Bolsonaro está rico
Ex-presidente recebeu R$ 17,2 milhões entre janeiro e julho de 2022 em operações de transferência via PIX. A dinheirama foi doação de gente como o herdeiro do grupo Votorantim e até um ex-ministro do TSE. A CPI vai investigar as operações
O ex-presidente da República Jair Bolsonaro pode até ter problemas com a Justiça Federal e já foi condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral por crime eleitoral que o tornou inelegível. Mas desde que deixou o Palácio do Planalto, nunca ganhou tanto dinheiro.
Na última semana, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) revelou que o ex-capitão amealhou uma fortuna. Ele recebeu pagamentos de R$ 5 mil a R$ 20 mil de 19 pessoas e empresas, incluindo o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Admar Gonzaga Neto e o empresário Marcos Ermírio de Moraes, herdeiro do Grupo Votorantim.
No total, o ex-presidente recebeu R$ 17,2 milhões em transferências via Pix entre os dias 1º de janeiro e 4 de julho. O Coaf sugere uma relação com a vaquinha aberta no mês passado para o pagamento de multas com a Justiça. Houve 769 mil transações via Pix na conta bancária de Bolsonaro neste período. O relatório lista apenas o nome dos 20 maiores doadores, e não deixa claro se todos os pagamentos foram feitos via Pix ou transferência bancária.
Admar Gonzaga Neto, que chegou a atuar como advogado de Bolsonaro, transferiu R$ 5 mil para a conta do ex-capitão do Exército. A revelação foi feita pela Folha de S.Paulo. Gonzaga disse que transferiu o dinheiro via Pix para “ajudá-lo a pagar a multa relacionada ao uso da máscara”. Ele foi ministro do TSE de 2013 a 2019. Mas questionou o vazamento do relatório.
“Lamentável é o vazamento de dados financeiros para a imprensa. Vocês obtiveram autorização judicial? Estamos vivenciando uma inquisição moderna”, disse. O bilionário Marcos Ermírio de Moraes fez uma transferência de R$ 10 mil. Procurado, afirmou que a informação não acrescenta nada na vida dos brasileiros.
Moraes foi candidato a segundo suplente de senador em 2022, em Goiás, pelo PSDB, na chapa encabeçada pelo ex-governador Marconi Perillo. O herdeiro do Grupo Votorantim declarou R$ 1,2 bilhão em bens ao TSE. O Grupo Votorantim afirmou em nota que, “embora membro integrante da família controladora, [Marcos Ermírio de Moraes] não possui nenhum cargo, tampouco participa, direta ou indiretamente, dos negócios das empresas controladas pela Votorantim S/A”.
Na sexta-feira, 28, os advogados de Bolsonaro afirmaram que a divulgação dos pagamentos “consiste em insólita, inaceitável e criminosa violação de sigilo bancário, espécie, da qual é gênero, o direito à intimidade, protegido pela Constituição Federal no capítulo das garantias individuais do cidadão”. A defesa do ex-presidente disse que os valores repassados via Pix “são provenientes de milhares de doações” feitas por apoiadores de Bolsonaro.
Os advogados afirmaram, na mesma nota, que vão tomar “providências criminais cabíveis para apuração da autoria da divulgação de tais informações”. A relação de pessoas físicas de quem Bolsonaro recebeu de R$ 5 mil a R$ 20 mil inclui ainda outros empresários e advogados, militar, pecuarista, agricultor, estudante e duas pessoas identificadas como “do lar”.
No início do mês, uma pessoa depositou R$ 9.647 na conta do ex-presidente em 62 lançamentos. O documento indica ainda duas transferências do PL, partido de Bolsonaro, no total de R$ 47,8 mil. O montante de transações recebidas via PIX corresponde a quase todo o valor movimentado por Bolsonaro no período nesta conta, de R$ 18.498.532.
No início do mês, Bolsonaro afirmou que já tinha recebido o suficiente para pagar todas as multas, mas não revelou os valores. Ele disse que “a massa” havia feito doações entre R$ 2 e R$ 22 — número do PL, seu partido. “Foi algo espontâneo por parte da população. Agradeço a contribuição, mesmo sem ter a pedido”.
As informações foram enviadas para a CPI do 8 de janeiro com dados de outras pessoas ligadas a Bolsonaro, atualmente na mira de várias investigações na esfera criminal, a maioria relatada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). •