Demissão de presidente do Inpe mostra descaso com o desmatamento
Depois de desentendimentos com Jair Bolsonaro sobre os dados de desmatamento da Amazônia, a exoneração do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, foi anunciada pelo ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Marcos Pontes, na última sexta-feira (02-08).
Ricardo Galvão divulgou dados do Inpe que mostram que houve um aumento de 88% no desmatamento da Amazônia em junho em relação ao mesmo mês de 2018. Jair Bolsonaro contestou os dados sobre monitoramento do desmatamento da Amazônia apresentados e acusou o presidente do INPE de estar agindo de “má-fé” na divulgação e cogitou a possibilidade de Galvão estar “a serviço de alguma ONG”.
Bolsonaro afirmou que tinha convicção que os dados divulgados eram “mentirosos” e que “se toda essa devastação de que vocês nos acusam de estar fazendo e ter feito no passado [tivesse ocorrido], a Amazônia já teria sido extinta, seria um grande deserto”. Disse ainda que “uma notícia como essa, que não condiz com a verdade, tem um estrago muito grande à imagem do Brasil”.
O diretor do instituto reagiu à crítica de Bolsonaro e disse estar escandalizado com as declarações, consideradas inaceitáveis não só a ele próprio como a todas as pessoas que trabalham pela ciência desse país. Para ele, Bolsonaro fez comentários impróprios e sem nenhum embasamento atacando a “medição oficial” de desflorestamento do país, que serve como parâmetro para o resto do mundo sobre política ambiental.
Uma semana após a polêmica, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes pediu ao Inpe um relatório sobre o monitoramento do desmatamento da Amazônia nos últimos dois anos e criticou Ricardo Galvão por ter reprovado as falas de Jair Bolsonaro. Salles afirmou que a informação divulgada de que o desmatamento na Amazônia avançou 88% em junho se comparado com o mesmo mês do ano passado é errada, alegando contagem dobrada de algumas áreas desmatadas, mas não afirmou o número real da área desmatada na Amazônia. O governo pediu investigação para apurar a divulgação dos dados sobre a destruição e anunciou a abertura de um processo de licitação para contratar um serviço de medição, desqualificando os estudos do Inpe.
O Inpe existe desde 1971, derivado do Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais criada pelo presidente Jânio Quadros, em 1961, com o objetivo de investir em pesquisas e tecnologia para que o Brasil participasse da corrida espacial e mede, com satélites, o desmatamento das florestas brasileiras desde 1988. O órgão tem respaldo de toda a comunidade científica e atualmente tem instalações em 12 cidades de todas as regiões do país, com sede em São José dos Campos, São Paulo.
Ricardo Galvão tem 71 anos, é doutor em Física pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, e é livre-docente em Física Experimental na USP desde 1983 e membro da Academia Brasileira de Ciências. Iniciou a carreira no Inpe em 1970 e ocupava a direção da entidade desde 2016. E embora tivesse quatro anos de mandato, o regimento do Inpe prevê substituição em situação de perda de confiança, o que aconteceu após constrangimento gerado ao contestar as críticas de Jair Bolsonaro. No lugar de Ricardo Galvão, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, nomeou o militar Darcton Policarpo Damião para ser o diretor interino do Inpe, até uma escolha definitiva por meio de lista tríplice a ser analisada por comitê.
O desprezo pelo meio ambiente é notável no governo Bolsonaro, sua decisão de paralisar as políticas de preservação e enfraquecer os órgãos de supervisão ambiental já levou todos os ex-ministros do meio ambiente (Rubens Ricupero, Gustavo Krause, José Sarney Filho, José Carlos Carvalho, Marina Silva, Carlos Minc, Izabella Teixeira e Edson Duarte) a assinarem um comunicado e lançarem um alerta para a sociedade sobre a crescente crise climática e ambiental.
O documento acusa o Governo de Jair Bolsonaro (PSL) de, em pouco mais de seis meses, impor uma “política sistemática, constante e deliberada de desconstrução e destruição das políticas meio ambientais” implementadas desde o início dos anos de 1990, e promover o desmanche de órgãos de fiscalização e controle ambiental como o Ibama e o ICMbio, indicando militares e policiais para os cargos de chefia das instituições e revertendo todas as conquistas das últimas décadas.