Prefeito de Osasco (SP) avalia as grandes manifestações que sacudiram o país, após dois meses, e os aprendizados para a gestão.

Por Jorge Lapas

Passados dois meses das grandes manifestações que sacudiram o país, com inédita participação massiva da juventude, inclusive nas ruas de nossa cidade, é hora de uma reflexão serena sobre o clamor popular e de relacionar as lições que, em Osasco, modestamente, começamos a extrair das memoráveis jornadas juninas.

Antes de qualquer coisa, é preciso assinalar que as passeatas, sobretudo graças à prudência e sabedoria dos manifestantes pacíficos, mudaram o sentimento do Brasil, constituindo um marco divisório entre o passado e o futuro na história de nosso país. Os brasileiros sentem-se hoje mais confiantes em si próprios, com legítimo orgulho de sua capacidade de protesto e ciosos da sua cidadania. Quem permaneceu indiferente às multifacetadas mensagens das ruas perdeu contato com o presente, ficando algemado a um passado que já não indica soluções para as angústias atuais. Ao contrário, aqueles que procuram decodificar os recados das ruas – que vão da exigência de mobilidade e acessibilidade urbana aos reclamos de inclusão social e redução das disparidades econômicas, passando pelo reconhecimento dos direitos das mais diversas minorias – e neles buscam inspiração para suas ações cotidianas, têm a oportunidade de dialogar com o presente, principalmente se interpretarem de forma adequada as aspirações generalizadas por transparência e participação direta na gestão, de influir sobre a construção do futuro.  

Com uma formação mais técnica, na condição de engenheiro que sou, e sendo alguém que procura compreender os próprios fatos sem preconceitos ideológicos ou políticos, acreditamos ser necessário decifrar as razões e buscar respostas mesmo para as ações da minoria de manifestantes que a imprensa caracterizou como vândalos. De fato a depredação do patrimônio público, os saques e a destruição de indefesos estabelecimentos comerciais, fatos que ocorreram inclusive na nossa Osasco, são moralmente inaceitáveis.

Até hoje, sessenta e tantos dias depois, dói a visão da Banca do Jair, situada na Avenida dos Autonomistas, do outro lado do Teatro Municipal, para nós um símbolo da injustificável destruição daquele que provavelmente era o meio de vida de um pai de família. Apesar disso, pensamos que os excessos praticados por uma minoria de jovens talvez decorram de um sentimento profundo de exclusão. É possível que as ações violentas representem um pedido quase desesperado de ser notada de uma parte da juventude que se sente alijada não apenas da oportunidade de trabalho numa sociedade cada vez mais globalizada e tecnicamente exigente, do acesso ao ensino e à saúde de qualidade, mas até mesmo dos canais de diálogo com a geração anterior, com o poder estabelecido e até com a própria sociedade. Imaginamos que este é o principal recado das ruas: a exigência de respeito e de participação na definição dos rumos da sociedade. 

Embora a Prefeitura seja o ente republicano com menor capacidade de dar conta dos reclamos generalizados, entendemos que ela não deve fugir a sua responsabilidade e que é nosso dever levar a sério a insatisfação popular, ampliando os espaços de participação nas decisões que dizem respeito ao destino comum. Por isso, temos tomado iniciativas para ouvir os jovens não apenas nos seus assuntos específicos, como os temos convocado a participar das decisões gerais da Prefeitura, como cidadãos que são.

A respeito dos interesses específicos dos estudantes e jovens trabalhadores, criamos a Coordenadoria da Juventude, que será implantada com base nas conversações com todos os interessados, com quem já nos reunimos duas vezes, em 31 de julho e 12 de agosto, para ter um “papo reto”, como definimos na ocasião, e voltaremos a nos reunir quantas outras vezes forem necessárias. 

No que tange aos rumos gerais do desenvolvimento da cidade, conclamo todos os cidadãos de Osasco, principalmente os jovens, inclusive aqueles que ainda não atingiram a maioridade eleitoral, a participar das discussões do Orçamento Participativo, que decidem a alocação de curto prazo dos recursos públicos, e do Osasco 50+10, novo nome com o qual estamos retomando e aprofundando o Projeto Osasco 50 Anos, para decidir as metas de longo e médio prazos do nosso município e para integrar o conjunto dos setores da Administração sob a vontade soberana da maioria dos osasquenses. 

Jorge Lapas é engenheiro e prefeito de Osasco (SP)