Mais um massacre no Rio
Operação da polícia no Complexo do Alemão deixa 18 mortos, com moradores recolhendo corpos e apelando ao governador do Rio, Cláudio Castro: “Nós queremos paz!”
Uma operação policial na quinta-feira, 21, contra membros de gangues no maior complexo de favelas do Rio de Janeiro, deixou pelo menos 18 pessoas mortas em uma das batidas mais mortíferas que a cidade viu recentemente. A ação provocou críticas e manifestações no Complexo do Alemão, contra a violência policial. O caso ganhou enorme repercussão internacional.
As autoridades do Rio disseram que 16 suspeitos de crimes foram mortos em confrontos com a polícia no Complexo do Alemão, junto com um policial e uma mulher. Um porta-voz da polícia disse que a operação tinha como alvo um grupo criminoso que roubava carros e bancos e invadia bairros próximos.
Vídeos que circulam nas redes sociais mostraram intensos tiroteios entre criminosos, bem como um helicóptero da polícia voando baixo sobre as pequenas casas de tijolos. A polícia do Rio usou helicópteros para atirar em alvos, mesmo em áreas residenciais densamente povoadas, e o vídeo mostra tiros sendo disparados da favela contra a aeronave.
No local do ataque, repórteres da Associated Press viram moradores carregando cerca de 10 corpos enquanto espectadores gritavam: “Queremos paz!” Moradores disseram que aqueles que tentaram ajudar os feridos corriam o risco de serem presos.
“É um massacre lá dentro, que a polícia está chamando de operação”, disse uma mulher, falando sob condição de anonimato porque teme represálias das autoridades. “Eles não estão nos deixando ajudar (vítimas)”, disse. Ela declarou que viu um homem ser preso por tentar fazê-lo.
Um porta-voz da polícia do Rio disse que alguns dos criminosos usavam uniformes para se disfarçar de policiais. “Eu preferiria que eles (os suspeitos) não tivessem reagido e então poderíamos ter prendido 15, 14 deles. Mas infelizmente eles optaram por atirar em nossos policiais”, disse Ronaldo Oliveira, investigador da polícia carioca.
O governador do Rio, Cláudio Castro, lamentou a morte do policial. “Continuarei a combater o crime com todas as minhas forças. Não vamos desistir da missão de garantir a paz e a segurança ao povo do nosso estado”, disse Castro, no Twitter.
Mas muitos discordam da estratégia do governo para combater a violência e o crime organizado, uma abordagem que vê regularmente operações policiais mortais. Uma batida na favela Vila Cruzeiro, no Rio, em maio, matou mais de 20 pessoas.
A comunidade do Alemão é um complexo de 13 favelas no norte do Rio, que abriga cerca de 70.000 pessoas. Quase três quartos deles são afro-brasileiros, de acordo com um estudo de julho de 2020 publicado pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas.
No início deste ano, ao Supremo Tribunal Federal estabeleceu uma série de condições para a polícia realizar batidas nas favelas do Rio como forma de reduzir as mortes e violações dos direitos humanos. O tribunal ordenou que a força letal seja usada apenas em situações em que todos os outros meios tenham sido esgotados e quando necessário para proteger a vida. •