No dia 4 de novembro, enquanto estavam sendo apurados os votos das eleições presidenciais estadunidenses, o Observa BR recebeu Celso Amorim, diplomata, ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa, e Cristina Soreanu Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Unifesp e do Programa San Tiago Dantas (Unesp/Unicamp/PUC-SP) para debater o tema “como as eleições dos EUA nos afetam?”. A mediação foi de Márcio Jardim, diretor da Fundação Perseu Abramo.

Apesar de a eleição não estar decidida, os prognósticos já indicavam o favoritismo de Biden. Para falar sobre o possível impacto das eleições dos EUA no Brasil, Celso Amorim recorre à eleição de Trump, como exemplo, com a presença da extrema-direita nas proximidades do governo, que acabou por refletir no Brasil com eleição de Jair Bolsonaro, “uma caricatura de Trump”. Segundo o diplomata, o elo existente entre os dois governos com uma possível derrota de Trump se desfaz e Bolsonaro se encontrará no dilema de se aproximar (ou contemporizar com) de Biden ou continuar na mesma linha e se revestir de um pseudonacionalismo. Então, com a vitória de Biden, o cenário político brasileiro tende a mudar bastante, e o impacto no país e na América Latina deverá ser positivo. No plano global, Amorim acredita em uma distensão com a Europa, uma vez que hoje a relação é de conflito. Já o impacto que poderá ter no relacionamento com a China considera difícil prever, talvez a política de Biden seja menos agressiva. “A animosidade com relação à Rússia talvez se agrave um pouco”, arrisca.

A professora Cristina Pecequilo considera que o “jogo colocado com as eleições nos EUA traz dimensões geopolíticas e geoeconômicas bastante interessantes para o Brasil”. Resta saber se o país vai saber aproveitar as oportunidades no caso de vitória do Biden ou se o Brasil continuará com a política externa que vem travando no caso de reeleição do Trump. Para a professora, os impactos se darão principalmente no campo do multilateralismo, na reformatação das alianças dos EUA e com relação à China, caso Biden seja eleito. Já Trump tentaria reformatar esse multilateralismo no sentido de acomodar os interesses estadunidenses para favorecer uma política nacionalista protecionista que beneficie dentro da globalização o próprio EUA, com uma formatação unilateral e imposta.

Com um eventual governo Biden, Pecequilo argumenta que “haverá uma recuperação desses mecanismos múltiplos de liderança, sem deixar de lado a questão da supremacia e do militarismo, mas que terá de se voltar mais para dentro do que para fora, já que os EUA são o epicentro da pandemia do coronavírus e estão enfrentando uma crise político-social muito grave”. Além disso, é preciso lembrar que independentemente de quem ganhe, tendo em vista o processo eleitoral tenso, terá de enfrentar muitos inimigos internos. Pecequilo considera importante, caso Biden ganhe, a possibilidade de mudança no intercâmbio com a China e de ambos trabalharem de forma mais cooperativa, o que mudaria substancialmente o grande tabuleiro de poder global.

 

Assista a íntegra do programa abaixo.

Esse programa é parte do Observa BR (clique aqui para acessar), iniciativa que objetiva concentrar debates e troca de informações e ser um repositório acessível, dinâmico e sempre atualizado de notícias, propostas, iniciativas, políticas, análises e formulações relacionadas à reconstrução e transformação do Brasil, superando os problemas estruturais do país agravados pelas crises sanitária, econômica, política e financeira em que se afundou pela completa incapacidade do governo Bolsonaro no combate à pandemia de 2020 e a seus efeitos.

O programa é transmitido ao vivo nas noites de quarta e sexta-feira, às 21h, no canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, em sua página no Facebook e perfil no Twitter.