Os problemas, as dificuldades e o futuro da economia em 2021 foram os temas abordados no Observa BR da sexta-feira, 16 de outubro. A íntegra do programa pode ser vista aqui.
Com mediação de Artur Araújo, consultor da Fundação Perseu Abramo e da Federação Nacional dos Engenheiros, os convidados foram três economistas: Marcelo Manzano, Carlos Pinkusfeld Bastos e Daniel Negreiros Conceição. A importância do Auxílio Emergencial, que só existiu graças a oposição, e sua redução e a promessa de descontinuidade foi o início da conversa.
Carlos Pinkusfeld Bastos é economista, mestre pela UFRJ, PhD pela New School for Social Research, professor associado do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ) e colaborador do Grupo de Economia Política e do Grupo de Economia do Setor Público, ambos da UFRJ. Lembrou que a partir de certo momento da história do mundo os governos resolveram ser muito mais austeros. Por que se austeridade diminuiu voto, emprego, prestígio? “O capitalismo não é uma máquina de crescimento, é uma máquina de dar lucro”, explicou.
“O efeito pandemia não é tão grande assim, ele é apenas uma parte. Os números apontam para o que estamos cansados de ver: a economia em 2017 chegou no piso e esse piso era social (Previdência, salário mínimo) e vários fatores fizeram a economia não cair. Sem a pandemia, vamos voltar aos níveis de 2014. Como se o país ficasse parado e só voltasse uma década depois. A situação é muito grave. Segundo ele, foi o Auxílio que não permitiu que o Brasil caísse na “hecatombe completa”.
A indústria vem caindo, o comércio não teve crescimento exuberante. Teve impacto nos serviços também. E voltamos ao que éramos: 1,1, 1,4. O Brasil está fazendo a opção de desregulamentar o mercado de trabalho. Não há nenhum componente de gasto privado que faça a situação ficar diferente em 2021. A única variável que podemos fazer diferente é justamente o gasto, explicou.
Daniel Negreiros Conceição é economista, professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da UFRJ. É um dos autores do livro “Teoria Monetária Moderna: a chave para uma economia a serviço das pessoas". Para ele o cenário é pessimista, apesar de “a ação da oposição que não deixou o país chegar em uma situação devastadora”.
O professor explica que a se o Auxílio não for mantido o país irá colapsar e somos guiados por um governo que não dá chance de superação. Na gestão econômica “há uma disputa entre os horrorosos e os muito ruins. Estamos falando de um déficit primário que vai chegar perto de um trilhão de reais, é sem comparação com nada no passado recente”.
O fato de a economia “estar estagnada significa que a gente evitou o pior, mas os quase um trilhão de reais injetados não foram suficientes”, disse Daniel. Para ele, o governo é o criador da moeda, e ele já faz isso. “Todo pagamento que o governo faz é através da criação de moeda; a moeda tem que sair do Estado para então voltar para ele de novo”. Quem coloca os reais que a gente usa para manter a economia funcionando é o governo brasileiro. Se o governo não tiver capacidade de fazer gastos muito mais generosos do que no passado vamos entrar numa espiral recessiva”.
Marcelo Manzano é economista, pesquisador Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Cesit/Unicamp) e coordenador do programa de maestria “Estado, Gobierno y Políticas Públicas” da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso/Brasil). Ele acredita “que um passeio pela economia brasileira é um passeio de trem fantasma: a situação é muito alarmante e o cenário para 2021 é muito ruim”.
Segundo a pesquisa Pnad-Covid, que avalia também o mercado de trabalho, o desemprego aumentou em 790 mil em uma semana e todas as semanas aumenta o desemprego. À medida que o Auxílio Emergencial vai diminuindo há uma volta de procura de trabalho. O desemprego já tinha um patamar alto, devemos chegar até o final do ano essa questão muito piorada. “Temos o pior governo na pior crise, sem responsabilidade social ou com o país”, alertou Manzano, que também falou sobre a importância do Auxílio Emergencial.
Sobre o futuro, o economista explica que o PIB seria um grande jumbo voando e precisa de quatro turbinas para isso: consumo, investimento privado, gasto do governo e as exportações. “O consumo vai sofrer com o fim do Auxílio Emergencial, o investimento privado não tem previsão de retorno, as exportações são pouco importantes nessa imagem e o que resta é o gasto público”. Não romper com as regras fiscais seria o suicídio do Brasil, disse.
Questões ligadas às cadeias globais, sustentabilidade ambiental e as possíveis perdas do país no que se refere à ciência e tecnologia assim como os impactos do neoliberalismo também estiveram presentes no debate.
Esse programa é parte do Observa BR (clique aqui para acessar), iniciativa que objetiva concentrar debates e troca de informações e ser um repositório acessível, dinâmico e sempre atualizado de notícias, propostas, iniciativas, políticas, análises e formulações relacionadas à reconstrução e transformação do Brasil, superando os problemas estruturais do país agravados pelas crises sanitária, econômica, política e financeira em que se afundou pela completa incapacidade do governo Bolsonaro no combate à pandemia de 2020 e a seus efeitos.
O programa é transmitido ao vivo nas noites de quarta e sexta-feira, às 21h, no canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, em sua página no Facebook e Twitter.
