Em aula, Dulci discute a resistência dos governos do PT ao neoliberalismo
Aula aconteceu no último dia 1º e dá início ao Curso de Difusão do Conhecimento, parceria entre FPA e Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
Por David da Silva Jr.
No dia 1º de setembro, a Fundação Perseu Abramo (FPA) e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC realizaram a aula inaugural de sua parceria no Curso de Difusão do Conhecimento. A aula aconteceu no Auditório Celso Daniel, na sede do sindicato, em São Bernardo do Campo (SP). O curso é fruto do convênio firmado entre as duas instituições, em 26 de julho, e tem como objetivo a formação de lideranças sindicais, além de servir de espaço para troca de experiências.
A mesa de abertura foi coordenada pelo diretor de Organização do sindicato, José Roberto Nogueira da Silva, o Bigodinho, e contou com as presenças de Aroaldo Oliveira da Silva, vice-presidente da entidade; Cícera Michele Silva Marques, secretária de Formação da Confederação Nacional dos Metalúrgicos; e Gilberto Alvarez Giusepone Júnior, o Giba, diretor da Escola Livre para Formação Integral “Dona Lindu”.
A aula foi ministrada por Luiz Dulci, diretor do Instituto Lula, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República e autor do livro Um salto para o futuro: como o governo Lula colocou o Brasil na rota do Desenvolvimento (clique aqui e faça o download), lançado pela Editora FPA. Durante a explanação, o ex-ministro lembrou da primeira vez que foi a São Bernardo, no fim da década de 1970, a convite do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ex-professor, profissão que o levou ao sindicalismo, Dulci tratou também da importância da formação e da contribuição teórico-metodológica de Paulo Freire nesta área. “A gente deve querer aprender. A gente deve querer saber mais”, afirmou.
Utilizando como base sua militância, por um lado, e a experiência como ministro, por outro, Dulci analisou a história recente do Brasil de modo a marcar as diferenças entre os governos do Partido dos Trabalhadores e seu antecessores. Para ele, a eleição de Lula em 2002 só foi possível graças ao fracasso do neoliberalismo no país, sobretudo nos oito anos de governo de Fernando Henrique Cardoso. “Num primeiro momento, o governo do PSDB teve relativo sucesso, mas foi um fracasso completo no segundo mandato”.
O ex-ministro lembrou que FHC pediu recentemente que a presidenta Dilma Rousseff renuncie, mas que não cogitou o mesmo quando, após a eleição, descumpriu o que havia prometido em campanha. “Se o Fernando Henrique, que cometeu estelionato eleitoral, não renunciou, por que ele diz que a presidenta Dilma deveria renunciar? Qual é a autoridade moral e política dele para isso?”. Para ele, se o governo FHC tivesse produzido resultados positivos, o ex-presidente teria conseguido eleger seu sucessor, o que não ocorreu em 2002. “O PSDB e o DEM fazem oposição hoje como se não tivessem governado o Brasil e imposto seu programa neoliberal, que fracassou”.
Dulci rebateu ainda as acusações de populismo feitas pelos tucanos. Para ele, o governo de Fernando Henrique é que incorreu em populismo cambial – por conta da equiparação entre real e dólar até as eleições, ao custo do aumento da dívida pública e do desemprego, diminuição das exportações e queda da balança comercial. O ex-ministro afirmou que o programa neoliberal partia de dilemas que o ex-presidente Lula mostrou serem falsos, como a contraposição entre combate à inflação e crescimento, crescimento do mercado interno e aumento das exportações, crescimento e distribuição de renda, e desenvolvimento regional e nacional.
Além destes temas, Dulci mostrou que os antecessores de Lula também partiam de um falso dilema político, segundo o qual representação não combinaria com participação política da sociedade civil, o que o PT teria superado com as 74 conferências nacionais organizadas entre 2003 e 2010.
Crise
Além de comparar os 12 anos de governo do PT aos oito do PSDB, Dulci também tratou da crise econômica que se instalou no país no último ano. “A crise internacional é uma realidade, o que não quer dizer que não há erros locais”. Iniciou por apontar o que, segundo ele, seria a origem do déficit de R$ 80 bilhões. Destes, segundo ele, R$ 50 bilhões teriam vindo da desoneração concedida a empresários sem o estabelecimento de uma contrapartida. O foco da política de desoneração era dar segurança para que as empresas aumentassem os investimentos, o que não ocorreu. Os outros R$ 30 bilhões de déficit teriam vindo, segundo o ex-ministro, do uso das termoelétricas, por conta da crise hídrica e consequente baixa dos reservatórios das hidrelétricas. Para ele, a redução necessária dos gastos públicos já foi feita, restando agora ao governo voltar a investir para um novo ciclo de crescimento.
Fotos por Sérgio Silva
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