Saída de Parente não muda política de preços da Petrobras
Em 1º de junho, o governo federal e os representantes de caminhoneiros entraram em acordo para suspender a paralisação que abalou o Brasil por mais de dez dias. Apesar da vitória dos caminhoneiros nas negociações com o governo, que zerou os tributos Cide e PIS/Cofins para o diesel, suspendeu pedágios para caminhões que trafegam vazios e reduziu 0,46 real no valor do diesel nas refinarias pelos próximos sessenta dias com repasse para o consumidor na bomba, o acordo foi considerado insuficiente.
Tais medidas não mudam a política de preços praticada pela Petrobras, cuja variação se baseia nas variações nas cotações internacionais do barril de petróleo e câmbio, com foco em rentabilidade no mercado financeiro. Além disso, o acordo não beneficia motorista de outros veículos, como automóveis comuns, carros de passeio ou trabalho e motos, pois não altera o preço final da gasolina, álcool, etanol e gás de cozinha.
Ao contrário, à população, em um primeiro momento, cabe o papel de fiscal de postos de gasolina, denunciando os que não repassarem o desconto de 0,46 real – detalhe: com o preço do diesel não tabelado, fica difícil saber ou confiar na informação do próprio posto sobre o valor do diesel antes da resolução. A população também sai prejudicada com a redução do Cide, imposto utilizado justamente para infraestrutura de transportes e o PIS/Cofins, impostos cujo objetivo é financiar a Seguridade Social, ou seja, áreas fundamentais como a Previdência Social, Assistência Social e Saúde Pública e o SUS.
Em meio a fortes discussões e pressões relacionadas à sua política de preços dos combustíveis, o então presidente da estatal, Pedro Parente, pediu demissão na última sexta-feira. Parente, literalmente, caiu para cima e assumiu o comando da BRF, maior exportadora global de frangos (uma união entre Sadia e Perdigão).
Em seu lugar, Ivan Monteiro assumiu interinamente a presidência da Petrobras na própria sexta-feira e teve seu nome aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobras nesta segunda, dia 4. Monteiro era diretor financeiro desde a gestão de Bendine e foi o responsável por implementar as diretrizes financeiras do atual plano de negócios da companhia. Passa a acumular o cargo de diretor-executivo financeiro e de relacionamento com investidores até a escolha de um novo profissional para a função. O nome de Monteiro foi bem recebido pelo mercado, pois representa a continuidade da gestão Parenta frente à Petrobras.
O forte apoio popular à greve expressa a grande insatisfação com o governo e a situação atual e não se restringiu a segmentos restritos da sociedade, nem foi especificamente relacionada à categoria. A greve atingiu e teve apoio do cidadão comum, que identificou sua insatisfação com a manifestação dos caminhoneiros, apesar de, durante a maior parte da paralisação, os principais veículos de comunicação e o governo afirmarem que a greve promovia o caos social.
Objetivamente, a greve dos caminhoneiros foi vitoriosa, pois confrontou a política de preços da Petrobras e pressionou pela saída de Pedro Parente. No entanto, a política de preços praticada pela estatal continuará a mesma, o que exigirá novas formas de pressão. O preço de combustível acirra a crise e reafirma a urgência da necessidade de atuação da esquerda, quem sabe reeditando, cinco anos depois, as jornadas de junho de 2013, que não eram só por vinte centavos. Desta vez, com sinal trocado, cabe à esquerda marcar posição e se manter mobilizada, dizendo que não é apenas por 46 centavos.
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