Museu queimado no Rio foi afetado por corte de verbas do governo
Com Informações da Revista Fórum e Agência Brasil
Luzia é o nome do fóssil humano mais antigo encontrado na América, com cerca de 12.500 a 13 mil anos, que reacendeu questionamentos acerca das teorias da origem do homem americano. O nome foi dado pelo biólogo Walter Alves Neves. Estava entre as peças e documentos queimados no dia 2 de setembro, no incêndio que destruiu o Museu Nacional, o maior museu de História Natural da América Latina.
A bancada do PT na Câmara e a Secretaria Nacional de Cultura do Partido dos Trabalhadores divulgaram notas que lamentam o incêndio e denunciam o descaso do governo golpista que levou à destruição este incomensurável patrimônio cultural, educacional, científico e histórico.
Vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Museu completou duzentos anos em 2018, e seu presente de aniversário foram cortes orçamentários que levaram à completa destruição de vinte milhões de peças. O local já passava por problemas para garantir sua manutenção e foi simplesmente jogado ao pior dos mundos pelo ilegítimo governo atual, com a Emenda Constitucional 95, que congela os gastos públicos.
Criado por Dom João VI, em 6 de junho de 1818, a instituição teve sua primeira sede no Campo de Sant’Ana. Com perfil acadêmico e científico, praxe em museus universitários, seu acervo contava com coleções de geologia, botânica, zoologia e arqueologia. O local foi sede da primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891, antes de ser destinado ao uso de museu, em 1892. O edifício é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O Museu sofria com problemas de financiamento para manutenção do acervo e da estrutura do prédio. Dos 535 mil reais anuais de orçamento previstos para o Museu, a instituição só recebeu 54 mil reais em 2018, segundo a UFRJ. Uma ossada de baleia estava duas décadas esperando por patrocínio para manutenção. Para suprir a falta de recursos, o Museu apelou para financiamento coletivo para realizar a manutenção da ossada.
Os cupins eram outra dor de cabeça enfrentada pelo Museu. A instituição estava há dois anos sem combater a praga. Mesmo a sala da direção tinha problemas: paredes tomadas por infiltrações estavam descascando. Para chegar ao local, era preciso passar por baixo de andaimes que seguram o reboco do teto do corredor, que ameaça cair.
O diretor de Preservação do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, João Carlos Nara, afirmou à Agência Brasil que o incêndio causa um “dano irreparável” ao acervo e às pesquisa nacionais. Ele acompanha de perto o trabalho dos bombeiros no local e disse que “pouco restará”, após o controle das chamas. “Infelizmente a reserva técnica, que esperávamos que seria preservada, também foi atingida. Teremos de esperar o fim do trabalho dos bombeiros para verificar realmente a dimensão de tudo”, afirmou o arquiteto e historiador.
Diversas entidades estudantis, entre elas a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Associação Nacional de Pós-Graduandos (SNPG), o DCE UFRJ e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) convocam, para esta segunda-feira (3), a partir das 16h, uma manifestação na Estação Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro. O evento, chamado “Luto pelo Museu Nacional! Em defesa da universidade pública!”, é o primeiro a ser convocado em função do incêndio.