Líder dos assentamentos não pode ser o embaixador de Israel no Brasil
Três ex-diplomatas israelenses pedem que o Brasil rejeite a indicação de um ex-lider de assentamentos como embaixador no país
No último fim de semana, por meio de canais diplomáticos, a presidenta Dilma Rousseff enviou comunicado à chancelaria israelense avisando não concordar com a indicação do empresário Danny Dayan como novo embaixador de Israel no Brasil. O fato foi notícia em Israel e agora cabe ao governo desse país a troca na indicação, para evitar o constrangimento de uma rejeição oficial. No artigo abaixo, três ex-embaixadores israelenses exortam o governo brasileiro a rejeitar Dayan e explicitam os motivos para tal.
Por Alon Liel, Eli Barnavi e Ilan Baruch*
O senhor Danny Dayan foi recentemente indicado por Binyamin Netanyahu como embaixador de Israel para o Brasil e o protocolo diplomático exige que um despacho seja enviado para o ministro de Relações Exteriores brasileiro, notificando-o da escolha feita e requisitando a “aprovação” do governo, ou concordância com a indicação. Somente então ele terá liberação para iniciar os preparativos para sua designação. Nosso argumento é que, embora o Senhor Dayan possa se provar um hábil diplomata por mérito, experiência e lealdade ao governo de Israel e ao primeiro-ministro Netanyahu, o Brasil deveria em princípio recusar sua indicação, sob os seguintes motivos:
Dayan é um colono, foi presidente do Conselho Yesha (do movimento de assentamentos). Representa uma indicação política, não é um diplomata de carreira, e é ideologicamente comprometido com o que é considerado internacionalmente, inclusive pelo Brasil, como um ato ilegal de usurpação de território pertencente ao povo palestino, tanto enquanto nação como, por vezes, de propriedades particulares de indivíduos, confiscadas para uso dos colonos.
Em um artigo para The New York Times (26.7.12), e em inúmeras outras publicações, Dayan se coloca contra a Solução dos Dois Estados, alegando que a percepção internacional quanto à Cisjordânia e à Jerusalém Oriental como territórios ocupados que ao fim serão negociados pela paz e de onde os colonos irão se retirar é infundada. Ele afirma que tendo Israel conquistado esses espaços em um ato de autodefesa durante a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, faz jus a eles e que não há legitimidade na reivindicação palestina quanto à sua posse ou à remoção dos colonos, de modo a por fim à ocupação. Dayan argumenta ainda que o número de cidadãos israelenses vivendo na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental é grande demais – cerca de 400 mil pessoas, ou 5% da população de Israel – para que se tencione sua remoção para as fronteiras de Israel de 1967.
O Brasil é um forte defensor da Solução de Dois Estados e sempre esteve comprometido com a legítima demanda dos palestinos por um estado soberano e independente na Cisjordânia e Faixa de Gaza, tendo Jerusalém Oriental como sua capital. Em verdade, o Brasil tem compartilhado desta visão com a vasta maioria dos membros das Nações Unidas, e esteve entre os países que reiteradamente votaram a favor da Solução de Dois Estados, Israel e Palestina, lado a lado na segurança, na paz e na prosperidade.
O Senhor Dayan não acredita em segurança, paz e prosperidade através do fim da ocupação. Ele acredita que aos palestinos que vivem na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental deveria ser dada uma escolha: ou imigração ou aceitação da hegemonia israelense, que enquanto possa aprimorar sua posição econômica e oportunidades de negócios, é indiferente às ignoradas, ainda que justas, aspirações de autodeterminação por meio de soberania e estado de direito.
Estamos em tempos críticos. Se dentro desta curta fase histórica nós não assistirmos a uma mudança fundamental na natureza das relações entre Israel e Palestina, de ocupação para vizinhos, por meio da construção da Solução de Dois Estados, nós conduziremos nossa região para mais um caos sangrento. Nós acreditamos que a comunidade internacional em geral, e o Brasil em particular, como uma das forças mais importantes do mundo, são obrigados a enviar uma mensagem inequívoca para Jerusalém, a de que a atual política do governo Netanyahu de aprofundar a ocupação por meio da expansão dos assentamentos está condenada e é perigosa.
“Concordância” com a indicação de um ex-presidente do Conselho dos Colonos e notório defensor do movimento dos assentamentos como embaixador de Israel no Brasil é o sinal errado para a comunidade que apoia os dois estados, israelense e palestino, e uma vitória esmagadora para os que advogam por um estado binacional não-democrático. É ainda uma mensagem clara à comunidade internacional como um todo: “Podem esquecer a ideia dos Dois Estados; podem esquecer a ideia de um Estado Palestino.”
Por isso cremos que esta indicação deva ser recusada. Sugerimos que o governo brasileiro requisite do governo de Israel reconsiderar a escolha de seu próximo embaixador e envie ao Brasil um diplomata sênior de carreira, não um ativista político-partidário.
Embaixador aposentado Dr. Alon Liel, ex-diretor-geral do Ministério das Relações Exteriores de Israel
Embaixador aposentado Eli Barnavi, ex-embaixador de Israel na França
Embaixador aposentado Ilan Baruch, ex-embaixador de Israel na África do Sul
*As opiniões aqui expressas são de inteira responsabilidade de seus/suas autores/autoras, não representando a visão da FPA ou de seus dirigentes.