A dispersão do bolsonarismo
Passados quase três meses do início do terceiro governo Lula, o quadro da opinião pública parece ter sofrido mudanças importantes. É o que mostra a rodada do Ipec: 41% aprovam o novo governo
A mais recente pesquisa do Ipec (antigo Ibope) trouxe os números de avaliação do terceiro governo Lula, que caminha para completar seus três primeiros meses. A avaliação positiva (soma de ótimo e bom) do governo é de 41%, a regular é de 30% e a negativa (soma de ruim e péssimo) 24%. Quando questionados sobre a maneira que Lula está governando o Brasil, 57% dos entrevistados aprovam o presidente e 35% desaprovam. Em outra pergunta, é medida a confiança no presidente Lula: 53% confiam nele e 43% desconfiam. Este artigo vai ressaltar três pontos.
O primeiro — e que consideramos o mais relevante — diz respeito à reprovação do governo. Sabe-se que no segundo turno das eleições presidenciais de 2023, pouco mais de 2 milhões de votos separaram o vencedor do pleito, Lula, do candidato derrotado — o então presidente Jair Bolsonaro.
O processo eleitoral foi marcado por um intenso período de polarização na opinião pública entre os dois candidatos, e uma parcela relevante, mesmo que minoritária, da população não aceitou a vitória de Lula e embarcou no golpismo. Passados quase três meses do início do terceiro governo Lula, o quadro da opinião pública parece ter tido mudanças importantes.
Os 21% de reprovação — patamar relativamente baixo — indica que uma parcela significativa dos eleitores de Bolsonaro não se converteu automaticamente em opositores do governo. Ao menos na forma em que o avaliam. É possível que uma parcela menos radical que apoiou o ex-presidente no último pleito tenha adotado uma postura de “esperar pra ver” o que será do novo governo.
Essa possível dispersão do campo adversário pode acarretar numa janela de oportunidade para que o governo e o campo democrático popular construam ampla maioria, trazendo essa parcela da população para o ‘lado de cá’. Vale frisar que a aprovação ao governo reflete números similares ao que Lula detinha de apoio antes das eleições, significando, por outro lado, que a força se manteve – não foi ampliada.
O segundo ponto se desdobra da comparação das avaliações dos primeiros meses de governo dos presidentes desde FHC. Como se nota, o histórico de pesquisas do Ipec, permite uma comparação com mandatários anteriores. Lula é o presidente melhor avaliado em início de mandato desde o primeiro governo da ex-presidenta Dilma Rousseff, que acumulou no começo de seu governo uma aprovação de 56% da população.
Em comparação com seu antecessor, Bolsonaro, Lula possui 7 pontos percentuais a mais de aprovação — os já mencionados 41% contra 34% do então presidente. Lula iguala, segundo o instituto, o desempenho do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, que também acumulou 41% de avaliação positiva no seu início.
Já o terceiro ponto diz respeito aos recortes de renda, religião e região. A melhor avaliação do governo se concentra entre pessoas de até um salário mínimo de renda familiar mensal (50%), baixando nas outras faixas. Entre os evangélicos, a aprovação é 10 pontos percentuais a menos que a média, enquanto a reprovação é de 32%. No Nordeste, a avaliação positiva é de 53%, enquanto no Sudeste (26%) e no Norte/Centro Oeste (31%) a reprovação é maior que a média.
No próximo artigo, vamos aprofundar mais na análise dos recortes por segmentos, mostrando que para além destes três já anunciados — renda, religião e região —, as diferenças de avaliação entre homens e mulheres, jovens e mais velhos, por exemplo, apresentam variações diferentes das vistas até as eleições de 2022. •