Tradução de Kaline Honório para artigo de Cheryl Arcibal publicado pelo South China Morning Post

O danificado setor de viagens levará anos para se recuperar, mesmo depois que as vacinas contra o coronavírus forem lançadas, diz Booking.com.

• A recuperação dependerá da vontade dos consumidores de gastar dinheiro com lazer em meio a uma retração que provocou cortes salariais e demissões

• Aqueles que estão dispostos a viajar nestes dias tendem a optar por viagens domésticas, praias locais e viagens de carro pela natureza, diz o diretor administrativo regional

É improvável que uma vacina para o Covid-19 seja uma solução rápida para a enferma indústria de viagens, que ainda levará anos para se recuperar a níveis pré-pandêmicos, de acordo com o Booking.com.

"Acreditamos que uma vacina e/ou tratamento comprovado é fundamental para que as pessoas se sintam seguras para viajar novamente, e mesmo assim, passarão anos - não trimestres - até que as viagens retornem aos níveis pré-pandêmicos de 2019", disse Angel Llull Mancas, vice-presidente e diretor administrativo da Ásia-Pacifico, por meio do provedor de serviços de viagens on-line.

Se e quando um programa de vacinas bem-sucedido for lançado globalmente, a recuperação da indústria de viagens também dependerá da economia mundial e da vontade dos consumidores de gastar dinheiro com lazer em meio a uma retração que dizimou a receita corporativa e provocou cortes salariais e até mesmo demissão para muitos trabalhadores.

Até o momento, vários candidatos potenciais à vacina estão passando por testes clínicos, mas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, a vacinação generalizada contra o coronavírus só deverá ser alcançada em meados de 2021.

A indústria de viagens é uma das mais afetadas pela pandemia, já que as fronteiras internacionais se fecharam para conter a propagação da doença. No primeiro semestre do ano, estima-se que os hotéis na Ásia-Pacífico tenham perdido pelo menos US$50 bilhões em receitas, pois 80% deles tiveram que interromper temporariamente as operações no auge da pandemia.

A indústria mundial da aviação, excluindo as companhias aéreas, provavelmente perderá US$2 trilhões este ano, segundo uma avaliação de Zhang Lei, fundador e presidente do Institute for Aviation Research, um think tank independente.

"A pandemia teve um impacto imenso em muitas indústrias em toda a região, incluindo o setor turístico, devido às restrições de viagem em todo o mundo e à absoluta imprevisibilidade do vírus", disse Llull Mancas. "A indústria de viagens continua sob pressão significativa à medida que o mundo continua a enfrentar surtos contínuos, limitação de movimentos transfronteiriços e preocupações com a saúde que impedem muitos de explorar com confiança para além de suas casas".

Aqueles dispostos a viajar nestes dias preferem viagens domésticas, praias e viagens pela natureza. A hospedagem alternativa - desde acampamentos até casas na árvore - também é popular, representando 40% das novas reservas na plataforma durante o segundo trimestre.

Os destinos de viagem de carro estão se tornando mais atraentes, pois é menos provável que os turistas viajem de avião.

"Desde o início da pandemia, temos visto um aumento dramático no uso de palavras específicas pelos hóspedes quando fazem perguntas sobre uma propriedade. Por exemplo, o uso das palavras 'limpo' e 'higiene' aumentaram em mais de 60%", disse Llull Mancas.

A demanda por viagens internacionais pode cair até 80% neste ano, e a recuperação para níveis pré-crise pode ser estendida até 2023 se a economia global afundar ainda mais em meio a uma pandemia de coronavírus, de acordo com as projeções de pior caso da consultoria Euromonitor International divulgadas em junho.

"Em um nível mais granular, propriedades [de hotéis] que antes dependiam de viagens de negócios podem ver sua [tarifa média diária] reduzida devido a redução do número de viagens corporativas, e podem não retornar tão cedo, especialmente para o segmento MICE", disse Llull Mancas, referindo-se a reuniões, incentivos, conferências e exposições.

Essa descoberta é corroborada pelos dados mais recentes da empresa global de serviços de pagamento Mastercard. Uma análise de suas redes constatou que a partir de julho, os consumidores do G20, um grupo de 19 nações ricas e da União Européia, estão gastando dentro de um "raio de varejo centrado em casa" à medida que as pessoas viajam e gastam mais perto de casa.

Outra descoberta é que os hotéis menores estão tendo uma trajetória mais exitosa - sua taxa de recuperação é mais de 50% melhor do que a dos hotéis maiores.

(O autor Cheryl Arcibal, antes de se mudar para Hong Kong, Cheryl cobriu a economia de sua terra natal, as Filipinas)

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