No Observatório da Coronacrise de 3 de julho, o economista Carlos Gadelha, coordenador e líder do Grupo de pesquisa sobre desenvolvimento, complexo econômico industrial e inovação em saúde (GIS/FIOCRUZ), e o médico infectologista Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde e da Secretaria de Relações Institucionais, fizeram uma aguerrida defesa de um modelo de desenvolvimento econômico baseado na manutenção dos direitos sociais e que tenha como elemento central a geração de ciência, tecnologia e inovação na área da saúde.
Com o tema “Complexo industrial da Saúde e as respostas à coronacrise” e mediação de Vivian Farias, diretora da Fundação Perseu Abramo, o programa desconstruiu o mito segundo o qual não seria possível conciliar economia e saúde.
“Saúde é antes de tudo desenvolvimento. Um país como o Brasil não terá condições de construir um ciclo histórico de desenvolvimento que reduza a desigualdade social, regional e econômica, e insira o Brasil num novo papel na geopolítica mundial sem considerar a saúde um tema central do seu projeto de desenvolvimento econômico, um tema central da economia e da geração de riquezas e da redução da desigualdade”, disse Padilha logo no início do programa.
No mesmo caminho, Gadelha afirmou que enxergar saúde como gasto é ter uma visão míope sobre saúde e sobre desenvolvimento. “Saúde não é gasto, é desenvolvimento. Saúde gera emprego, renda e vai permitir ao país entrar na quarta revolução tecnológica e industrial”. Entendendo que a economia deve estar a serviço das pessoas e, portanto, deve garantir direitos sociais, completou: “A dimensão econômica e tecnológica é parte da política de saúde. A gente não vai ter um sistema universal equânime e integral nesse país se a gente não tiver na base a ciência, a tecnologia e a inovação. Eu costumo dizer que a gente vai ter um SUS com pé de barro”.
Padilha lembrou que durante os governos petistas a política de compra de equipamentos e insumos envolvia a abertura e transferência de tecnologia da indústria internacional para um polo nacional de produção, o que era possível pelo enorme poder de compra do SUS (que diminuiu com a imposição do teto de gastos), pela atuação do BNDES, da Finep e do CNPQ, e, por fim, pela capacidade de coordenação da política que o Governo Federal outorgava ao Ministério da Saúde.
Gadelha mostrou como essa política foi desmontada a partir do golpe de 2016, diminuindo a capacidade do país de enfrentar emergências sanitárias como a atual pandemia. “A gente está falando é sobre o futuro desse país, que ficou de joelhos para comprar ventiladores, para comprar equipamentos de proteção individual com profissional de saúde morrendo na ponta”.
Assista à íntegra do programa: