Promover a melhoria da qualidade de vida das populações que habitam o entorno das áreas preservadas contribui para refrear a degradação e fornece novas bases para a educação ambiental.Autor: Antonio José Faria da CostaCada vez mais a noção de conservação dos recursos naturais passa a ser associada à promoção de mecanismos de geração de renda para a população que habita o entorno das áreas preservadas. Abandona-se a idéia de preservação da natureza intocada, e procura-se quebrar o elo da degradação ambiental pelo caminho do desenvolvimento sustentável, considerando a eliminação da miséria e a proteção do meio ambiente indissociavelmente relacionados: uma vez que são desenvolvidas atividades alternativas envolvendo o meio ambiente, mais rentáveis que a mera exploração natural, os habitantes próximos às áreas demarcadas tornam-se verdadeiros guardiães do patrimônio natural.

Esses são os princípios da Escola de Ecologia Humana e Educação para a Cidadania Herbert de Souza, da Reserva Biológica do Tinguá, Nova Iguaçu-RJ, cujo objetivo principal é formar e capacitar profissionalmente jovens e ambientalistas.

ANTECEDENTES

A preocupação de um grupo de amigos, moradores da região, com a degradação ambiental que vinham observando na região do Tinguá levou à criação da Associação Ambientalista Onda Verde. Desde sua fundação, a Onda Verde passou a promover eventos voltados para a conscientização da população sobre a questão ambiental. Foram organizadas manifestações em torno do problema do lixo, do transporte urbano, e, também, pela conservação da Reserva Biológica, decretada como reserva da biosfera patrimônio da humanidade, devido à rica biodiversidade local e do risco potencial de poluição dos manancias de água existentes na região.

A Onda Verde passou a oferecer cursos de educação ambiental para a comunidade dos moradores, num velho galpão do INCRA, visando a formação de monitores ambientais. Durante as atividades, os dirigentes perceberam que havia uma demanda dos participantes por cursos alternativos, com maior apelo profissional.

Diante das novas perspectivas, tornou-se prioritário conseguir um espaço físico adequado. Surgiu assim a idéia de construir, no mesmo terreno do INCRA, onde antes havia um lixão, uma escola que fosse nova desde a sua concepção.

Inaugurada em janeiro de 1999, a Escola de Ecologia Humana e Educação para a Cidadania Herbert de Souza dispõe de 536 metros quadrados de área construída com salas de aula, laboratório de informática, biblioteca, oficina de artesanato, restaurante e anfiteatro com capacidade para 200 pessoas.

Atualmente estão sendo oferecidos cursos de informática, silk-screen, reciclagem de papel, e corte e costura, língua estrangeira, tapeçaria, encadernação e culinária.

ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO

Durante dois anos a Onda Verde desenvolveu um trabalho de educação ambiental nos galpões da praça do Tinguá. Quando surgiu a idéia de construir a Escola, foi realizada uma pesquisa domiciliar para conhecer os anseios da comunidade na implantação dos cursos. O diagnóstico reconhecia o potencial que a região tinha para o turismo ecológico, assim como a carência de infra-estrutura para seu desenvolvimento.

O primeiro passo foi conseguir o terreno do INCRA. O passo seguinte foi captar recursos que viabilizassem a execução da obra.

Várias alternativas tecnológicas foram pesquisadas não só para diminuir o custo total da construção, mas para que se adequassem aos princípios ecológicos e à idéia de construir um espaço que se incorporasse à exuberância ambiental da região: a escola deveria ser ao mesmo tempo bonita, moderna e funcional.

Após estudos de viabilidade econômica e visitas às unidades de produção no Rio de Janeiro e São Paulo, a equipe técnica da Onda Verde optou pelos painéis de EPS High Tech, que possibilitaram uma redução de 20% no custo final do projeto e ampliação da área total construída (536 metros quadrados). Trata-se de paredes pré-moldadas constituídas de miolo de poliestireno expandido (isopor), envolto em telas de aço nas duas faces, unidas por treliças de aço como espaçadores. Depois de montadas as paredes, os painéis recebem a aplicação de argamassa jateada. Além de ser um produto não tóxico e não poluente, a tecnologia dos painéis High Tech possibilita a economia nas instalações elétricas, hidráulicas e de telefonia.

