No próximo sábado, 7 de setembro, haverá espaço para todo e qualquer protesto contra o bolsonarismo. Não importa qual a bandeira ou a causa.

Naquele que é considerado pela historiografia oficial o Dia da Independência, vão ocorrer o Grito dos Excluídos e manifestações estudantis. A programação de ambos será unificada em grande parte do país.

“Todas as lutas contra a destruição do Brasil cabem no Grito”, resume Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), uma das entidades organizadoras do Grito dos Excluídos. A data, criada em 1995 por decisão da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), chega à sua 25a edição.

“A pauta maior é a denúncia do aumento da exclusão social. Na primeira edição, foi exatamente para isso: denunciar o aumento do desemprego, da pobreza e da miséria. Nosso guarda-chuva é a questão da desigualdade social. Junto com isso vem tudo: habitação, educação, meio ambiente, SUS, direitos humanos. Queremos denunciar a concentração de renda. Ao mesmo tempo que aumenta a pobreza, a renda dos mais ricos está aumentando. Temos 23 milhões em estado de pobreza, e junto com isso, no Brasil, a gente vive um desmonte da rede de proteção social”, explica Raimundo.

Os estudantes também participam das mobilizações. Desta vez, com a orientação de vestirem preto e pintarem os rostos de verde e amarelo. A ideia remete imediatamente à lembrança dos períodos que antecederam a queda do ex-presidente Fernando Collor, que em 13 de agosto (que senso de oportunidade) de 1992 pediu que as pessoas que o apoiavam vestissem as cores da bandeira no dia seguinte. Muita gente vestiu preto naquela ocasião. Era o início do fim.

“Num primeiro momento, o que a gente quer fazer é mesmo recuperar a memória do que ocorreu, porque acho que isso remete à uma organização de luta contra um governo que destrói e ataca em todas as frentes”, explica Iago Montalvão, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).

“O outro elemento dessas manifestações é a disputa de símbolos. O preto significa justamente uma crítica contra tudo que tem sido feito com o Brasil, por isso a cara pintada e o preto”, completa Iago. “Mas só queria dizer que nós não temos ainda uma posição definida a respeito de impeachment ou queda do presidente”, adverte.

O tema original do Grito dos Excluídos para este ano é Este Sistema não Vale, em alusão aos crimes ambientais da empresa Vale, em Minas Gerais, um símbolo do sistema capitalista como um todo, que é, na verdade, o alvo maior dos protestos.

“O Dia do Fogo ampliou o alcance desse tema. As queimadas são a continuidade de um processo que já vem há muito tempo, que é o desmatamento, e de avanço do capitalismo sobre os recursos naturais. Então, esse fogo não é ocasional, mas está sendo ampliado pelas políticas do governo Bolsonaro, que está a animar, a incentivar a extração de madeira. Ao mesmo tempo, é um governo que despreza a produção e o conhecimento científico, o trabalho dos órgãos de fiscalização e proteção”, conta Adriana Novaes, do MST, entidade que, como a UNE, posicionou a defesa do meio ambiente como uma das prioridades de seu calendário de lutas, na expectativa de atrair setores até então refratários às mobilizações.

Adriana conta também que, em São Paulo, a denúncia da criminalização dos movimentos populares terá grande destaque nas manifestações. “Temos quatro presos políticos aí – Sidney, Ednalva, Preta Ferreira e o Lula. Temos a compreensão que a prisão do Lula é uma afronta à democracia” diz ela, em referência às lideranças dos movimentos de moradia presas na capital paulista acusadas de extorsão e ao ex-presidente da República.

Além das manifestações, as atividades do Grito dos Excluídos terão missa em páróquias (aos sábados, as missas ocorrem às 18h), distribuição de alimentos à população de rua e aulas públicas. Na regional do MST em Campinas, o ato terá como bandeira principal a defesa do acampamento Marielle Vive, localizado em Valinhos (SP). Esse acampamento foi alvo de ataque criminoso em 18 de julho, quando um motorista premeditamente atropelou e matou o sem-terra Luís Ferreira da Costa, durante atividade política realizada às margens de uma rodovia. O acampamento, por sua vez, é alvo de perseguição por parte do Judiciário local, da prefeitura de Valinhos e de parte da população.

A expectativa das lideranças dos movimentos sociais envolvidos é que essa edição do Grito dos Excluídos atraia mais participantes que as anteriores. “Acreditamos que o Grito se massifique muito, por conta desse governo que promove a destruição, o desmonte do país. Acho que vai haver uma atenção maior da mídia, em função da conjuntura e da articulação que está acontecendo, e acreditamos que a participação será além dos movimentos organizados” aposta Adriana.

O Grito e as mobilizações estudantis têm participação, entre outras entidades, das centrais sindicais, da marcha Mundial de Mulheres, do Levante Popular da Juventude, do Movimento dos Atingidos por Barragens, do MST, UNE e CMP.

Confira a programação. É importante destacar que, por seu caráter descentralizado, o Grito dos Excluídos e as manifestações estudantis podem acontecer em outros locais além dos anunciados. A organização estima que haverá atos em 157 municípios.

 

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