemplo do que ocorreu com os partidos social-democratas europeus?

O segundo turno das eleições de 2006 ofereceu uma oportunidade histórica ao Partido dos Trabalhadores para definir campos e explicitar diferenças com relação às opções neoliberais para o Brasil, defendidas pelo PSDB e PFL. E operou-se uma reunificação dos setores populares, seja no âmbito dos partidos da esquerda e centro-esquerda, seja no âmbito dos movimentos sociais dos trabalhadores em torno da liderança do Lula e do discurso anti-privatista e afirmativo do novo papel do estado como indutor e coordenador do projeto de desenvolvimento do Brasil. Aqui reside um aspecto que surpreende os adversários do PT: o partido mantém uma estreita identificação com as aspirações populares e essa identificação lhe confere uma extraordinária capacidade de renovação.

Os setores conservadores posicionados para a disputa política e ideológica na sociedade brasileira devem acostumar-se – já não sem tempo – com esta realidade: o Partido dos Trabalhadores constituiu-se, ao nascer simultaneamente num fato político e cultural, isto é, simbólico. Algo, portanto, que não se remove, com derrotas eleitorais ou campanhas de desmoralização. O Partido dos Trabalhadores alcança vinte e sete anos nesse 10 de fevereiro de 2007, como uma experiência vitoriosa das esquerdas brasileiras contra o conservadorismo das elites. O PT se converteu numa instituição central e indispensável no processo democrático de transformação da sociedade brasileira. E foi capaz de renovar-se permanentemente pela política, e pela extraordinária militância que atraiu.

Essa renovação reclama um profundo esforço de balanço de mais de um quarto de século de lutas que produziram glórias e cicatrizes; de quatro anos à frente do governo federal empenhado na retomada do desenvolvimento com distribuição de renda, com democracia, respeito à sustentabilidade, afirmação da soberania e socialização da política; mas também o resgate da esperança e da generosidade que nutrem esse projeto desde o estádio de futebol que nos serviu de berço:
“Queremos um país onde não se matem crianças
que escaparam do frio, da fome, da cola de sapateiro.
Onde os filhos da margem tenham direito à terra,
ao trabalho, ao pão, ao canto, à dança,
às histórias que povoam nossa imaginação,
às raízes da nossa alegria.
Aprendemos que a construção do Brasil
não será obra apenas de nossas mãos.
Nosso retrato futuro resultará
da desencontrada multiplicação
dos sonhos que desatamos.”

*Hamilton Pereira é presidente da Fundação Perseu Abramo

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