Elifas Andreato, presente!
Um dos mais importantes artistas gráficos brasileiros morreu na terça-feira, 29, vítima de um infarto. Ele foi um dos maiores capistas de discos da MPB e tem sua história ainda ligada à defesa dos direitos humanos e às denúncias dos crimes cometidos pela ditadura militar
O artista gráfico Elifas Andreato, morreu na terça-feira 29, aos 76 anos, em decorrência de complicações após um infarto. Nascido em Rolândia (PR), em 1946, Andreato se mudou para São Paulo no início da década de 60 e deu início aos seus trabalhos com ilustrações que fizeram história na cultura do país. Ele foi um dos maiores capistas de discos da Música Popular Brasileira, colaborou com a revista Veja nos anos 70 e emprestou seu traço elegante para denunciar os crimes da ditadura militar.
É de autoria de Elifas algumas das mais célebres capas de discos lançados por artistas brasileiros, como “Nervos de aço”, de Paulinho da Viola, “Arca de Noé”, de Vinícius de Moraes, “Almanaque”, de Chico Buarque, e “Luz das Estrelas”, de Elis Regina, entre inúmeros outros. Em 2009, o artista foi laureado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a comenda da Ordem do Mérito Cultural como homenagem a sua contribuição artística ao Brasil.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte do artista. “Por sua luta a favor da liberdade e pela perseguição que sofreu na ditadura, ele ganhou o Prêmio Wladimir Herzog em 2011”, lembrou. “Com compromisso permanente com as causas populares sua última criação está na capa da cartilha lançada pelo PT para orientar a formação dos Comitês Populares de Luta em todo o país”.
Lula lembrou com Elifas se arriscou durante a luta contra a ditadura. “Um dos maiores ilustradores deste país, ex-operário e professor, deixa um legado de luta pela democracia, pela cultura e contra a ditadura militar, que enfrentava abrigando militantes e produzindo em um mimeógrafo dentro de sua casa o jornal da Ação Popular”, comentou.
As obras de Elifas Andreato estamparam ainda livros e cartazes de peças de teatro, no momento em que a censura imposta pela ditadura militar silenciava artistas e calava as vozes dos dissidentes. Pois nesse período, Elifas teve a coragem de denunciar a tortura e as mazelas do regime militar em obras de forte impacto visual, como o cartaz da peça teatral “Mortos sem Sepultura”, texto original de Jean Paul Sartre, levada em cartaz por Fernando Peixoto e Helio Eichbauer em São Paulo, em 1977.
O cartaz traz o corpo de um homem pendurado num pau de arara, instrumento da tortura utilizada pelos militares no Brasil e na América Latina durante as perseguições políticas promovidas contra opositores do regime. Ele também retratou Vladimir Herzog num quadro famoso por mostrar como o regime militar tratava dissidentes políticos, desmascarando a farsa montada pelo regime militar de que o jornalista havia se suicidado. O quadro se chama “25 de outubro”.
Elifas ainda fez a impressionante capa do “Livro negro da ditadura militar”, lançado clandestinamente em 1972, em pleno governo do general ditador Emílio Garrastazu Médici. Logo depois, Elifas deixou a Editora Abril e foi colaborar com a imprensa alternativa que fazia a resistência ao regime. Suas obras foram publicadas em jornais como Movimento, Opinião, Argumento e o francês Le Monde. •