O ato Cem Dias de Desconstrução do Brasil promovido pelo Observatório da Democracia (OD) reuniu no plenário 6 da Câmara dos Deputados representantes da sociedade civil e dos partidos políticos de vários espectros do campo progressista. Para marcar os cem dias do governo Bolsonaro, as fundações integrantes do OD publicaram um relatório conjunto sobre as metas contraditórias e as primeiras medidas governamentais. As fundações partidárias que compõem o Observatório são João Mangabeira, Lauro Campos e Marielle Franco, Mauricio Grabois, Alberto Pasqualini-Leonel Brizola, Claudio Campos, da Ordem Social e a Perseu Abramo.

Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, abriu o ato apresentando a trajetória de construção do Observatório com as fundações partidárias, reafirmando o ineditismo da iniciativa coletiva, que permitiu a elaboração do documento apresentado. “A produção visa contribuir para o Parlamento e para os movimentos que estão acompanhando com muita preocupação o desenrolar desses primeiros cem dias de iniciativas, que infelizmente ao invés de ajudar a solucionar os problemas brasileiros, vem na realidade os aprofundando. Essa preocupação nos fez somar esforços.”

Pochmann destacou que este ato é um momento para reflexão para o Observatório no sentido de avançar no monitoramento para a formulação de propostas para solucionar o grande desafio econômico e o aumento da desigualdade que assola a sociedade brasileira.

O vice-presidente da Fundação João Mangabeira, Alexandre Navarro, apresentou os fatos mais relevantes desses cem dias de desconstrução provocado pelo governo Bolsonaro: a edição da Medida Provisória 870, que reorganizou a estrutura ministerial, causando uma série de ações contraditórias nas áreas de meio ambiente, com a incorporação de órgãos de proteção florestal e demarcação de terras na pasta da Agricultura, dominada pelo agronegócio, o desmantelamento do Ministério da Ciência e Tecnologia e Comunicação. A proposta da Reforma da Previdência e as medidas de relações comerciais com os Estados Unidos e Israel também foram destacadas. A etapa de cem dias é um momento favorável para os governos em geral. Esse governo do Bolsonaro parece, no final, com propostas medíocres para resolver os problemas do país, ressaltou.

Após a apresentação do relatório Governo Bolsonaro: cem dias, presidentes e direções das fundações fizeram uma síntese dos temas que acompanham no Observatório nestes três meses. As medidas autoritárias do governo na questão da Justiça e a ameaça à democracia foram analisadas por Renato Rabelo, da Maurício Grabois. Francisvaldo Mendes, da Fundação Lauro Campos/Marielle Franco destacou as ações de extinção do Ministério do Trabalho e a desestruturação da organização sindical como explícitos ataques aos direitos dos trabalhadore. Marcus Vinicius Mororó de Andrade, da Fundação Cláudio Campos, fez um balanço deste período sobre a desconstrução da políticas públicas para a Cultura, ressaltando a evidente falta de interesse do atual governo pelo financiamento estrutural para garantir a diversidade cultural do país. O presidente da Fundação da Ordem Social, Felipe do Espírito Santo, afirmou que o Observatório pode ir além do monitoramento das políticas públicas, construindo propostas para enfrentar a desconstrução das promovida pelo grupo que está no poder.

Deputados e senadores do PT, PDT, PCdoB, Psol e Pros acompanharam o ato, assim como representantes de organizações da sociedade civil, de entidades sindicais e observatórios. O Observatório Judaico de Direitos Humanos entregou para o Observatório da Democracia um relatório sobre o aumento da violência estatal contra a população mais vunerável. Este Observatório foi criado a partir do grupo Judeus e Judias contra Bolsonaro, reunido durante a campanha eleitoral do ano passado. Clarice Goldberg integrante do Observatório Judaico, fez a entrega do relatório e selou o compromisso da integração dessa organização com o Observatório da Democracia.

O deputado federal Henrique Fontana, do PT-RS, encerrou o ato sintetizando o que é o governo Bolsonaro. “Temos um grau de compreensão muito grande de um governo autoritário, que é de extrema direita, um governo que quer destruir a democracia do país, que é um governo antinacional, que não tem um projeto de nação é um diagnóstico em comum”. O que está sendo colocado é a política, a disputa pelo poder, afirmou ainda o deputado. Para fazer essa disputa é necessário fazer uma ampla aliança com a sociedade, com as pessoas que estão fora dos partidos.

Infográfico
A Fundação Perseu Abramo elaborou um infográfico para mapear os grupos que compõem a estrutura do governo Bolsonaro, denominado “Quem é quem no Governo Bolsonaro“. O infográfico foi publicado neste dia 10, como parte da análise dos cem dias. É interativo e colaborativo, permitindo a navegação pela estrutura ministerial reformulada em janeiro pela MP 870. Foram levantados os nomes dos integrantes dos ministérios nos cargos de primeiro e segundo escalões, com uma breve biografia relacionada. Os grupos de interesse mapeados foram os militares, a bancada ruralista, os grupos conservadores ligados a igrejas evangélicas e a movimentos de direita e aos integrantes da Operação Lava Jato.

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