FPA Nota de Conjuntura

FPA Nota de Conjuntura 2 - Outubro 2014
 
FPA Nota de Conjuntura 2 - Outubro 2014
Grupo de Conjuntura Fundação Perseu Abramo
20 de outubro de 2014
 

Conjuntura Internacional

Na última semana se verificou uma redução da tensão em alguns dos pontos críticos da conjuntura internacional.

Rússia e Ucrânia anunciaram um acordo provisório sobre o preço do gás russo para garantir o abastecimento no inverno, superando a interrupção do fornecimento acontecida desde junho passado. Mas existem pontos pendentes em relação a dívidas passadas da Ucrânia e as eleições legislativas do próximo domingo devem resultar em uma ampla maioria para a bancada “pró-Ocidente” nesse país.

Foi informado que os EUA e a Rússia estão trocando informações sobre as milícias autodenominadas “Estado Islâmico”. As divergências entre ambos países diminuíram em relação ao conflito na região após a mudança de foco dos EUA para priorizar o combate ao “EI” e não a derrubada do governo da Síria. Porém, a estratégia norte-americana de bombardeiros não tem dados resultados até agora na medida que essas milícias continuam conquistando territórios (agora na fronteira com a Turquia).

Em relação aos temas do comércio internacional, ganharam destaque as declarações pessimistas do brasileiro R. Azevedo, diretor geral da OMC, apontando para o fracasso da implementação do acordo de Bali, de facilitação de comércio. Trata-se de uma notícia ruim para a estratégia do governo brasileiro que prioriza as negociações multilaterais de liberalização comercial.

Na nossa região teve destaque a reeleição por ampla margem do presidente boliviano Evo Morales e a provável conquista de maioria absoluta nas duas câmaras do Congresso.

Finalmente, junto com o segundo turno no Brasil acontece o primeiro da eleição no Uruguai. O candidato da Frente Ampla, Tabaré Vazquez se mantem à frente, mas há dúvidas se a FA conseguirá maioria própria no Congresso e as perspectivas para um segundo turno indicam uma disputa acirrada com o segundo colocado, o candidato Lacalle Pou, do Partido Nacional. Na mesma data a população deverá decidir em um plebiscito sobre a redução da maioridade penal (tema sobre o qual há forte pressão conservadora no país).

Conjuntura econômica 

A conjuntura econômica internacional entrou no debate político nacional. Os economistas vinculados ao candidato de oposição afirmam que a crise internacional iniciada em 2008 já terminou e, em consequência, os problemas que o Brasil vive hoje não podem ser explicados por esse vetor.

No entanto, as dificuldades econômicas internacionais não foram superadas. É verdade que houve alguma recuperação econômica dos EUA – inclusive graças ao aumento de suas exportações ao Brasil – mas os países da Europa continuam entre a estagnação e a recessão. As principais economias asiáticas emergentes estão buscando estabilizar seu crescimento em patamares inferiores aos de períodos recentes quando operaram como locomotivas da economia mundial. Na América Latina algumas economias exportadoras têm um desempenho um pouco melhor graças a conjunturas específicas de seus produtos de exportação, mas os países mais industrializados atravessam maiores dificuldades pela concorrência acirrada no comércio mundial.

Temas da conjuntura social

Um estudo histórico sobre o mercado de trabalho desde os anos 90 mostra que nos anos do governo FHC houve uma clara orientação para a flexibilização de direitos trabalhistas. Nos anos do governo Lula o viés principal foi da re-regulação do trabalho e um aumento expressivo do trabalho com carteira assinada.

Na atual conjuntura a candidatura de oposição propõe novas medidas flexibilizadoras. E o caso da proposta de remuneração variável no serviço público e a volta de um discurso centrado na redução do “custo Brasil”.

 

Opinião pública e eleições presidenciais

As pesquisas eleitorais do final de semana passada mostravam que continuava um empate na margem de erro entre as duas candidaturas presidenciais. No entanto, nelas se expressaram novidades: melhora a avaliação do governo Dilma, aumenta a rejeição ao candidato Aécio, diminui a rejeição à candidata à reeleição. Isso já se refletiu na pesquisa CNT/MDA divulgada hoje onde a candidatura da presidenta Dilma lidera, invertendo pela primeira vez posições com o candidato Aécio Neves, ainda que na margem de erro persista um empate técnico.

Neste contexto, se percebe a ascensão de uma onda de intolerância. Trata-se claramente de uma campanha anti-PT. Se o resultado for apertado, favorável à reeleição, há setores políticos conservadores que parecem acenar com uma “estratégia venezuelana” (isto é, desconhecer o resultado, tentar inviabilizar o governo eleito, etc.).

Outras análises indicam a necessidade de se estudar melhor se existe uma polarização “nacional” ou se ela é restrita a uma parte dos Estados da Federação. Não em todos o embate estadual é contra o PT. Estados onde os resultados econômicos e sociais têm sido mais expressivos, haveria menos confrontação anti-petista.

Diferentemente de outras eleições, os debates entre candidatos na TV desta vez estão sendo importantes para definir os votos. Isso parece ser um sinal de politização.

A crise hídrica em São Paulo deixa a descoberto os problemas da gestão neoliberal dos recursos naturais. O tema passou a integrar a disputa programática entre os dois candidatos.

Em relação à campanha da presidenta Dilma, se percebe a necessidade de se tratar com estratégia diferente os setores de “classe média” e dar prioridade a temas vinculados à população negra.

Nos últimos dias houve uma presença da militância de rua em uma intensidade muito superior à do primeiro turno. Isso aconteceu em muitos casos como autoconvocação de setores que sentiram necessidade sair a defender um novo mandato para a presidenta Dilma ou evitar que a direita conquiste o governo com o Aécio. As análises consideram que essa explosão de militância está sendo decisiva para impulsionar e consolidar a “virada”.

A vitória de Dilma abrirá para o PT um cenário de novos desafios: dialogar com movimentos sociais novos, que não surgiram no mesmo período que o partido; requalificar a relação com o movimento sindical; ter uma estratégia diferente com a classe média, que foi tradicional aliada do partido, mas com a qual se tem tido problemas há vários anos.

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