A cobertura da Escola também mereceu atenção especial por parte da Onda Verde. Foram empregadas telhas produzidas com fibras vegetais e minerais: são leves, inquebráveis e anti-corrosão, além de contarem com baixa taxa de absorção de água, transmissão térmica e acústica.

Como o objetivo da Escola é promover alternativas de desenvolvimento de habilidades específicas e geração de renda para a comunidade, desde o início foi incorporado ao projeto a importância de contratar mão-de-obra local. Um monitor participou de um curso oferecido pela empresa e pôde, junto com a visita e supervisão do engenheiro responsável no local da obra, orientar e organizar os demais trabalhadores.

Construída a Escola, as parcerias visando o aprimoramento dos mecanismos de gestão e qualificação dos recursos humanos foram se concretizando no decorrer do processo de implantação dos cursos.

A preocupação com a conservação ambiental esteve presente em todos os procedimentos utilizados na construção da Escola. Todo o lixo produzido é separado e encaminhado para reciclagem. Desde a fundação foi idealizado um sistema de tratamento de esgoto no local através de cinco fossas cépticas paralelas, reduzindo praticamente a zero a carga de poluentes ao final do processo.

SUSTENTABILIDADE
O custo total da obra de construção da Escola foi orçado em R$ 195 mil. A Comunidade Européia contribuiu com cerca de 24% deste total. A Petrobrás, proprietária de um gasoduto que atravessa a Reserva Biológica, contribuiu com 13%. O BNDES, dentro do seu Programa de Apoio a Crianças e Jovens em Situação de Risco, foi responsável por cerca de 63% do total dos recursos empregados na construção. As indústrias proprietárias da tecnologia de ponta contribuíram com a venda do material pelo preço de custo.

O custo mensal da Escola é da ordem de R$ 8 mil. Todos os cursos são pagos, com preços variando de R$ 5 a R$ 20 por mês. Os alunos que não têm como pagar prestam algumas horas de serviço voluntário, anotadas num "Banco de Horas" ou participam do Programa Bolsa Solidária: empresas contribuem mensalmente para custear os cursos de alunos de baixa renda.

O restaurante, por sua vez, é um espaço com potencial para gerar renda. Com uma média de cinco mil visitantes por final de semana às cachoeiras do Tinguá, a Escola pensa em oferecer refeições para os turistas, além de criar Festivais de Gastronomia durante os quais seriam servidos pratos especiais de várias regiões do Brasil.

Está em andamento um projeto, em parceria com o SEBRAE-RJ, de criação de Ateliês de Produção Comunitária. Trata-se de profissionalizar a produção e venda de produtos produzidos na Escola e num sítio que os organizadores planejam comprar, com financiamento já garantido pela Comunidade Européia, para ampliar e diversificar as atividades desenvolvidas. O espaço funcionará simultaneamente como oficinas para o trabalho dos jovens formados na Escola e pousada para abrigar eventos relacionados com a Ecologia Humana.

INDICADORES
Do total de 108 alunos que atualmente freqüentam a Escola, 41% estão matriculados na rede pública de ensino, 17% na rede privada e 42% não estudavam antes. Como 70% dos alunos da Escola têm entre 11 a 18 anos, é significativa a parcela de crianças que têm na Escola do Tinguá seu único contato com a educação formal. Dentre os 30% restantes a maior parte é composta por adultos que freqüentam os cursos profissionalizantes e de alfabetização comunitária à noite. 63% dos alunos têm renda familiar de até 1 salário mínimo.

Dentre os cursos oferecidos, o de Informática é o que conta com o maior número de alunos e turmas, representando 57% do total. Outros cursos cuja freqüência é significativa são o de Alfabetização (11%) e Corte e Costura (8%).

