Festival Lula Livre em São Paulo: um grito por justiça
Por Jéssica Rodrigues
A Paulista Aberta ficou pequena para a alegria e animação das pessoas que, com cartazes de Lula Livre e máscaras do ex-presidente, denunciaram sua prisão política e exigiram sua liberdade na segunda edição do Festival Lula Livre, no domingo 16 de setembro.
Em meio a muito música, poesias e gritos de reivindicações, o Festival contou com a presença de diversos artistas que conclamaram a retomada da democracia no Brasil durante o ato pela liberdade e pela justiça.
O grupo Ó de Casa, um dos primeiros a subir ao palco, tocou uma versão da música “Apesar de Você”, composição de Chico Buarque, feita em protesto durante a ditadura militar no Brasil. A letra pode ser lida como denúncia às consequências do golpe de 2016 e a impugnação da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva.
A cantora Aíla, em sua apresentação, lembrou a todos os presentes que esse é o momento do país e do povo não se calar e que “pela democracia, precisamos defender Lula Livre todos os dias”.
A rapper Preta Rara, famosa por defender pautas da população negra, esclareceu a importância de lutar por todos os presos políticos no Brasil, e disse ser um absurdo que mesmo nos dias atuais a herança escravocrata seja tão presente.
Ela relembrou que no país pessoas pretas são presas apenas por sua cor. “Os presos pretos são presos políticos também, não vamos esquecer Barbara Quirino”. Citando a jovem que foi condenada por assalto em agosto desse ano, mesmo após provar que estava em uma cidade diferente de onde o crime aconteceu.
Entre um show e outro, o público bradava gritos de “Lula Livre”, “Lula guerreiro do povo brasileiro” e “Olê olê olá, Lula, Lula”. O cantor Marcelo Jeneci subiu ao palco declamando a frase “Onde já se viu tirar o leão da floresta?”. O cantor Odair José fez da Paulista um grande coro cantando seus sucessos populares. Ao final de sua apresentação mandou um abraço para seu amigo Lula.
A surpresa do encontro foi uma carta escrita por Lula e lida pelo seu neto Thiago Trindade. “Eles podem apagar as luzes e desligar os microfones, mas mesmo assim vocês continuarão cantando, porque cada um de vocês, artistas e público hoje aqui reunidos é uma semente da primavera que jamais conseguirão deter”.
“Eu não posso acreditar que Lula está preso ainda! Bando de golpistas!”, foi com essa frase que o cantor Otto começou a sua apresentação. Durante toda sua apresentação, ele defendeu que “o maior líder desse país seja libertado”.
A cantora Ana Cañas, uma das últimas atrações, cantou a música Velha Roupa Colorida, de Belchior, como forma de protesto ao momento turbulento e controverso em que o país se encontra, com governo misógino, racista, neoliberal, de valores conservadores e velhos que não cabem mais ao Brasil.
O Festival também contou com a notável presença do casal Olívia e Francis Hime, que se apresentaram em homenagem ao ex-presidente.
Para encerrar o dia com chave de ouro, artistas, organizadores e público se uniram em um grande coro de “Eu sou Lula”.
A força das minorias
Durante todo o evento, ocorreram diversas manifestações para cobrar justiça pelo assassinato de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, assassinada em março desse ano. O cantor Chico César fez uma improvisação no meio do clássico Mama África. Um texto também foi escrito em sua homenagem a Marielle e Anderson e lido no palco. “Seis meses depois a pergunta segue sem resposta: quem matou Marielle Franco? Quem mandou matar?”. A plateia indignada reverberou gritos de “Marielle Franco, presente! Hoje e sempre!”.
A defesa dos direitos das mulheres também foi pauta do Festival. A cantora Preta Rara reafirmou que os corpos femininos não são objetos de posse da sociedade e por isso precisam ser respeitados. “Nós chamados de minoria somos na verdade a maioria nesse país, e temos que nos unir contra o preconceito e violência”.
Enquanto uma imensa bandeira escrita Lula Livre passava pela multidão enfervecida no Festival, a cantora Ana Cañas denunciou a tentativa de apoiadores do golpe em implantar o fascismo na sociedade. “Fascistas não passarão!”, clamava o público.