Para a autora, garantir direitos civis básicos, como ir e vir, para a população negra ainda é um desafio no Brasil

O livro Raça, Classe e Cidadania: a trajetória do debate racial no Partido dos Trabalhadores traça um panorama político sobre a questão racial no Brasil, especificamente dentro do PT. Para contar esta história, que começa nos anos 1980, com o ressurgimento dos movimentos sociais, a doutora em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e militante Claudete Gomes Soares dialoga com várias organizações da esquerda brasileira.

Durante o debate no lançamento do livro, na sede da Fundação Perseu Abramo, no dia 2 de fevereiro, o integrante do Conselho Curador da FPA e da organização Soweto, Flávio Jorge, relembrou alguns momentos importantes na trajetória do movimento negro para afirmar a importância do partido no combate ao racismo. “A primeira comissão de negros do PT foi criada em 1982. Nos primeiros documentos nós já manifestávamos a importância de organizar essa luta dentro do Partido dos Trabalhadores. Foi uma opção política daquela geração”, disse.

Questão racial dentro do PT é tema de livro

A autora reafirmou a grande identidade ideológica entre o movimento negro e o PT, que ela se dedicou a analisar em sua obra, bem como as transformações ocorridas no contexto da esquerda durante os anos 1990 e as modificações no discurso dos movimentos sociais no âmbito do fortalecimento do projeto democrático.

Para ela,  a luta por reforma agrária, direitos trabalhistas, ampliação dos direitos  das mulheres e da população negra tem sido historicamente travada por classes subalternizadas e não interessa aos grupos dominantes. “Quando pensamos a equidade defendida pela esquerda é em um espectro amplo, que problematiza as relações de poder”, disse.

A obra também analisa a visibilidade alçada pela questão racial após a Conferência de Durban, em 2001, quando o próprio campo político se viu pressionado a incorporar ações afirmativas às iniciativas de governo. “Para mim, a pauta das ações afirmativas é bastante vitoriosa. Eu sou professora de uma universidade pública e vejo os alunos cotistas conscientes de que seu lugar no ambiente acadêmico é um direito legitimado pela sociedade brasileira”, conclui.

Claudete ainda afirmou que nessa perspectiva de deslocamento para a cidadania é necessário refletir sobre como o movimento negro pode avançar. “Os direitos civis, básicos inclusive no sistema capitalista, não estão garantidos para a população negra no Brasil. Cotidianamente os negros têm seus direitos violados pelo Estado brasileiro, até mesmo o direto de ir e vir, pois são alvos constantes de violência policial apenas por andar nas ruas. Penso que esta seja uma questão urgente na qual devemos avançar”, disse.

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