A maior parte dos alunos matriculados (108) mora da própria comunidade em que se localiza a Escola. No entanto, há alunos provenientes de vários bairros de Nova Iguaçu e de bairros da zona norte do Rio de Janeiro.

PARCERIAS

Desde o início a instituição alemã SIS (Stiftung für internationale Solidarität und Partnerschaft) vem avalizando as ações da associação, sendo responsável pelo financiamento conseguido junto à Comunidade Européia destinado às primeiras obras.

O IBAMA é outro parceiro importante que viabiliza o desenvolvimento de projetos no campo da educação ambiental, de preservação da Reserva Biológica do Tinguá e seu entorno.

A Fundação Sócio-Ecológica e Cultural Xapuri participa como gerenciadora da captação e monitoramento dos recursos humanos das equipes técnica e de apoio.

O SEBRAE desenvolve um programa de treinamento e capacitação dos estudantes como futuros empreendedores. Também oferece assessoria administrativa e cooperação financeira sendo responsável pelo pagamento do salário de professores.

A Escola tem convênio com o Instituto C&A para oferecer aulas gratuitas de reforço escolar utilizando os recursos da Informática.

A ONG Campo (Centro de Assessoria ao Movimento Popular Rio de Janeiro) responde pelo repasse e fiscalização de verbas das instituições européias.

Além de participar com a maior parte dos recursos utilizados na edificação, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) é responsável pelo custeio do primeiro ano de funcionamento da Escola.

RESULTADOS

Como a Ecologia Humana estuda as interações possíveis entre homem e meio ambiente, o despertar da consciência ecológica perpassa pela valorização do ser humano como integrante essencial do ecossistema. Estudar formas de promover a melhoria da qualidade de vida das populações que habitam o entorno das áreas preservadas contribui para refrear a degradação e fornece novas bases para a educação ambiental, que deixa de ser matéria que se aprende apenas na sala de aula, passando a ser incorporada no cotidano de todos os interessados.

Todo o trabalho de construção da Escola e definição dos cursos foi realizado em função da demanda da comunidade. Isso é fundamental para que todo o esforço de organização e agregação de estímulos não se esvazie num projeto concebido apenas tecnicamente. Na medida que os cidadãos vêem atendidas as suas necessidades pessoais, o processo de implantação do projeto desencadeia uma verdadeira adesão, contribuindo não só para a integridade do espaço físico, que passa a ser fiscalizado por toda a comunidade, mas também para a continuidade das ações.

A concepção da Escola seguiu os princípios do método construtivo, segundo o qual todo esforço empreendido deve se reverter em aprendizado para os participantes do processo. Foi nesse sentido que já na construção houve a preocupação na contratação da mão-de-obra local. Como foram empregadas modernas técnicas de construção, a apropriação desses conhecimentos pelos pedreiros e mestres de obra gerou novas perspectivas para esses profissionais que passaram a contar com novas alternativas de edificação. Igualmente, foram valorizadas as questões relativas ao melhor aproveitamento do material e o planejamento das instalações de forma a propiciar economia de meios e atitudes ecologicamente corretas.

Já é possível notar o envolvimento da comunidade na procura pelos cursos (alguns como Informática já têm uma longa fila de espera), na freqüência aos mesmos e no comparecimento às atividades recreativas realizadas na escola, como a apresentação de peças teatrais e shows de música popular. Tais indicadores demonstram já uma efetiva melhoria da qualidade de vida da população local, que conta agora com alternativas de lazer e ocupação, representando, a Escola e seus cursos, espaços privilegiados para o exercício da sociabilidade.

CONTATOS

Escola de Ecologia Humana e Educação para a Cidadania Herbert de Souza

Rua Nossa Sra. Conceição nº 6 – Bairro Tinguá – Nova Iguaçu – RJ

Entidade Ambientalista Onda Verde

Diretoria:

Hélio Wanderlei e Cristina Venância – tel. (021) 9136-9143/ 9913-7748

Katia Maria – tel. (021) 768-4506

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