Novo ministro da Fazenda, o economista diz que o governo Lula tem compromisso em combater a fome e reverter a corrosão dos salários. Ele disse que não descuidará da sustentabilidade da dívida pública e anunciou nomes do primeiro escalão da pasta

O ministro indicado para a Fazenda, Fernando Haddad, durante coletiva no CCBB

Sai o ultraliberal Paulo Guedes, responsável pelo aumento da desigualdade social no país, da volta da fome e do crescimento da miséria. Entra o ex-ministro da Educação e prefeito de São Paulo, sinalizando que o bem-estar da população é prioridade do novo governo Lula e que o compromisso fiscal da administraçao federal a partir de janeiro de 2023 também estará umbilicalmente ligado ao compromisso social.

Sai o ultraliberal Paulo Guedes, responsável pelo aumento da desigualdade social no país, da volta da fome e do crescimento da miséria. Entra o ex-ministro da Educação e prefeito de São Paulo, sinalizando que o bem-estar da população é prioridade do novo governo Lula e que o compromisso fiscal da administração federal a partir de janeiro de 2023 também estará umbilicalmente ligado ao compromisso social.

Na primeira entrevista coletiva, concedida à imprensa, na terça- 13, Haddad reiterou a promessa de inserção do pobre no orçamento federal, integrado em um projeto sustentável do ponto de vista fiscal. Tais premissas estão no centro da política econômica do novo governo. Ele disse que o grande desafio será corrigir erros da atual equipe econômica, mais preocupada em eleger Bolsonaro do que governar.

“A primeira tarefa que Lula me deu quando fui ministro da Educação [2005-2012] foi colocar pobre na universidade, e após alguns anos, conseguimos”, disse. “Dessa vez, Lula me disse que o ministro da Fazenda tem uma única preocupação: colocar o pobre no Orçamento e o rico no Imposto de Renda”. O novo ministro reiterou sua preocupação com a situação fiscal das contas públicas, mas sinalizou que não se pode mais sacrificar o bem-estar da maioria da população.

“Isso traz um custo para o país, e pretendemos corrigir essas distorções sem tirar o pobre do orçamento”, comentou. “Não podemos admitir a fome e a corrosão do poder de compra dos salários”. Ele detalhou como o governo Lula irá consertar o estrago de Jair Bolsonaro e Guedes nas contas públicas ao mesmo tempo em que irá promover crescimento econômico com inclusão social.

Na entrevista, Haddad anunciou nomes que integrarão a equipe da pasta a partir de janeiro. O economista Gabriel Galípolo será o próximo secretário-executivo, enquanto Bernard Appy será secretário especial para a reforma tributária. Galípolo foi presidente do banco Fator entre 2017 e 2021. Appy foi secretário-executivo e secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda nos dois governos Lula.

Haddad explicou que Appy estudou a fundo o atual quadro tributário brasileiro e desenhou uma proposta de reforma que é base para as discussões no Congresso. O novo ministro sugeriu que a nova proposta poderá ser apresentada junto com um novo modelo de arcabouço fiscal. “Se houver amadurecimento, vamos encaminhar o quanto antes. Entendo que essas duas cosas poderiam caminhar juntos, porque a reforma tributaria é parte do arcabouço fiscal”, detalhou.

Ele reiterou as críticas ao teto de gastos, aprovado pelo governo Temer ainda em 2016, depois do golpe parlamentar que derrubou Dilma Rousseff da Presidência da República sem que ela tivesse cometido um crime de responsabilidade. O teto de gastos congelou investimentos do governo federal até 2016.

Haddad lembrou que foi um forte um crítico do teto de gastos na campanha de 2018. Ele apontou que o mecanismo é inexequível e coloca em risco a própria responsabilidade fiscal. “O arcabouço deve ter a premissa de ser confiável, e deve demonstrar a sustentabilidade das finanças públicas”, apontou.

Mas, também sinalizou que é contrário a política fiscal expansionista, com a ampliação de gastos por parte do governo federal. Na avaliação do futuro ministro da Fazenda, estímulos à atividade econômica poderão vir de possíveis quedas de juros. Ele disse ampliar os gastos públicos agora seria contraproducente e atrapalharia a economia.

“Não estamos em um momento em que a expansão fiscal vai ajudar a economia”, disse, em entrevista à GloboNews, na quinta, 15. “Não existe essa relação de que quanto mais eu gasto mais cresce”. Segundo ele, se houver espaço para estímulo, será o monetário. “Tem espaço para uma taxa de juros menor. Você tem que dar espaço para a autoridade monetária”, disse. Ele se reuniu com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Há duas semanas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC manteve a Selic em 13,75% ao ano. Na ata referente à reunião, divulgada na última terça, o BC disse que “debateu de forma extensa os impactos de diferentes cenários fiscais sobre a inflação”.

Para o ministro, a politica econômica deve combinar o financiamento dos programas prioritários do governo e a sustentabilidade da dívida pública. Ele apontou que a combinação de responsabilidade fiscal e social pode ser retomada, “Já fizemos e vamos voltar a fazer”, garantiu. “ O Estado é fortalecido não com descontrole, mas com previsibilidade e confiança, com investidores sabendo o que está acontecendo”.

“Temos que definir uma política econômica sensata e equilibrada. Nós temos problemas para corrigir, mas não são problemas pequenos”, disse. Haddad disse que o país depende de “um Estado que pode investir, que pode suprir as necessidades da população de saúde, educação, assistência, combate à fome”. “Queremos voltar à normalidade, conduzir a política econômica compatibilizando essas duas diretrizes que não podem estar em antagonismo, declarou”. •

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