O programa Pauta Brasil dessa quarta-feira, 3 de março, discutiu a pandemia a partir das cidades, que é onde concretamente estamos todos nós. Se uma cidade impõe ações para conter a pandemia e seus vizinhos não, é provável que os esforços sejam em vão. O programa mostrou o exemplo de Araraquara, no interior de São Paulo, o que deixa claro isso: enquanto a cidade está em isolamento o mesmo não ocorre nos municípios vizinhos, facilitando a transmissão se propagar e comprovando que é urgente uma ação de Estado única para essa batalha.

Edinho Silva é prefeito de Araraquara, cidade considerada referência em 2020 no combate à pandemia da Covid-19. “Criamos equipes de bloqueio, telemedicina, testagem para a população, campanhas de esclarecimento, leitos a mais, enfermarias especiais e conduzimos bem o processo. Somos a terceira menor letalidade do país”.

Apesar dos esforços da cidade, a partir da nova variante e mudanças na contaminação, com população mais jovem sendo atacada diretamente, foi preciso aumentar as medidas e decretar fechamento total, aumentando a política de isolamento, com decisões “baseadas na ciência”. O prefeito tem consciência que o fechamento impõe graves perdas ao comércio, mas ele alerta que estamos prestes a viver “a maior tragédia humanitária da nossa história”.

“Se não temos vacina em massa, nos resta o isolamento social”, explicou o prefeito, que também relatou os esforços em negociar com a sociedade, pois “a nova variante tem uma carga viral muito mais alta e o vírus é mais agressivo. Estamos entubando jovens de 25, 30 anos aqui”, lamentou.

“Se tem um crime de responsabilidade que esse governo tem cometido é o crime contra a vida”, disse Edinho ao criticar o desgoverno Bolsonaro e sua irresponsável ação na pandemia. Ele também falou sobre o texto que defende vacinação para todos no país e que defende o direito à saúde. “Está se aproximando um tsunami que irá matar milhares de brasileiros e brasileiras que não terão acesso à saúde”.

Cadeia produtiva hospitalar, criação de leitos, busca por médicos em outros países e a produção de vacinas seriam medidas que se o governo tivesse adotado, estaríamos em outra situação.

O programa também teve a mediação de Ana Paula Sóter, ex-secretária executiva do Ministério da Saúde, e a participação de Arthur Chioro, ex-ministro da Saúde, que falou sobre a importância que foi o exemplo de Araraquara, oposto da tragédia que tem sido Bolsonaro.

Para Ana Paula, “a omissão do desgoverno Bolsonaro foi uma escolha no sentido de piorar a pandemia, aumentar a transmissão e as mortes”.

E Chioro concorda, é uma omissão deliberada que gera uma “tragédia sem precedentes. A condução da pandemia por Bolsonaro nos levará a uma tragédia. Chegaremos em julho com mais de 500 mil óbitos no Brasil”. Ele lembra que se o Brasil tivesse feito a lição de casa, teríamos 44 mil óbitos. Se nada for feito ultrapassaremos 1,5 milhão de mortes.

O ex-ministro usa Araraquara como exemplo, que sendo cidade modelo ainda assim precisou recorrer a ações duras. São dezesseis semanas de crescimento, resultado do conjunto de decisões de Bolsonaro. “O desmonte da estrutura técnica do Ministério, do comitê de vacinação, a incapacidade de prover vacinas, de incidir sobre os insumos em falta, a ausência do governo e sabotagem em relação às medidas não medicalizantes, destruição das estratégias de isolamento social; o Ministério não fez campanhas de informação, a sabotagem do próprio presidente com o uso de máscaras, o confronto com governadores e prefeitos, incapacidade de financiar a saúde, os equívocos na estratégia de vacinação, a guerra política” foram exemplos elencados por Chioro.

“São questões que se acumulam e irão gerar a tragédia social e humanitária que viveremos”. Chioro não deixou de pontuar a responsabilidade de Paulo Guedes e sua visão liberalizante, as sabotagens como base do governo mas também as ações do PT para conter a criminosa omissão de Bolsonaro. “Mas milhares e milhares de vidas estão sendo ceifadas, isso é completamente inaceitável”, disse.

Ainda comentou as ações da oposição e do PT, a importância do Auxílio Emergencial e, para o futuro, uma grande questão: as sequelas da Covid-19 e os custos delas.

Ele encerrou sua participação lembrando a responsabilidade de cada um de nós na proteção à vida e que o Brasil precisa de um grande freio para não vivermos tragédia maior, mas temos que mobilizar a sociedade e convencer parte dela. “Os fascistas precisam voltar para o armário e nós lutar pela vida, pelo SUS, pelo direito à vacina, por políticas públicas, ciência e tecnologia. Precisamos enfrentar as forças conservadoras”.

Assista a íntegra do programa aqui.