Desafios para a comunicação e para a democracia
A última mesa do seminário “A realidade brasileira e os desafios do Partido dos Trabalhadores”, na sexta-feira, 6 de dezembro, levou o tema da comunicação e seus desafios para o centro das preocupações dos participantes.
O debate é considerado fundamental e estratégico para o futuro do PT, para a democracia do país e deve olhar com atenção para aspectos como a transição tecnológica. A mesa teve a participação como expositores/comentadores Olga Curado,Laura Sito, Natália Bonavides e Jorge Duarte e mediação pela dirigente nacional do PT, Misiara Oliveira.
A jornalista e consultora Olga Curado acredita que nosso primeiro desafio em tempos de algoritmos “é a gente se ver de uma maneira que nem sempre é a forma que somos vistos”. Comunicação e a ingenuidade da informação fizeram parte de sua exposição, onde entre outras coisas, a jornalista defendeu que “a base da comunicação é a emoção. Existe um filtro entre nós e o outro. Antes de te conhecer tenho uma opinião sobre você. Não adianta fazer tudo certo e bem se não sabemos contar essa história”.
Valores e crenças, nossas entregas e qualidades comunicacionais foram abordados por Olga: “nosso desafio na comunicação é levar a vida real das pessoas a sério. A comunicação precisa ser completa. Comunicação é tangível e queremos influenciar. É preciso emocionar e falar o que sentimos”, disse.
E seguiu defendendo que precisamos “influenciar, motivar, emocionar, informar e manter relação afetiva com os outros. A essência da comunicação é o mal entendido. Temos que usar a informação e entregar detalhes. Não podemos tentar convencer, mas apresentar a cada dia detalhes maiores”.
Jorge Duarte, jornalista que esteve na Secom da Presidência da República em 2004, acredita que “comunicação é um problema em qualquer lugar, não só no PT. Em qualquer projeto o problema é a comunicação e fazer bem não é fácil. Precisamos de estratégia, saber onde estamos e para onde vamos. Se a gente faz um governo e não comunica direito, é como se não tivesse feito”.
Para Jorge, citando de texto de Perseu Abramo, é preciso “entender a sociedade em sua complexidade. Para Perseu, a comunicação pública, do Estado, não é apenas prestação de contas, mas ferramenta para promover transparência e cidadania”. E também apontou as dificuldades que temos para atingir a sociedade, além de elencar pontos preocupantes: “a percepção errada dos próprios brasileiros é grave. 89% dos brasileiros não conheciam o holocausto. Em 2009 uma pesquisa mostrou que 43% dos brasileiros não tinham ouvido falar em diretas já”.
O jornalista também apresentou dados da pesquisa da FPA sobre periferias que mostram quebra de confiança entre sociedade e governo. Pesquisa mostra a distância entre Estado e os cidadãos, a relação é marcada por desconfiança e valorização do mercado. E o Estado é visto como inimigo. A comunicação do Estado precisa dialogar e não só divulgar. “Se o Estado não consegue fazer comunicação adaptada às necessidades do cidadão aí vem o afastamento. A comunicação não pode estar no fim do processo, tem que estar dentro das políticas públicas desde o início”, defendeu.
A deputada federal Natalia Bonavides (PT-RN) começou sua participação comentando as várias fake news que usaram durante sua campanha para a prefeitura de Natal, o uso que a direita faz da comunicação para combater candidaturas de esquerda e que é necessário “estar na luta e retomar os temas de regulação que precisam avançar. Nossos problemas não se resolvem com regulação, se fosse só questão de lei, o que temos até já ajudaria. Tem coisas que lidamos hoje que certamente tem outra dimensão. Mas a verdade é que 1989 Lula lidou com fake news sem esse nome. Teve o debate editado e outros candidatos de esquerda sofreram isso”.