Resenha de Henry Campos e Nahuan Gonçalves

 A pandemia da COVID-19 colocou holofotes sobre a virologista Shi Zenghli. A cientista, que recebeu a alcunha de Mulher Morcego, lidera um grupo de virologistas no Wuhan Institute of Virology – WIV, na cidade onde a epidemia teve início, na China. Foram muitas as especulações de que o vírus causador da COVID-19 teria escapado do seu laboratório, teoria promovida pelo presidente americano, Donald Trump, enquanto outros sugeriram que o vírus seria produto da engenharia genética no WIV.

A Dra. Shi quebrou um logo silêncio sobre essa polêmica no último dia 15 de julho, em depoimento enviado à prestigiada revista científica Science, e o seu conteúdo foi revelado pela revista há poucos dias, em sua edição de 24 de julho. Ela repudiou a especulação de que o vírus havia escapado do seu laboratório e declarou que ela e seus colegas descobriram o vírus no final de 2019, em amostras provenientes de pacientes que apresentavam uma pneumonia de origem desconhecida, declarando que “antes disso, nós nunca tivemos contato ou estudamos esse vírus”, enquanto rebate fortemente “o que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, advoga – que o SARS-CoV-2 escapou do nosso laboratório, o que os fatos contradizem” , acrescentando que “essa afirmação compromete e afeta o nosso trabalho acadêmico e a vida pessoal. Ele nos deve um pedido de desculpas”.

 A pesquisadora informou que o seu laboratório isolou e fez crescer em cultura, nos últimos 15 anos, apenas três coronavírus relacionados ao que infectou pessoas: o agente causador da Síndrome Respiratória Aguda Severa (SARS), que irrompeu em 2003. Entre os mais de 2.000 vírus de morcegos detectados no laboratório está incluído um que é 96,2% idêntico ao SARS-CoV-2, o que significa que eles compartilharam um ancestral comum décadas atrás e que eles são simplesmente sequências genéticas que a sua equipe extraiu de amostras de esfregaços orais e anais dos animais. Ela também registrou que todos os profissionais e estudantes do laboratório tiveram , recentemente, testes negativos para o SARS-CoV-2, o que contradiz a ideia de que uma pessoa infectada  no seu grupo teria sido o gatilho disparador da pandemia.

A manifestação da Dra. Shi vem a público em um momento em que indagações sobre o coronavírus causam tensões internacionais crescentes. Donald Trump frequentemente chama o SARS-CoV-2 de “o vírus da China”. A China, por outro lado, tem feito uma assertiva sem comprovação – de que o coronavírus pode ser originário dos Estados Unidos.

As declarações da Dra. Shi, ancoradas por sólida carreira científica, não constituem unanimidade, embora ela tenha o apoio da grande maioria dos pesquisadores internacionais. Enquanto são crescentes as pressões globais para uma prova internacional, independente, sobre a origem do vírus, a China convidou dois pesquisadores da Organização Mundial da Saúde para visitar o país e discutir a abrangência de uma futura missão in loco.

A Dra. Shi Zenghli encerrou suas declarações à revista Science reforçando o achado de outros pesquisadores: “Nos últimos 20 anos os coronavírus vêm perturbando e impactando vidas humanas e economias”. E finaliza: “Aqui faço um apelo à comunidade internacional para fortalecer a cooperação internacional na pesquisa sobre as origens dos vírus emergentes. Espero que cientistas de todo mundo possam permanecer juntos e trabalhar juntos”.

Para ler mais: www.sciencemag.org