No Brasil de Bolsonaro, a situação do povo só piora. Em apenas um ano e meio, mais 14 milhões de brasileiros passaram a não ter comida na mesa. Voltamos a uma situação que só tinha sido vista em 1993, quando Betinho lançou iniciativa contra a fome no país

 

O governo Jair Bolsonaro conseguiu aumentar a fome em pouco mais de um ano e meio. Do final de 2020 para 2022, seis em cada 10 brasileiros têm algum tipo de insegurança alimentar. Agora, graças à política econômica do ministro Paulo Guedes, a fome cresceu 57% em um ano e já atinge 33 milhões de brasileiros. Segundo levantamento da Rede Penssan, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, quase 60% da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau: leve, moderado ou grave.

“Quando tomei posse em 2003, minha meta era simples: garantir três refeições por dia para os brasileiros. E tiramos o Brasil do Mapa da Fome. Mas infelizmente nosso país andou para trás e o flagelo da fome voltou para 33 milhões de pessoas. Vamos ter que reconstruir nosso país”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os dados chocantes sobre o avanço da fome no Brasil ganharam repercussão internacional e estamparam as manchetes de jornais como o francês Le Monde e o espanhol El País.

Monde destacou na capa da edição de quinta-feira, 9: “Brasil enfrenta o retorno da fome. Especialistas acreditam que o país de Jair Bolsonaro regrediu 30 anos nessa questão. Em 1998, como hoje, quase 32 milhões de brasileiros passaram fome”. E o jornal espanhol: “Fome no Brasil dispara para níveis de três décadas atrás, atingindo 33 milhões de pessoas. As pessoas famintas aumentam em 14 milhões por ano, de acordo com uma pesquisa nacional da Rede Penssan, uma aliança de pesquisadores acadêmicos e ONGs”.

Os diários europeus alardearam que a fome quase dobrou em pouco mais de um ano no Brasil. Este é o resultado da política econômico anti-povo do governo Bolsonaro. Seis em cada 10 brasileiros convivem com algum grau de insegurança alimentar hoje. Isso representa mais do dobro do tamanho da população da cidade de São Paulo, que tem 11,2 milhões de pessoas, e mais de cinco vezes a cidade do Rio de Janeiro, com 6,3 milhões.

O retrocesso é imenso. Em 1993, quando o número de brasileiros com fome chegava a 32 milhões, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lançou a primeira grande campanha no país. “A gente regrediu literalmente 30 anos na luta contra a fome, o que nos assusta muito”, lamenta o atual diretor-executivo da Ação da Cidadania, Kiko Afonso. O fim do Conselho Nacional Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), no primeiro dia de mandato, foi só a primeira medida que Bolsonaro fez para desmontar a estrutura que garantia comida na mesa dos brasileiros.

Os dados absolutos são inacreditáveis: 125,2 milhões de pessoas no Brasil estão preocupadas com a possibilidade de não ter alimentos no futuro mas também há aqueles que já passam fome. O fenômeno de insegurança alimentar também reflete as desigualdades observadas no na sociedade brasileira nos últimos anos, desde quando o PT deixou a Presidência da República. A proporção de pessoas que convivem com restrições na dieta é maior entre os domicílios da área rural e também naqueles comandados por pessoas negras, mulheres e nos lares com crianças de até dez anos. Na análise regional, Norte e Nordeste têm uma parcela bem maior de pessoas em situação de insegurança alimentar que as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

“A pandemia agravou um quadro que já vinha se deteriorando antes. E o pior é que, numa sociedade tão desigual quanto a nossa, a pandemia não afeta igualmente a população e atinge mais os mais vulneráveis”, afirma o coordenador da Rede Penssan Renato Maluf, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ele diz que o desemprego, a precarização do trabalho, a queda dos salários e o desmonte de políticas públicas  definidas por Michel Temer e Jair Bolsonaro foram determinantes para chegarmos a este resultado. •

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