Roteiro tem como ponto de partida e concentração, a partir das 18hs, a Praça Antônio Prado. Trajeto lembra marcas da opressão e da resistência

Por: Coordenação da XX Marcha Noturna pela Democracia Racial

O roteiro da XX Marcha Noturna tem como ponto de partida e concentração, a partir das 18hs, a Praça Antônio Prado (próxima do Metrô São Bento), onde será instalado o Memorial Zumbi dos Palmares, antiga Rua do Rosário dos Homens Pretos, onde se localizava a Igreja Nossa Senhora Rosário dos Homens Pretos, que, em 1724, foi transferida para o Largo do Paysandu. O trajeto, às 20hs, segue pela Líbero Badaró, Viaduto do Chá e Praça Ramos, onde fica o Teatro Municipal – local onde nasceu o Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial em 1978. O caminho continua pela Rua Conselheiro Crispiniano chegando enfim ao Largo do Paysandu, onde se localiza a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
Porque marchamos hoje
Há exatos 128 anos, o Brasil proclamou a abolição da escravidão. Uma abolição, entretanto, inacabada porque o Estado brasileiro não criou mecanismos de inserção social dos negros e negras na sociedade brasileira. Pior, manteve intactos e têm sistematicamente atualizado os instrumentos de segregação, exclusão e extermínio da população negra.
As elites acadêmicas do século XIX defendiam uma nação “branca” como condição para se desenvolver. Depois disto, disseminou pelo país afora o mito da “democracia racial”, a partir dos escritos de Gilberto Freire. Mito este que foi desmontado com a ação do movimento negro contemporâneo  que denunciou os mecanismos sistêmicos e não sistêmicos de opressão racista.
Nos últimos anos, o movimento negro avançou, apesar da irrisória participação nos espaços de poder e de decisão que se constituiu num elemento importante para manutenção da população negra  na marginalidade. Vem exigindo políticas públicas de combate ao racismo, tanto de caráter geral como específicas.
Reconhecemos que significativos avanços promovidos contra a miséria extrema, a fome, a inclusão de milhares de jovens negros e negras nas universidades, além da implantação de políticas de promoção de igualdade racial, são, entre outros fatores, elementos que levam as elites brancas brasileiras a se unirem e atacarem o atual governo federal.
Apesar disto, mecanismos de opressão racista persistem e ameaçam a vida de negros e negras. A forma que foi realizada a transição da ditadura para a democracia deixou presente na sociedade brasileira instituições autoritárias em que a prática sistemática da violência e desrespeito dos direitos humanos tem sido a tônica.
Os bairros de periferia vivem em estados de sítio permanentes, com a imposição de toques de recolher, abusos de autoridade frequentes, desrespeito a direitos fundamentais e execuções  extra – judiciais. A prática da tortura física e psicológica ainda acontece em delegacias. A justiça continua lenta, elitista e pouco preocupada em atender as demandas dos cidadãos da periferia.
Hoje lembramos os 10 anos dos crimes de maio de 2006, uma das maiores chacinas praticadas na história pelo Estado brasileiro. Essa chacina se iniciou na noite do dia 12 de maio de 2006 e naquele mês 564 pessoas, entre elas 505 civis e 59 agentes oficiais, na sua maioria jovens e negros, foram brutalmente assassinados, em nome da defesa da população e do ataque ao crime organizado no Estado de São Paulo.
Os crimes de maio de 2006 estão entre os lamentáveis episódios que costumeiramente são justificados pela Polícia Militar  como “resistências à ação policial e alguns justificados com seguidas de morte”. Os aparelhos repressivos atuais repetem os mesmos requintes do período da ditadura militar e se voltam contra jovens negros e negras, trabalhadores, moradores da periferia.
A luta das mulheres negras, a exemplo do Movimento das Mães de Maio criado a partir dos crimes de maio de 2006,  tem garantido melhoria nas suas situações de vida mas persiste a violência, a desigualdade e a diferença, em prejuízo das mulheres negras em nosso país. Diante dessa realidade e lutando por direitos e conquistas foi realizada no dia 18 de Novembro de 2015 a vitoriosa Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver.
A XX Marcha Noturna: contra o racismo, a intolerância religiosa, pela democracia e contra o golpe.
As entidades do movimento negro do Estado de São Paulo que organizam essa marcha vêm a público manifestar sua posição consensual contra a tentativa de golpe em curso articulada pelos setores conservadores com apoio da mídia e por meio de ações de parte do Judiciário.
Concordamos com nota publicada no mês de março desse ano por um conjunto de organizações nacionais do movimento negro que estão se unificando em torno de uma articulação denominada de “Convergências da Luta de Combate ao Racismo no Brasil”:
“ 1 – Os setores que protagonizam esta tentativa golpista historicamente defendem propostas contra as bandeiras de luta do movimento negro e popular: Defendem a redução da maioridade penal; são contra as cotas e as ações afirmativas; atuam para retirar as perspectivas racial e de gênero dos planos de educação entre outros;
 2 – Pressionam pela imposição de uma agenda neoliberal; pela entrega do pré-sal e do patrimônio nacional às empresas estrangeiras e o pleno atendimento das demandas do grande capital financeiro;
 3 – Estes setores defendem o recrudescimento das políticas repressivas, da violência policial e do genocídio da população negra;
 4- Combatem as reivindicações das mulheres negras, a descriminalização do aborto, pregam o esvaziamento das poucas políticas públicas direcionadas às mulheres, notadamente as mulheres negras, tais como as trabalhadoras domésticas;
Nós que atuamos na luta contra o racismo e as desigualdades étnico-raciais, temos a convicção que qualquer ruptura com o frágil e ainda pouco eficaz processo democrático atingirá de forma mais grave o conjunto da população negra.
 Somos a favor da investigação de todos os casos de corrupção, mas não ao uso oportunista disso para impor uma agenda antipopular que penalize ainda mais nosso povo negro.
Trazemos em nossa ancestralidade toda uma história de luta e resistência que estamos dispostos a honrar neste momento tão importante na história deste Brasil que é nosso e construímos com cada gota do nosso suor.”
É por essa nossa história de luta e resistência que no dia 12 de Maio de 2016 marchamos:
Contra o racismo e a intolerância religiosa;
Pela democracia e contra o golpe;
Viva os 10 anos da luta do Movimento das Mães de Maio!