Diretora Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Tereza Campello desconstruiu, nesta segunda-feira (27), em entrevista à TvPT, a ideia de que o país pode se desenvolver sem a participação central do Estado.

“Mesmo que o processo de desenvolvimento seja executado pelo setor privado, precisa haver um processo de coordenação, se não você acaba construindo agendas que não necessariamente interessam ao país”, argumentou Campello, que também é ex-ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

E a coordenação, ressaltou, cabe necessariamente ao Estado, como fica evidente agora que o Brasil tem a necessidade de fazer a transição para uma economia em harmonia com a justiça social e a preservação ambiental.

“Não vamos construir uma economia verdade, inclusiva e que respeita a biodiversidade naturalmente. Naturalmente, o processo que vemos é predatório. Se cada ator pensar apenas em maximizar seu lucro e não pensar no coletivo — que é o papel do Estado —, a gente não consegue construir essa perspectiva de futuro”, explicou.

Segundo Campello, quem defende um Estado pequeno, que não orienta o desenvolvimento, esconde o fato de que áreas em que o Brasil é bem-sucedido contaram e contam com investimentos robustos do governo brasileiro ao longo de décadas. É o caso do agronegócio.

“O governo brasileiro foi o grande promotor desse modelo de agronegócio. A gente teve investimentos gigantescos feitos pela Embrapa, ao longo de toda a história, desde a década de 70, investimentos de infraestrutura para permitir que o agro existisse também no Cerrado, e há todo um processo de financiamento subsidiado ao agronegócio. O que a gente chama de Plano Safra é, na verdade, um crédito subsidiado pelo governo”, observou.

Juros precisam baixar

Tereza Campello também explicou que, sob a presidência de Aloizio Mercadante, o BNDES está resgatando seus papel histórico de não só financiar o desenvolvimento brasileiro, mas também de debater e influenciar os rumos da economia do país.

“O banco, que se apequenou no governo Bolsonaro, deixou de cumprir seu papel, passou a ser apenas um agente privatizante, desestatizaste, deixou não só de fomentar a indústria e o desenvolvimento econômico como parou de discutir. Os técnicos não podiam nem abrir a boca”, lamentou.

Foi por ter entrado nessa nova fase que o banco organizou, na semana passada, um seminário em que renomados especialistas, incluindo o Nobel de Economia Joseph Stiglitz, discutiram a agenda de desenvolvimento do país, com fortes críticas à alta taxa de juros praticada atualmente pelo Banco Central brasileiro.

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A diretora do BNDES se juntou aos críticos da política mantida pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro. Para ela, o Brasil manter a taxa de juros real mais elevada do mundo não é razoável e não tem explicação.

“Nós, na verdade, precisamos de uma taxa de juros que permita que o país volte a crescer, que a indústria volte a ser retomada, que volte a se ter empregos. Com essa taxa de juros e com esse padrão de amarras que estamos vivendo, o país não só vai continuar estagnado como corre o risco de entrar num processo de decréscimo”, alertou.

Campello foi além e defendeu taxas ainda mais baixas para investimentos que estejam em sintonia com a atual agenda verde brasileira. “As taxas de juro no Brasil não só têm que baixar como um todo como, para determinadas agendas que interessam ao país, têm que ser diferenciadas. Não é mesma coisa você fazer qualquer indústria e você fazer uma indústria que respeita o meio ambiente e a biodiversidade”, argumentou.

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