Um dos maiores percussionistas do mundo e profundo pesquisador do folclore brasileiro, o músico mineiro morre aos 80 anos, depois de dar grandes contribuições ao pop nacional e internacional. Ele gravou com os gigantes da MPB e estrelas como Peter Gabriel

O batuque de Djalma Correa

O batuque mágico e hipnotizante de Djalma Corrêa, talvez o último gigante da percussão brasileira — o outro era o pernambucano Naná Vasconcellos, morto em 2016 —, silenciou-se na quinta-feira, 9 de dezembro. Ele faleceu no Rio de Janeiro, vítima de um câncer no pâncreas. Amigos, como o baiano Caetano Veloso, lamentaram: “Eu o amo muito. Soube que morreu e a saudade mudou de natureza”.

Mineiro de Ouro Preto, Djalma participou com Caetano do primeiro espetáculo do compositor e cantor em 1964, em Salvador, integrando o coletivo do que viria a ser conhecido como os baianos e gerou o espetáculo “Nós, por exemplo”, na inauguração do Teatro Vila Velha. Estava ali no lançamento das carreiras artísticas de gigantes como Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa, além do próprio Caetano e ele mesmo, Djalma.

O percussionista e baixista passou a estar presente como colaborador em inúmeros álbuns das quatro grandes estrelas baianas, gravando e fazendo shows. Também foi um ativo colaborador de Jorge Ben, Paulo Moura, Zezé Motta, Raul Seixas, João Bosco, Elba Ramalho, Luiz Melodia, Nara Leão, Jards Macalé, Kleiton e Kledir.

Ele próprio gravou discos importantes como percussionista, à frente do Baiafro, grupo que criou em 1970, tendo rendido álbuns como Salomão — The New Dave Pike Set & Grupo Baiafro in Bahia (1972), Candomblé (1977) e Baiafro (1978). Os discos mostram o nível de amplo conhecimento e pesquisa de instrumentos como o batacotô, um tambor cujo toque é símbolo da luta, tendo sito utilizado na Revolta dos Malês na Bahia (1835) e depois proibido. Só por isso seu trabalho deveria render homenagens. Mas tem mais.

Djalma foi um dos grandes responsáveis por levar ritmos e sons brasileiros para o mundo, ao gravar nos anos 80 com o cantor inglês Peter Gabriel, com quem brilhou e deu uma cor especial ao som do astro britânico. É dele o triângulo hipnotizante em “Mercy Street”, do álbum So, de Gabriel, lançado em 1986. Não há como não se emocionar com a canção, cuja atmosfera especial se deve ao triângulo mágico de Djalma, que ainda toca congas e surdo.

Em seguida, seu trabalho brilharia novamente com Gabriel, ao participar da brilhante trilha sonora do filme “A Última Tentação de Cristo”, lançado por Martin Scorsese em 1989, tendo William Dafoe no papel do filho de Deus e David Bowie como Pôncio Pilatos.

O músico brasileiro toca percussão, bateria e tamborim em canções fortes e impressionantes do disco, como “Passion”, que marca a crucificação do Nosso Senhor, dando o tempero brasileiro à salada sonora impactante tramada por Peter Gabriel, que convidou músicos turcos, árabes, africanos e armênios para o disco.

Djalma, obrigado por tudo. •