Paulo Guedes deve ser lido pelo avesso
Veio a público no dia 17 de outubro uma Nota Informativa do Ministério da Economia elencando uma série de medidas adotadas nos primeiros nove meses de governo Bolsonaro que supostamente estariam levando a uma recuperação da economia brasileira.
Ora. Infelizmente, a realidade é bem menos cor-de-rosa do que sugere a propaganda do ministro da Economia. A começar pelo crescimento pífio do PIB, cuja taxa em 2019 não deve sequer igualar os resultados medíocres dos dois últimos anos (1,1% a.a.). Guedes entrará para a história como aquele que foi incapaz de fazer o PIB per capita avançar, mesmo depois de passados três anos de uma recessão profunda que reduziu o PIB per capita em 10,4%. Essa marca é absolutamente inédita e revela quão desastrosa tem sido a política macroeconômica de orientação neoliberal praticada por ministros banqueiros que se revezam no comando da economia nos últimos anos. O máximo que conseguiu (em linha com seu antecessor Henrique Meirelles) foi retardar a recuperação cíclica que vem sendo esperada desde 2017.
Mas a propaganda governamental chama mesmo a atenção pela inversão de causalidade que opera. Comemoram a inflação persistentemente abaixo da meta, quando deveriam dar explicações da razão do Banco Central não ter sido capaz de reduzir a taxa Selic a um ritmo mais acelerado ante um quadro de evidente anemia da demanda agregada, de elevada capacidade ociosa da indústria (25%) e de inaudita subutilização da força de trabalho que já alcança 28 milhões de brasileiros.
Comemoram a redução do déficit primário quando os serviços públicos ofertados pelo governo federal encontram-se em frangalhos, com falta de profissionais de saúde, falta de vacinas, corte de recursos para pesquisa e inovação e a mais baixa taxa de investimento público desde o início da série em 2007 (1,7%) – o que significa que não se está conseguindo sequer manter a infraestrutura física já instalada no país.
Além disso, a propaganda do governo é especialmente desonesta quando se pronuncia sobre a nova gestão da Petrobras. Anunciando a produção de três milhões de barris diários como prova de seu êxito, se omite em dizer que entre a prospecção e o começo da produção de petróleo em um determinado poço leva-se ao menos sete anos e que, portanto, todos os louros e os dólares que hoje são colhidos pela Petrobras devem-se exclusivamente aos governos do PT e à aposta que do ex-presidente Lula em investir nos poços do Pré-Sal a partir de 2005.