Com três convidados especializados no assunto, profissionais inclusive que foram vítimas da Covid-19, o Pauta Brasil desta segunda-feira, 10 de maio, abordou as sequelas, ainda em estudo pela ciência mundial, que são resultados da infecção.

Para falar sobre esse aspecto da pandemia, o programa ouviu os médicos Clezio Leitão e Ubiratan de Paula Santos, com mediação de Rosangela Dorneles.

Clezio Leitão tem doutorado em Saúde Pública pela Fiocruz, é professor do curso de medicina da UFPE e preceptor do programa de residência em Clínica médica pela mesma instituição (HC-UFPE). Ele considera que ainda é cedo e que o tema é bastante novo. Mas relatou que de acordo com o estágio da contaminação, agudo ou não, o grau de inflamação, pode gerar sequelas.

“É precipitado pensar neste momento um medicamento ou vacina definitivos. Há um grande número de pacientes sofrendo as consequências. Prevalência, tipo, gravidade e tempo são os indicadores para tentar descobrir se serão ou não sequelas. É necessário também diferenciar os efeitos propriamente dito do vírus e as consequências de procedimentos realizados para pacientes graves”, disse.

Ubiratan concorda com Clezio sobre as “dificuldades entre definir o que é sequela e o que é persistência das inflamações que ocorreram naquele período. A Covid tem vários quadros, leves, moderados, casos graves”, explicou.

Ubiratan de Paula Santos é médico na Divisão de Pneumologia do InCor-HCFMUSP e professor colaborador da Faculdade de Medicina da USP. Para ele, as pessoas internadas têm várias possibilidades “de sofrer com outros problemas, em decorrência do tempo de internação, medicamentos e procedimentos utilizados”.

Ele citou estudo recente que acompanhou pacientes durante seis meses: 58% tinham fadiga, 44% têm dor de cabeça, 30% com déficit de atenção, olfato e paladar distorcidos, tosse persistente, queda de cabelo, náusea. Foram 48 mil pacientes pesquisados.

Para ele, “há uma persistência do processo inflamatório, persistência do cansaço, e alguns casos estão ligados à ventilação mecânica”. Há vários estudos em andamento, mas o médico acredita que todos muito recentes e defende a necessidade de atendimento e monitoramento pelo poder público para reduzir sequelas e mortalidade pós-Covid, “coisa que não estamos fazendo adequadamente no Brasil como um todo”, disse.

Ubiratan ainda denunciou as demoras nas perícias médicas, a necessidade de atendimento pela população por fisioterapeutas, monitoramento público dos doentes, sistema de saúde adequado para a demanda. Ele também relatou sua experiência como paciente na UTI e as necessidades que o SUS deve suprir dos demais pacientes na recuperação.

Rosangela Dorneles é médica da Central de Leitos da UTI da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, mestra em Desenvolvimento Regional, foi vereadora em Charqueadas, pelo Partido dos Trabalhadores, por três mandatos. Integrante da Coordenação Provisória da Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid19 – Vida e Justiça e coordenadora do Setorial Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul. Ela abordou questões como as consequências sociais, econômicas e de saúde da pandemia, assim como a necessidade da valorização do SUS e as dificuldades da área durante a pandemia, com as dificuldades ligadas a falta de testagem massiva, atendimento adequado e vacina para todos.

Rosangela também cobrou o necessário investimento em ciência e tecnologia, não só para dar respostas à pandemia mas para também construir o futuro.             “Poderíamos estar em outro patamar”, alertou Clézio, se a ciência não tivesse sofrido tantos ataques. “Continuo acreditando na ciência apesar dela não conseguir responder na velocidade que precisamos”, disse.

O programa ainda abordou as dificuldades financeiras da população, e a grande demanda por uma gestão da saúde com seriedade e que leve a pandemia à sério. Assista a íntegra do programa aqui.

 

Pauta Brasil receberá especialistas, lideranças políticas e gestores públicos para discutir os grandes temas da conjuntura política brasileira. Os debates serão realizado nas segundas, quartas e sextas-feiras, sempre às 17h, e serão transmitidos ao vivo pelo canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, sua página no Facebook e perfil no Twitter, além de um pool de imprensa formado por DCM TV, Revista Fórum, TV 247 e redes sociais do Partido dos Trabalhadores.

O novo programa substitui o Observa Br, programa que era exibido nas quartas e sextas-feiras, às 21h. Clique aqui e acesse a lista de reprodução com todos os 66 programas.

 

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