É a economia…
Por Wladimir Pomar
O mote da semana é a queda da popularidade da presidente Dilma. Todos os analistas, sem exceção, a relacionam aos problemas econômicos. O que, em parte, é verdade. Mas omitem que uma parte importante dessa queda está relacionada à campanha constante, perseverante, sem tréguas, do Partido da Mídia, a respeito de um pretenso descalabro econômico. Por incrível que possa parecer, os agentes desse partido não se referem ao fato de que a inflação está em queda. E sequer dão atenção ao empenho do governo em elevar as taxas de investimento e em administrar o câmbio, algo fundamental para elevar a produção e o emprego, rebaixar preços e aumentar a competitividade das exportações. Jogam na perspectiva de que a mudança da política de crescimento via consumo para a política de crescimento via investimentos não dê certo.
Afinal, essa mudança, se coloca o país diante da solução dos problemas estruturais, também empurra o governo a ter que enfrentar novas questões conjunturais, não apenas econômicas, mas também sociais e políticas. A primeira delas se refere à necessidade de fazer com que as forças políticas participantes da coalizão governamental tenham unidade em torno dessa política, sem o que será difícil fazer com que ela se cristalize como eixo do desenvolvimento.
O que significa definir as prioridades que, diga-se de passagem, não se limitam a juros, câmbio, desonerações e outras diretrizes macroeconômicas. E estabelecer uma operacionalidade de modo que os resultados positivos da nova política já comecem a aparecer em 2013.
Em outras palavras, o plano de execução dos investimentos prioritários não pode ficar em generalidades. Ele precisa articular-se à conjuntura atual e fazer parte da disputa de ideias que a oposição neoliberal e, também, parte do situacionismo liberal, estão impondo à sociedade. Essas duas correntes de opinião supõem que o que chamam _milagre da classe média_ teria sido fruto exclusivo do aumento da dívida dos consumidores.
Em tais condições, qualquer aumento no desemprego seria catastrófico para as carteiras dos bancos e varejistas. O corte do crédito seria inevitável, principalmente em virtude da vulnerabilidade externa da economia brasileira. Para elas, as taxas de juros nos Estados Unidos, ao reverterem sua tendência de queda, estariam fazendo com que o dólar americano se valorize em relação a todas as moedas do mundo.
Ao mesmo tempo, a economia norte-americana teria começado a apresentar melhoras, tanto no mercado imobiliário quanto na exploração e produção de óleo e gás, com a perspectiva de se livrar das importações de petróleo nos próximos 10 anos. E o desaquecimento do crescimento da China, e sua mudança na política de investimentos, reduziria o consumo das commodities. Portanto, essas mudanças nas duas principais potências econômicas da atualidade tenderiam não só a reduzir os preços das commodities minerais e agrícolas, mas também a promover uma queda nas exportações brasileiras, com consequências negativas inarredáveis.
Além disso, os pensadores neoliberais e liberais concluem que, após os anos de forte aumento do salário real, a produção e o consumo de qualquer serviço no Brasil teriam se tornado muito caros. Se o governo houvesse desvalorizado o real em certa medida, para enfrentar a desvalorização do dólar e do euro, os efeitos teriam sido menos negativos. Mas isso não teria ocorrido por temor dos efeitos da desvalorização sobre a inflação. Apesar disso, a inflação teria retornado em virtude das reduções continuadas da taxa básica de juros, implementadas nos últimos anos.
Nessas condições, ainda segundo eles, o governo Dilma não teria muitas opções. Teria que deixar o câmbio chegar a R$ 2,50 por dólar. Isto geraria inevitavelmente mais inflação, sendo necessário elevar ainda mais os juros para conter a inflação. Portanto, não haveria como evitar uma recessão de curto prazo, promovendo, em cascata, desemprego, inadimplência nos empréstimos bancários e nos créditos do varejo, redução dos créditos, mais recessão, e assim sucessivamente, até o governo ser obrigado a recorrer ao socorro do FMI. Politicamente estaria conformado o cenário para retirar o PT do governo, senão em 2014, certamente em 2018.
É nesse encadeamento econômico e social que se baseia toda a estratégia neoliberal, e também de uma parte do liberalismo burguês. Apesar da linearidade desse pensamento, seria um erro subestimar a possibilidade de sua concretização. Se as prioridades dos investimentos não forem tratadas levando em conta os problemas e as disputas conjunturais da atualidade, o governo corre o risco de que se ver diante de alguns dos cenários descritos por eles. Afinal, embora os altos preços praticados na economia brasileira tenham pouco a ver com os aumentos salariais, não se pode negar que os preços são altos e pressionam constantemente a inflação.
É isso que obriga os planejadores governamentais a examinarem com mais atenção a necessidade de priorizarem os investimentos não só na infraestrutura logística, mas também na _indústria de bens de consumo corrente e na agricultura de alimentos para o mercado doméstico. É evidente que os investimentos na infraestrutura logística são fundamentais para reduzir o chamado Custo Brasil, elevar a competitividade brasileira e estimular a instalação de fabricantes de máquinas de construção pesada, assim como de componentes e peças.
Por seu lado, a indústria de bens de consumo corrente, em especial aqueles setores cuja demanda é superior à oferta, pode jogar um papel importante se ganhar escala e rebaixar seus custos. Isso não só reduzirá preços, mas também criará demandas de máquinas e equipamentos, e aumentará a oferta de empregos com mais rapidez. Algo idêntico pode ocorrer com a agricultura de alimentos para o mercado doméstico. A necessidade de elevar a produção desse setor, seja através do aumento no número de produtores, seja através da introdução de novas tecnologias que aumentem a produtividade, tem sido demonstrada a cada ano através das pressões inflacionárias sazonais.
Portanto, a ação conjugada sobre esses três setores da economia pode ter efeitos positivos na redução dos custos e preços dos seus produtos, na diminuição dos custos de reprodução da força de trabalho, na redução das pressões inflacionárias e na intensificação das taxas de emprego. Pode permitir uma ação macroeconômica mais eficaz sobre juros, câmbio e inflação, e dar mais clareza sobre os setores estruturais a receberem mais atenção nas políticas de investimentos.
E pode, principalmente, fornecer o tempo necessário para neutralizar ou superar a pregação e a ação política neoliberal. Mesmo porque o crescimento desses três setores econômicos é o que oferece as melhores condições de um efeito positivo imediato não só sobre as grandes massas populares da população, mas também sobre parte considerável da massa da burguesia e, também, da pequena burguesia.
Em outras palavras, a política atual de investimentos terá papel fundamental na conformação da conjuntura política se compreender que a solução dos problemas econômicos continua sendo a questão chave.