O Noppe (Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos da Fundação Perseu Abramo) teve acesso a dados inéditos da pesquisa Conjuntura Política e Corrupção Financeira”, ainda não divulgados, realizada pelo Instituto Conhecimento Liberta, o ICL. O levantamento foi feito entre os dias 10 e 26 de novembro e mensurou a opinião dos brasileiros acerca de temas da conjuntura política e econômica nacional, além da temática relacionada à corrupção financeira. Foram feitas 2.685 entrevistas, via painel online, com margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

A pesquisa aponta que o governo Bolsonaro é lido como o governo que beneficia os mais ricos (mais de 62% acredita que o governo beneficia grandes empresários e banqueiros); que não trabalha para combate a pobreza e desigualdade; que não controla a inflação e o aumento dos preços.Além disso, 47% afirmam que o governo prejudicou pessoas na extrema pobreza, e 51% que prejudicou os trabalhadores.

A percepção é diferente quando os entrevistados são questionados sobre o governo do ex-presidente Lula: há uma percepção de favorecimento geral a todos os segmentos da sociedade – 71% apontam que seu governo favoreceu pessoas na extrema pobreza, um patamar semelhante aos que consideram que beneficiou trabalhadores (66%) e banqueiros (68%).

Há reconhecimento generalizado de que há uma crise econômica no Brasil (86% dos entrevistados), e a responsabilidade seria da Pandemia, de Bolsonaro e dos parlamentares. Quando perguntados sobre quem poderia auxiliar o país no enfrentamento da crise, a maior parte dos respondentes aponta o ex-presidente Lula – 38% do total.

A política econômica do governo é avaliada negativamente, e há rejeição ao ministro Paulo Guedes. Entre os que conhecem ou já ouviram falar no ministro da Economia, 41% o veem de forma negativa: Guedes é visto como alguém que atua em favor da população mais rica (para 60%), que é controlado por bancos privados (57%), é incompetente (52%) e corrupto (50%).

Há uma compreensão bastante ampla do que é corrupção: de não pagar imposto (91%) a fazer gasto (68%). Além disso, 80% acreditam que a corrupção está presente tanto no setor público quanto no privado. No entanto, a classe social daquele que pratica o ato influencia na percepção: 93% acreditam que é corrupção quando pessoas ricas não pagam impostos; enquanto apenas 51% acredita que o mesmo vale para sonegação cometidas por pessoas pobres.

Além da compreensão majoritária sobre a existência da corrupção nas instituições políticas (86% concordam que a responsabilidade pela existência da corrupção é dos políticos), a pesquisa também mostra que, quando explicado o que é corrupção financeira e o impacto dela no orçamento público, a população se mostra bastante crítica à prática: 80% acham que mesmo sendo legal é imoral quando ricos enviam dinheiro para paraíso fiscal; 76% opinam que é eticamente inaceitável que um gestor público tenha dinheiro em paraíso fiscal.

Além disso, são as corrupções que envolvem maior volume de dinheiro as consideradas mais prejudiciais para o país: mais da metade dos entrevistados colocam o não pagamento de impostos pelas empresas em algum dos lugares (1º, 2º ou 3º) como a pior prática dentre as testadas.

 

Matheus Tancredo Toledo é cientista político com mestrado na PUC-SP e analista do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (Noppe/FPA)

Jordana Dias Pereira é mestre em sociologia e coordenadora do Noppe

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